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A
TUTORIA E O ACOMPANHAMENTO DO ESTÁGIO CURRICULAR NO PROCESSO DE FORMAÇÃO
INCIAL DE PROFESSORES?
Edna Falcão Dutra[ednadutra@mail.ufsm.br]
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
Andreia Meneghetti[andreia@colvero.com] - UFSM
Liane Batistela Kist[lianekist@yahoo.com.br] - UFSM
Eduardo A. Terrazzan[eduterra@smail.ufsm.br] - UFSM
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência
de tutoria realizada no âmbito de Grupos de Trabalho (GT) formados
por professores regentes de turmas e alunos de Licenciatura em Estágio
Curricular. Esta investigação está em andamento e
centra-se num GT vinculado à disciplina de Português no Ensino
Fundamental em que os participantes mantêm encontros periódicos
e elaboram planejamentos, diários, pