|
REGRAS
DE ACENTUAÇÃO GRÁFICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DA
PRIMEIRA ETAPA DO ENSINO FUNDAMENTAL
Kelly Priscilla Lóddo Cezar (PIBIC/CNPq
– Universidade Estadual de Maringá - UEM)
Rita de Cassia Lorga (PIC) – UEM
Prof.ª Dr.ª Geiva Carolina Calsa - UEM
Prof Dr. Edson Carlos Romualdo - UEM
Introdução
A aprendizagem de língua portuguesa, apesar das
medidas educacionais implementadas nas últimas décadas,
continua sendo uma das preocupações dos educadores brasileiros.
Depoimentos de alunos, professores e pesquisadores têm mostrado
o agravamento do desempenho dos alunos do ensino fundamental e médio
nesta disciplina. Segundo os dados do SAEB - Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Básica (INEP, 2002), os alunos vêm
apresentando defasagem cada vez maior entre a série em que se encontram
e os conhecimentos de língua portuguesa que dominam. Conforme esses
documentos, alunos em final de 8a série apresentam conhecimentos
correspondentes à 6a série, enquanto alunos desta série
evidenciam desempenho correspondente aos de 4a série. Entre os
alunos de 8ª série, a dramaticidade da situação
se repete, pois apenas 11% apresentam habilidades de leitura compatíveis
com seu nível de escolarização. A situação
do ensino médio não se mostrou muito diferente desses dados,
pois, de acordo com o Exame Nacional do Ensino Médio – Enem
– realizado em 2003 (Folha de São Paulo, 2003), o rendimento
dos alunos da rede pública foi quase a metade daqueles da rede
privada: os estudantes da rede pública obtiveram média de
37,52 pontos, enquanto os alunos da rede particular de ensino registraram
uma de 70,41 pontos. Os dados deixam evidente a manutenção
das dificuldades encontradas na aprendizagem de língua portuguesa
desde o ensino fundamental até o médio.
O desempenho insatisfatório dos alunos pode ser explicado, entre
outros aspectos, pela ineficiência das metodologias de ensino de
língua portuguesa que vêm sendo utilizadas pelas escolas
(Brasil, 1998; Batista, 1997; Travaglia, 1996). Segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais (Brasil, 1998), o por quê, o para quê
e, principalmente, o como ensinar gramática, ainda são temas
que envolvem grandes lacunas teóricas e práticas. Tais propostas
somadas a alguns trabalhos (Travaglia, 1996; Possenti, 1996; Batista,
1997; Santos e Lonardoni, 2001) que destacam a metacognição
como atividade fundamental da aquisição de conhecimentos
gramaticais, têm ampliado os objetivos do ensino de língua
portuguesa no sentido do pensar crítico e reflexivo dos alunos.
Alguns autores (Travaglia, 1995; Neves, 1990 apud Travaglia, 1995) observam
que a concepção de linguagem, leitura e gramática
adotada por muitos professores fundamenta-se em um método tradicional
de ensino de língua portuguesa. O professor não cede espaço
à atividade de reflexão do aluno em decorrência da
ênfase dada ao método funcional de compreensão e estudo
gramatical de textos. Segundo Zilberman (1982, p. 16), em nossa sociedade
é a escola a “entidade que recebe a incumbência de
ensinar a ler, mas ela tem interpretado esta tarefa de um modo mecânico
e estático”.
Alguns estudos (Calsa, 1997; Macedo, 1994 e Dorneles, 1987) têm
mostrado que o ensino mecânico e fragmentado não traz resultados
satisfatórios para os alunos, pois, a partir deste método,
os alunos deixam de ativar os conhecimentos e procedimentos de solução
de tarefas e passam a utilizar somente informações memorizadas
e não necessariamente compreendidas conceitualmente. Esta conduta
faz com que eles não consigam explicar e justificar as respostas
e estratégias adotadas na resolução das tarefas escolares.
Em pesquisa anterior, Catelão e Calsa (2003) concluíram
que os estudos formais às vezes não são sinônimo
de uma aprendizagem significativa por parte dos alunos, pois eles nem
sempre sabem explicar e justificar suas respostas às atividades
escolares.
Embora a função do ensino formal seja a de enriquecer e
superar os limites dos conhecimentos intuitivos, da forma como tem sido
desenvolvido na escola pode transformar-se em uma mera seqüência
de passos. Quando o assunto é gramática os procedimentos
de resolução podem ser aprendidos e utilizados pelos alunos
como um conjunto de regras sem uma compreensão adequada das funções
e relações existentes entre os conceitos (Catelão
e Calsa, 2003). Segundo a literatura (Baek, 1998; Kaput e West, 1994 e
Zunino, 1995), uma relação de continuidade entre os conhecimentos
intuitivos dos alunos e os ensinados pela escola dependem da superação
desta abordagem simplista e mecânica do ensino de conceitos e procedimentos.
Alguns estudos, como o realizado por Borba (1979), mostram que as crianças
são capazes de utilizar estruturas sintáticas, mesmo antes
de conhecer as regras da língua. Nos primeiros anos do ensino fundamental,
os alunos aprendem os aspectos morfológicos da língua, como
verbo, substantivo e adjetivo, além de estruturar frases, orações
e períodos. Depois começam a adquirir conhecimentos sintáticos,
passando das orações simples para as mais complexas. O ensino
de análise sintática justifica-se desde os primeiros anos
escolares por propiciar construções lingüísticas
mais complexas e com maior poder de comunicação.
Pode-se dizer o mesmo do ensino de fonologia. Segundo Cagliari (2002),
a identificação da tonicidade das palavras e sua acentuação
gráfica dependem do conhecimento fonológico. A acentuação
é considerada um dos conteúdos mais importantes para a escrita
padrão dos vocábulos e são preconizados pelos PCNs
em todas séries do ensino fundamental e médio. De acordo
com os PCNs e a literatura (Cagliari, 2002; Santos, 2002 ), a acentuação
gráfica deve ser abordada integradamente ao conceito de tonicidade
para que não se constitua em um simples conjunto de normas a serem
seguidas pelos alunos. É, dessa forma, contudo, que esse conteúdo
vem sendo abordado nas escolas pelos professores e livros didáticos.
Tanto os dados da literatura quanto os fornecidos pelas pesquisas oficiais
indicam a urgência da implementação de soluções
estruturais e pedagógicas no sistema educacional brasileiro. Tais
reformas dependem necessariamente de uma redefinição da
concepção de linguagem, leitura e gramática utilizada
pela instituição escolar. Sem dúvida, um dos problemas
mais graves na educação escolar é a permanência
da crença por parte de muitos professores de que estão ensinando
conhecimentos de natureza conceitual, e a dificuldade em perceber que
se limitam a ensinar apenas uma informação literal e carente
de significado para os alunos.
Levando em conta as dificuldades da escola na aplicação
de um novo modelo de ensino de gramática, este artigo visa contribuir
para uma melhor compreensão da forma como esses conteúdos
estão sendo abordados pelos livros didáticos da primeira
etapa do ensino fundamental. Para tanto, entre os conteúdos de
gramática abordados nesse grau de ensino selecionou-se a acentuação
gráfica como foco de estudo.
Livros didáticos
O sistema educacional brasileiro sempre esteve atrelado
ao sistema político do país, por este motivo na década
de 60, segundo Berger (1976), com a ascensão dos militares ao poder
a industrialização do país teria que ser construída
em curto prazo. Para tanto, foi introduzida no sistema educacional brasileiro
a Pedagogia Tecnicista. De origem norte-americana, este ensino foi ao
encontro da necessidade de escolaridade rápida e técnica
dos trabalhadores que deveriam qualificar-se como mão-de-obra industrial.
Segundo Ghiraldelli (1991), os objetivos da Pedagogia Tecnicista foram
atingidos com maior precisão por meio dos livros didáticos
que tiveram seu espaço ampliado. Por conta disso, os professores
deixaram de ser a principal fonte do saber e, por pressões políticas
do sistema educacional tinham que basear suas aulas nos modelos fornecidos
pelos livros didáticos. Com este tipo de ensino, a escola deixou
de necessitar um professor de qualidade, e sim, um mero instrutor de sala
de aula. Segundo Munakata (1996 apud Silva, 1998), os livros didáticos
passaram a ser obrigatórios nas escolas após o acordo entre
MEC-Usaid, o que os tornou fonte de lucro certo e rendoso para as editoras.
Para Silva (1996), nesse período se criou a tradição
do livro didático no ensino escolar e a dependência do professor
destes manuais. A fidelidade aos livros didáticos tornou-se uma
tradição do ensino brasileiro, embora sua escolha não
seja realizada pelo professor e sim pelo sistema educacional. O livro
didático tem provocado uma “anemia cognitiva” no professor,
pois de acordo com Silva (1996, p. 12), segui-lo fielmente “vai
alimentando e cristalizando um conjunto de rotinas altamente prejudiciais
ao processo educacional do professorado e do alunado”.
Pode-se dizer que o vínculo e até a dependência dos
professores ao livro didático estão relacionados à
qualidade da formação do professor. Segundo Silva (1996,p.13),
o magistério, enquanto trabalho e profissão,
vem sendo desfigurado e desvalorizado ininterruptamente. A escravidão
ao livro didático faz parte de um conjunto de fatores que empobrecem
as condições para a produção de um ensino
de qualidade.
A superação desta dependência exige
que os professores não fiquem vinculados em um único livro
didático com a preocupação de cumpri-lo até
o fim, e sim utilizar outros materiais de trabalho. Para ele os livros
didáticos devem ser “destinados a informar, orientar e instruir
o processo de aprendizagem” e não impor um tipo de ensino
ao professor (SILVA, 1996, p. 13).
O questionamento e a crítica gerada por pesquisadores aos livros
didáticos estão relacionados à forma como foram lançados
ao ensino. No início da década de 1970 o objetivo principal
da escola não estava relacionado ao ensino dos conteúdos,
mas na rápida formação da classe trabalhadora.
Para Lajolo (1996), os livros didáticos desempenham um papel fundamental
no processo de ensino aprendizagem, pois dentre outros elementos presentes
na escola é o que tem mais influência no processo de ensino.
Para autora, no Brasil o livro didático tem por objetivo principal
determinar os conteúdos e os procedimentos que os professores devem
seguir. Isso ocorre porque o sistema educacional encontra-se escassamente
organizado favorecendo o comércio e a dependência dos livros
didáticos. Lajolo (1996, p. 4) salienta que:
o livro didático é instrumento específico
e importantíssimo de ensino e de aprendizagem formal. Muito embora
não seja o único material de que professores e alunos vão
valer-se no processo de ensino e aprendizagem, ele pode ser decisivo para
a qualidade do aprendizado resultante das atividades escolares.
Segundo a autora, o uso do livro didático deve
ser encaminhado junto à outras políticas educacionais, pois
somente dessa forma a escola terá segurança no desenvolvimento
de um ensino de qualidade. Ressalta que no período de globalização
que a sociedade está vivendo a escola desempenha um papel fundamental
no acesso dos alunos a um conhecimento universal e coletivo.
Lajolo (1996) acredita que ao escolher o livro a ser adotado o professor
deve verificar a qualidade dos conteúdos apresentados, pois nem
sempre a orientação do professor e as referências
condizem com os conteúdos e o método de ensino presente
nos textos e exercícios dos materiais didáticos. Além
disso, a escola deve observar as incoerências dos livros didáticos,
pois eles trazem conceitos errôneos e incompletos.
Apesar disso, autora chama a atenção que mesmo o livro com
conceitos errôneos e incompletos “um mau livro didático”
pode tornar-se um ótimo material para o trabalho de sala de aula,
porque na identificação de um erro conceitual o professor
pode promover um momento de discussão e pesquisa entre os alunos.
Mais importante que a seleção do material didático
é a formação do professor, pois ele deve estar preparado
para identificar os erros conceituais. Na verdade é o professor
que deve transmitir este tipo de segurança para o aluno e não
o autor do livro. Lajolo (1996, p.8) afirma que:
não há livro que seja à prova de
professor: o pior livro pode ficar bom na sala de um bom professor e o
melhor livro desanda na sala de um mau professor. Pois o melhor livro,
[...], é apenas um livro, instrumento auxiliar da aprendizagem.
Nenhum livro didático, por melhor que seja, pode ser utilizado
sem adaptações.
A autora acredita que para obter uma aprendizagem significativa o professor
deve conhecer os saberes cotidianos dos alunos a partir do tema a ser
trabalhado. Eles são fundamentais para a compreensão dos
conhecimentos apresentados nos livros didáticos.
Soares (2001, p. 33) ao realizar um estudo sobre a formação
do professor leitor por meio de uma análise diacrônica de
dois livros didáticos revelou
em todos livros didáticos de um determinado período,
uma certa concepção de professor-leitor, em função
das condições sociais, econômicas, políticas,
educacionais de cada período, e evidenciaria transformações
dessa concepção de um período a outro, acompanhando
as transformações sociais, políticas e educacionais.
De acordo com Soares (2001 apud Romanelli, 1978), a partir
da constituição de 1891 o ensino brasileiro passou a apresentar
um “sistema dual” de ensino, isto é, contemplava a
escola primária e a escola profissional. A primeira era direcionada
à classe dominante e a segunda ao povo. Mesmo com a tentativa de
mudança realizada por alguns representantes da Primeira República,
este sistema permaneceu até a Revolução de 30.
A partir dos anos 60, tanto os materiais didáticos quanto a posição
do professor foram sofrendo alterações. A autora salienta
que com a democratização do ensino a formulação
dos materiais didáticos foram entregues a professores das séries
a que se destinavam. Os formuladores dos materiais didáticos antes
dessa década eram “intelectuais de alta qualificação
científica e educacional” (Soares, 2001, p. 68).
Tonicidade
A capacidade de se comunicar e se expressar por meio da
fala é inerente ao ser humano. A esta capacidade dá-se o
nome de linguagem. Para realizá-la, utiliza-se o sistema denominado
língua. Sabe-se, pelos estudos realizados por Saussure (1990) que
a língua é um fato social. É exterior ao indivíduo,
convencional, pertencente a uma comunidade lingüística. Ao
usá-la individualmente, o falante concretiza, por exclusão,
as possibilidades que ela oferece no ato de fala.
Ao se comunicar, o falante faz uso da estrutura psíquica denominada
por Saussure (1990) de signo lingüístico. Ele é composto
de um conceito, denominado significado, e uma imagem acústica,
o significante. Ambos ocorrem simultaneamente no ato da fala.
A ciência que estuda os sons da fala é a fonética.
Segundo Borba (1975, p. 167), “a fonética estuda os sons
da linguagem articulada humana. Preocupa-se com a parte significante do
signo lingüístico e não com seu conteúdo”.
A fonética estuda, portanto, os sinais físicos da linguagem
humana, articulatórios (fonética articulatória) e
acústicos (fonética acústica).
Há uma segunda ciência que se ocupa, também, com o
estudo dos sons, porém com os sons da língua no seu aspecto
funcional e interpretativo. A ela dá-se o nome de fonologia. Cereja
e Magalhães (1999, p.46) definem esta ciência como sendo:
[...] a parte da gramática que estuda os sons da
língua quanto sua função no sistema de comunicação
lingüística, quanto à sua organização
e classificação. Também cuida dos aspectos relacionados
à divisão silábica, à ortografia e à
acentuação das palavras.
A fonologia preocupa-se com o estudo dos sons que a língua
possibilita ao falante sem ater-se em analisar ou descrever como se realizam
na fala das pessoas, ou como ocorrem nas diversas situações
lingüísticas. Já a fonética procura descrever,
da forma mais aproximada possível, a realidade produzida na fala
levando em consideração as prováveis variações
que possam ocorrer em sua concretização.
Os sinais físicos da fala são os sons – os fonemas
- que podem realizar-se de maneiras variadas. Para Camara Jr (2002, p.
118), o fonema é um “conjunto de articulações
dos órgãos fonadores cujo efeito acústico estrutura
formas lingüísticas e constitui numa enunciação
o mínimo segmento distinto”. Os fonemas são unidades
abstratas mínimas, indivisíveis e distintivas da língua.
São abstratas por serem os tipos ideais de sons constantes do sistema
língua, as possibilidades dos falantes e não sua concretização.
São indivisíveis uma vez que não podem ser separadas
em unidades menores.
Denominados monemas (Martinet, 1974), os fonemas são em número
limitado, mas podem ser combinados ilimitadamente criando infinitas possibilidades
lingüísticas. É graças a este fator que com
um número mínimo de fonemas pode-se fazer as articulações
necessárias para o estabelecimento da comunicação.
Além dos aspectos segmentais da fala (linearidade dos signos lingüísticos),
a comunicação envolve elementos supra-segmentais: os acentos
e tons da língua. Os acentos manifestam-se pela altura, intensidade
e duração de um vocábulo, consideradas suas propriedades
acústicas. Os tons estão relacionados à altura do
som. Apesar da Língua Portuguesa não usar os tons como elementos
diferenciadores do léxico, em alguns casos os aspectos supra-segmentais
são importantes para a distinção e significação
de um vocábulo. São exemplos disso, vocábulos como
sábia/sabiá, fórmula/formula, dúvida/duvida,
nos quais o acento é fundamental para a distinção.
Na Língua Portuguesa a tonicidade está vinculada às
origens greco-latinas. A língua latina teve um enriquecimento gramatical
ao entrar em contato com o alfabeto e as regras gramaticais gregas. Contudo,
não incorporou os acentos gráficos gregos como marca de
tonicidade. A gramática latina marca a acentuação
pela quantidade de sílabas. Se esta é breve, o acento recai
na antepenúltima sílaba, sendo a palavra classificada como
proparoxítona. Se for longa é sobre ela mesma que permanece
o acento, tornando o vocábulo paroxítono.
Em latim não há palavras oxítonas, portanto, todos
os dissílabos são paroxítonos. A sílaba tônica
é sempre a penúltima ou antepenúltima, seguindo as
regras acima descritas. De acordo com Faria (1970), os latinos não
seguiram os moldes de acentuação gráfica grega em
razão de, em língua latina, tais regras serem bastante simples.
As línguas modernas de origem latina seguem, basicamente, as regras
e nomenclaturas herdadas, pelos romanos, dos gregos. Portanto, ao se estudar
tais línguas são encontrados termos já usados pelos
gregos, como acento, acento agudo, acento circunflexo e prosódia,
entre outros. A Língua Portuguesa faz uso, em sua gramática,
de tal nomenclatura.
A definição de sílaba tem sido um dos problemas encontrados
nos estudos fonéticos. Há, entre os estudiosos, diversidade
de critérios para a análise silábica. Drucksilbe
(apud Camara Jr, 1970) define sílaba como sendo a emissão
do ar por impulso, em que cada um corresponde a uma sílaba, dinâmica
ou expiratória. Sievers e Passy (apud Camara Jr, 1970), estabelecem
como sendo a emissão do ar por impulso, na qual cada um deles corresponde
a uma sílaba, dinâmica ou expiatória. Um segundo critério
é o da energia de emissão que, de acordo com os estudiosos
corresponde a maior energia de emissão, ou acento silábico,
durante a articulação de uma sílaba. Por fim, Brücke
(apud Camara Jr, 1970, p. 70) conceitua sílaba a partir de seu
efeito auditivo, isto é, pela variação da perceptibilidade
numa enunciação contínua. Denomina a sílaba
de sonora por observar “que a enunciação, sob o aspecto
acústico, se decompõe espontaneamente em segmentos, ou sílabas,
assinalados por um ponto máximo de perceptibilidade (...)”.
Independente do critério utilizado, a conceituação
de sílaba sempre envolve o ápice silábico que, segundo
Borba (1975), corresponde à tensão máxima a que se
chega ao pronunciá-la. Para o autor, a sílaba se compõe
de “uma tensão crescente e uma tensão decrescente.
A primeira parte da sílaba é crescente até chegar
à tensão máxima [...], a partir da qual começa
a tensão decrescente”. O ápice silábico, normalmente,
é uma vogal. Camara Jr (2002) destaca que a vogal sempre é
o ponto de maior tensão da sílaba. No caso dos ditongos
haverá sempre uma vogal como ápice sendo a outra denominada
semivogal.
Quando formados por mais de uma sílaba, os vocábulos sempre
terão uma delas verbalizadas de forma tônica, aquela pronunciada
de forma mais intensa, em contraponto à sílaba átona,
que é pronunciada de forma mais branda. A sílaba tônica
pode variar de posição nos vocábulos, podendo-se
conceituá-la como sendo a sílaba articulada com maior intensidade
dentro de um vocábulo. De acordo com a posição da
sílaba tônica, o vocábulo pode ser oxítono,
quando possui a última sílaba mais intensa; paroxítono,
quando a tonicidade recai na penúltima sílaba; ou, proparoxítona,
quando a antepenúltima sílaba é pronunciada com maior
intensidade. É importante salientar que há ainda vocábulos
monossílabos tônicos e partículas átonas ligando
os vocábulos na enunciação, como artigos, pronomes
e quase todas as preposições e conjunções.
Identificar a sílaba tônica dos vocábulos formais
é uma das grandes dificuldades encontradas no processo de aprendizagem
escolar, em especial, na fase de alfabetização. Para Cagliari
(2002), tal problema surge principalmente pelo fato de a escola não
apresentar a tonicidade das palavras como uma ocorrência da pronunciação
e não da escrita. O autor exemplifica sua posição
com o vocábulo carro, no qual a tonicidade é identificada
quando somente alguém busca verificar a posição em
que se encontra a sílaba tônica. Segundo Cagliari (2002,
p. 74), a tonicidade é:
uma unidade do sistema rítmico da fala de uma língua
como o português, e se realiza na fala somente em função
do sistema rítmico. Se eu disser uma palavra soletrando as sílabas,
com duração iguais, minha fala não produzira nenhuma
sílaba tônica nem átona. A tonicidade é uma
medida relativa que só ocorre quando, comparando duas sílabas
percebe-se que uma é mais saliente que a outra.
O autor assinala que, durante o processo de alfabetização,
a escola não precisa abordar a diferenciação das
sílabas átonas e tônicas a partir de seu conceito.
Ele acredita que elas devem ser estudadas em conjunto com o ritmo da fala.
Em um estudo sobre o processamento ortográfico Santos (2002, p.
346) observou que indivíduos com dificuldade em identificar a sílaba
tônica das palavras não percebem seus traços supra-segmentais.
Segundo a autora, muitas vezes os sujeitos “sabem que há
um acento em determinada palavra, mas não sabem em que lugar eles
devem colocados nem qual acento correspondente, pois estão recorrendo
à memória visual global da palavra”. Além disso,
percebeu que, ao procurarem a sílaba tônica das palavras,
os indivíduos tendem a separar as sílabas. Com isso os vocábulos
perdem o ritmo e ofuscam sua tonicidade, pois ao serem separados tornam-se
lineares.
De acordo com o autor, no tratamento de distúrbios de leitura e
escrita, o método considerado mais eficaz é o que estimula
os alunos a levantar hipóteses sobre as características
fonológicas da língua. Assim, a identificação
da tonicidade pode ser facilitada por meio do desenvolvimento da consciência
fonológica, em especial, nas séries de educação
infantil e de alfabetização em que o conhecimento formal
está em seu início.
Apresentação e discussão dos resultados
Para analisar o conceito de acentuação gráfica
presentes nos livros didáticos foram estudados os materiais utilizados
pela 2ª, 3ª, e 4ª séries de uma escola pública
de Maringá/PR.
No primeiro ciclo (2ª a 4ª séries), a coleção
didática adotada pela escola foi A Escola é Nossa, de Marcia
Paganini Cavéquia (2004). Esta coleção é dividida
em sete unidades subdividas por sua vez em oito tópicos: momento
de leitura 1, momento de produção escrita, segundo momento
de leitura, produção oral, mais leitura, produção
escrita, pensando sobre a língua; aparece com que letra? ou fazendo
arte. No final do livro aparecem os seguintes tópicos: o Pequeno
dicionário de expressões idiomáticas, o caderno de
atividades escritas e o caderno de ortografia.
A acentuação gráfica – objeto de análise
desse estudo encontra-se nos subtítulos Pensando sobre a língua
e no Caderno de Ortografia. Na presente análise focalizou-se a
forma como os conceitos sobre acentuação gráfica
são abordados nos livros didáticos desconsiderando o enfoque
didático e curricular dado ao tema que não são objeto
de estudo do presente trabalho, embora sejam muito importantes para a
compreensão do processo do processo ensino-aprendizagem.
2ª Série
O livro didático da 2ª série inicia o conteúdo
da acentuação gráfica apresentando o acento agudo
e circunflexo presentes na Língua Portuguesa. Explica que estes
sinais marcam a sílaba tônica das palavras, ou melhor, a
sílaba mais forte dos vocábulos. Mas não aborda o
conceito das regras de acentuação em palavras oxítonas,
paroxítonas e proparoxítonas. O quadro abaixo mostra como
o conteúdo é apresentado aos alunos:
O livro didático
também não explica o porquê da diferença dos
sons abertos e fechados comentados na apresentação do conteúdo.
Mostra apenas que com o acento agudo nas vogais e e o som será
classificado como aberto, e com acento circunflexo nas vogais o som é
considerado fechado. Nesta classificação a acentuação
gráfica ora é determinada pela percepção do
som, ora pela regra gramatical estabelecidas a partir da presença
das nas vogais e e o.
Após está explicação o livro apresenta um
quadro com várias palavras sem acento gráfico e solicita
que os alunos grafem-nas com o acento correspondente. Os outros exercícios
sobre o tema propõe que o aluno pesquise em jornais e revistas
palavras com os acentos gráficos estudados na lição
do dia: circunflexo e agudo.
Ao analisar o caderno final, Caderno de Atividades de Ortografia, verificou-se
que o tema ensinado na Unidade II - acento agudo e circunflexo - não
foi abordado. Temas gramaticais trazidos em outras unidades tiveram maior
ênfase como a diferenciação do uso de sons iguais
com grafia distinta (uso de X e CH, por exemplo) apresentaram uma abordagem
fonética.
A maneira como o conteúdo de acentuação gráfica
é apresentado neste livro didático. Esse tipo de abordagem
do conceito parece não promover uma compreensão adequada
dos conceitos envolvidos pois, embora o livro didático mencione
o conceito de sílaba tônica não o explica mostrando
que todos os vocábulos de Língua Portuguesa apresenta esta
característica mesmo que não seja grafado. Este tipo de
ensino parece enfatizar a memorização visual dos vocábulos
exemplificados e, portanto, enfatiza uma aprendizagem memorística
e não conceitual.
3ª Série
Nesta série os alunos se deparam com um maior detalhamento do tema
ao serem abordados quase todos os tipos de acentuação gráfica.
O tema é apresentado por meio da classificação das
palavras em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas,
presente nas três primeiras unidades do livro. Na unidade I é
focalizado somente no conceito da posição silábica,
já no segundo e no terceiro são focalizadas as regras de
acentuação gráfica.
Na primeira unidade, o livro dedica três laudas a respeito do assunto.
Inicia a apresentação com uma charge de Maurício
de Souza, que embora não tenha uma relação direta
com o tema da acentuação gráfica foi utilizado como
pretexto para transmitir o conteúdo.
Após
a apresentação da charge é solicitado ao aluno que
leia em voz alta as seguintes palavras Horas, Você, Contente, Página
e é perguntado se todas são pronunciadas da mesma forma.
A resposta correta, de acordo com a orientação ao professor,
é de que em cada palavra uma das sílabas é pronunciada
com mais intensidade. O livro faz corresponder esta intensidade com o
conceito de sílaba tônica e orienta o professor a promover
uma discussão em sala para que os alunos cheguem ao conceito de
sílaba tônica em conjunto.
Todos os outros exercícios propostos pelo livro didático
solicitam a identificação da posição em que
se encontra a sílaba mais forte das palavras. Antes de encerrar
o tema o livro apresenta um quadro no qual chama a atenção
do aluno para a importância do aprendizado da identificação
da sílaba tônica, pois, na unidade seguinte o conteúdo
será utilizado para o estudo das regras de acentuação
gráfica.
Na unidade
seguinte - segunda unidade, o tema da acentuação gráfica
aparece no tópico Pensando sobre a Língua. Após introduzir
o tema Acentuação é apresentada a classificação
das palavras quanto à posição da sílaba tônica
(oxítonas, paroxítonas ou proparoxítonas) retomando
ainda que implicitamente o assunto na unidade anterior.
Depois apresenta um quadro no qual vários vocábulos aparecem
com e sem acento gráfico com o intuito de fazer com que o aluno
perceba que todas as palavras da Língua Portuguesa possuem acento
tônico, mas que nem todas possuem sua marca gráfica. Na terceira
Unidade, o livro didático mostra a importância do estudo
das regras para o aluno grafar corretamente as palavras. Antes de introduzir
a regra de acentuação dos monossílabos, diferencia
os monossílabos átonos e tônicos e reafirma a necessidade
do aluno aprender à importância da tonicidade, mas não
aborda as regras de acentuação integrando-as à identificação
da sílaba tônica. A unidade é encerrada com exercícios
do tipo “complete” em que os alunos são solicitados
a completar as palavras com os acentos corretos.
Nas orientações ao professor percebe-se que as regras de
acentuação dos monossílabos são apresentadas
com base exclusivamente, nas regras gramaticais da Língua Portuguesa:
os monossílabos tônicos serão acentuados quando terminarem
em a, e,o, seguidos ou não de s. O mesmo acontece com a acentuação
das palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas.
Um dos exercícios mais curiosos é o que trata das palavras
paroxítonas no qual são apresentados alguns pares de palavras
como imagem, também, luvas, lilás, com e sem acento gráfico.
Neste exercício é solicitado que explique a ausência
e a presença da acentuação gráfica nos vocábulos
selecionados.
Neste exercício chama a atenção a forma como o professor
é orientado a fazer sua correção. Ele deve basear-se
tão somente nas regras gramaticais de acentuação.
O curioso é que em momento algum a resposta leva em conta a tonicidade
dos vocábulos como apresentada pelo próprio livro didático
na unidade anterior. Pode-se dizer que o livro didático ao trabalhar
o conteúdo de acentuação gráfica isolando-a
da tonicidade deixando de integrar conteúdos que estão estreitamente
vinculados. O livro optou por abordar o conteúdo como um conjunto
de regras de acentuação a serem memorizadas pelos alunos.
Este tipo de abordagem didática pode levar os alunos a uma aprendizagem
simples e memorística dos conteúdos, como estudos anteriores
(Biondo e Calsa, 2004) já mostraram em relação a
outros conteúdos de gramática. Além disso, segundo
Machado (1996), esta forma de ensino não promove a sistematização,
ou seja, tem como “pano de fundo” a aceitação
passiva do aluno quanto à disposição dos livros didáticos.
Outro aspecto importante a ser ressaltado na análise deste livro
didático é a repetição de determinados tipos
de exercícios já utilizados na série anterior –
2ª série - como a pesquisa de palavras acentuadas graficamente
em jornais e revistas. Estes exercícios envolvem somente a identificação
e memorização visual das palavras pesquisadas.
No caderno de exercícios do aluno direcionado à fixação
do conteúdo não aparecem como na 2ª série, exercícios
referentes à tonicidade regras de acentuação. Isto
pode ser considerado surpreendente, pois o livro didático da 3ª
série foi o primeiro a apresentar o tema da acentuação
gráfica com uma abordagem mais completa. Trouxe quase todas as
possibilidades de posição silábica da Língua
Portuguesa e era de se esperar que os exercícios completassem a
visão integrada entre tonicidade e acentuação gráfica.
4ª Série
Nesta série, diferentemente da 2ª e 3ª série,
o livro didático aborda as regras gramaticais somente no Caderno
de atividades de acentuação e ortografia. Neste momento,
elas são apresentadas sem estabelecer relação com
qualquer tipo de texto, mas há um resgate do conceito de sílaba
tônica e da classificação das palavras, conforme sua
posição.
Para retomar o conceito de sílaba tônica o livro apresenta
a palavra Menina solicitando que o aluno pronuncie várias vezes
e perceba qual a sílaba mais forte. Logo após apresenta
o conceito gramatical de sílaba tônica e mostra a classificação
das palavras em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas
estabelecendo relação com sua tonicidade. Neste material
didático não há apresentação do conceito
tradicional das regras de acentuação gráfica.
Logo em seguida, é retomada a diferenciação do acento
agudo e circunflexo e o mesmo modelo de exercício já utilizado
nos livros didáticos das séries anteriores: o quadro de
palavras para completar e a pesquisa em jornais e revistas de palavras
grafadas.
Em seguida são apresentados dois exercícios nos quais são
solicitados aos alunos que selecionem as palavras fornecidas quanto a
sua tonicidade ou pintem a sílaba tônica de cada palavra.
Diferentemente dos dois outros tipos de exercícios apresentados
este facilita a compreensão da acentuação gráfica,
pois por meio de tentativas auditivas os alunos podem classificar as palavras
de acordo com sua sílaba tônica. Dessa forma, podem perceber
o conceito de tonicidade envolvida na tarefa de acentuação
gráfica, como mostra o excerto abaixo:
Ao explicar
a acentuação gráfica das palavras oxítonas
o livro didático apresenta várias palavras como amor, cipó,
calor, funil e José com o intuito de demonstrar que nem todas as
oxítonas são acentuadas e que para acentuá-las corretamente
deve-se observar sua terminação.
Ao expor os exercícios de complete o livro didático acaba
por induzir os alunos à observação da terminação
de cada vocábulo e a partir deste momento a identificação
da sílaba tônica é descartada. Em outro exercício,
é solicitado ao aluno que justifique o porquê da presença
ou ausência do acento gráfico de um conjunto de palavras.
Segundo as orientações fornecidas ao professor são
consideradas corretas somente as respostas que explicam a acentuação
a partir das regras gramaticais, como mostra o exemplo abaixo:
A análise
sugere que o tipo de abordagem realizada pelo livro didático tanto
na exposição do conteúdo quanto nos exercícios
faz com que os alunos tomem como verdade que o acento gráfico aparece
somente em vocábulos nos quais a sílaba é mais forte.
Deixa de dar a ênfase necessária no enunciado do exercício
que ao fato de que o acento solicitado é o gráfico. Não
fica claro para os alunos que independentemente de sua grafia toda palavra
possui uma sílaba tônica, com exceção dos monossílabos
átonos.
Em outro tipo de exercício, o livro traz frases para completar
com uma palavra, entre duas, trazidas ao lado de casa frase: bebe e bebê,
sabia e sabiá, metro e metrô e esta e está. É
dada ênfase à diferença sonora das palavras de forma
que o aluno discrimine a acentuação gráfica sem recorrer
às regras gramaticais. Considera-se que, neste caso, a diferenciação
das palavras é determinada pelo aspecto semântico de cada
vocábulo.
Já com relação a acentuação das palavras
paroxítonas, o conceito apresentado pelo livro não promove
reflexão por parte do aluno, pois não é apresentada
nenhuma explicação e tão somente o seguinte quadro:
São
abordadas as regras de acentuação gráfica sem resgatar
o conceito de sílaba tônica estudado na lição
anterior. Os demais exercícios são apresentados da mesma
forma modificando somente as palavras.
Quanto a acentuação gráfica das palavras proparoxítonas
o livro não apresenta nenhuma definição conceitual
e não estabelece relação com a tonicidade dos vocábulos.
Apenas apresenta regras de acentuação que o aluno deve decorar.
Logo após
este quadro são apresentados dois exercícios; o primeiro
solicita a acentuação gráfica de vocábulos,
e sua transcrição no caderno por ordem alfabética;
o segundo, solicita a busca de palavras proparoxítonas em jornais
e revistas.
Em seu conjunto a análise dos livros didáticos das primeiras
séries do ensino fundamental revelou que a abordagem da acentuação
gráfica na 2ª e na 3ª série é realizada
por etapas. O conceito de sílaba tônica é abordado
em unidade separada das regras de acentuação nas quais este
conceito permanece implícito.
De acordo com os estudos de Calsa (2002), abordar os conteúdos
de forma isolada tende a promover sua reprodução de forma
mecanizada e cristalizada. Isto significa que o conteúdo só
é aprendido no momento em que as atividades estão sendo
realizadas e logo depois são esquecidos.
Nos livros de 4ª série o conteúdo é apresentado
de forma integrada: primeiramente é abordado o conceito de sílaba
tônica e posteriormente são apresentadas as regras de acentuação
gráfica para a resolução dos exercícios. Este
tipo de procedimento parece ser mais adequado ao desenvolvimento do tema,
pois leva o aluno a compreender que quase todas os vocábulos possuem
uma sílaba tônica e que somente alguns são grafados.
Em outras palavras, esta organização do conteúdo
parece abordar o tema da acentuação gráfica como
um campo conceitual que envolve outros conceitos como a tonicidade, e
não se trata de um conceito isolado. Esta abordagem fornece aos
alunos elementos que lhes permitem o tema de forma a integrar os conceitos
envolvidos possibilitando, assim, uma aprendizagem significativa.
Considerações
finais
O presente artigo tem como objetivo investigar os conceitos e procedimentos
utilizados pelos livros didáticos de Língua Portuguesa no
ensino de gramática da primeira etapa do ensino fundamental, em
particular, em relação ao conteúdo de acentuação
gráfica. Para tanto, uma das atividades realizadas na pesquisa
foi a análise dos livros didáticos utilizados pelos alunos
do ensino fundamental de uma escola pública da cidade de Maringá/PR.
Os dados revelaram que nos manuais didáticos de 2ª e 3ª
série a apresentação do conteúdo da acentuação
gráfica é isolada da classificação dos vocábulos
quanto à posição de sua tonicidade. No material da
2ª série a acentuação gráfica é
subdividida em acento agudo e circunflexo fornecendo aos alunos as regras
pelas quais as palavras são classificadas sem apresentar o porquê
da sua acentuação. No material da 3ª série percebeu-se
que o conteúdo de gramática é apresentado por meio
de textos. O objetivo do material didático, neste caso, é
somente o de aproveitar os vocábulos do texto para exemplificação
e treinamento da tarefa de identificação da sílaba
tônica.
Diferentemente das demais séries, o livro didático da 4ª
série apresenta o conteúdo no tópico concernente
ao ensino de ortografia. Retoma a importância da sílaba tônica
e traz exercícios que promovem a reflexão do aluno quanto
a posição da tonicidade dos vocábulos independente
da acentuação gráfica, sob os quais se enquadram
nas regras ortográficas. Mas, esta forma de apresentação
do conteúdo se contradiz no momento em que são expostas
as regras gramáticas dos vocábulos. Nesta exposição
o livro didático desconsidera totalmente a sílaba mais forte
e a acentuação gráfica das palavras é justificada
tão somente pelas regras.
Nos três livros didáticos investigados constatou-se que a
classificação das palavras da Língua Portuguesa (oxítona,
paroxítona e proparoxítona) é determinada somente
pela posição da sílaba tônica, mas quando as
regras ortográficas são apresentadas a identificação
da sílaba tônica não é levada em conta.
A análise dos livros didáticos da primeira etapa do ensino
fundamental torna evidente a necessidade de reorganização
conceitual e didática desses materiais. Os dados sugerem que o
conteúdo de acentuação gráfica é apresentado
a partir de uma abordagem pedagógica tecnicista. Ou seja, embora,
as orientações ao professor e as referências bibliográficas
desses livros didáticos apresentem propostas de ensino inovadoras
baseadas nos PCNs observou-se que a apresentação do conteúdo
e os exercícios de acentuação gráfica vêm
sendo trabalhados de forma isolada e cristalizada sem promover a reflexão
por parte dos alunos. Neste momento, essas propostas de ensino e as novas
teorias lingüísticas são descartadas pelos materiais
didáticos.
Referências
ARNAY, J.
e RODRIGO, M. J. Conhecimento cotidiano, escolar e científico:
representação e mudança. 2a edição.
São Paulo: Editora Ática, 1999.
BORBA, F. da S. Introdução aos estudos lingüísticos.
4. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1975.
CAGLIARI. L.C. Alfabetização & Lingüística.
10. ed. São Paulo: Scipione, 2002. p. 86-93.
CALSA, G. C. Intervenção psicopedagógica e problemas
aritméticos no ensino fundamental. Campinas: Unicamp (tese de doutorado),
2002.
CAMARA JUNIOR, J. M. Princípios de lingüística geral.:
como introdução aos estudos superiores de língua
portuguesa. 6. ed. Rio de Janeiro: Padrão – Livraria Editora.,
1980.
_____. Dicionário de lingüística e gramática.11.
ed. Petrópolis: Vozes, 1984a, Pp.70-1.
_____. Estrutura da língua portuguesa. 14. ed. Petrópolis:
Vozes, 1984b
_____. Problemas de lingüística descritiva. 18. ed. Petrópolis:
Vozes, 2000.
_____.Manual de expressão oral & escrita. 22. ed. Petrópolis:
Vozes, 2003.
_____.Para o estudo da fonêmica portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro:
Padrão, 1977.
CAVÉQUIA, M.P. A escola é nossa. 1ª ed. São
Paulo: Scipione, 2004.
CEREJA. R. W; MAGALHÃES. T. C. Gramática reflexiva. 1ª
ed. São Paulo: Atual, 1999, p. 66-67.
CUNHA. C.; CINTRA. L. F. L. Nova gramática do português contemporâneo.
3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
FIORIN. J, L. Introdução à lingüística.
1. ed. São Paulo: Contexto, 2003, p. 33-35.
KUCERA.I.M. et al. Idéias em contexto. 2. ed. São Paulo:
Brasil, 1997, p. 42, 54.
MARTINET. A. A lingüística sincrônica. Trad: Lilian
Arantes. SE. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1974, p. 111 – 118.
NÓBREGA, V. L. Metodologia do latim. 2. ed. Rio de Janeiro: Acadêmica,
1962, p.218
POZZO, J.I. A aprendizagem e o ensino de fatos e conceitos. In: COLL,
C. Os conteúdos na reforma: ensino e aprendizagem de conceitos,
procedimentos e atitudes. Porto Alegre: Saraiva, 1998.
SANTOS, M.T.M.; NAVAS, A.L.G.P. Distúrbios de Leitura e Escrita.
1. ed. São Paulo: Manole, 2002. p. 331-357.
SAUSSURE, F. Curso de Lingüística geral. Trad: Antônio
Chelini, José P. Paes e Izidoro Blinkstein. 6. ed. São Paulo:
Cultrix,1990. p. 42-74.
SILVEIRA, R.C.P. Estudos de fonética do idioma português.
2. ed. São Paulo: Cortez, 1988. p. 97-107. |
|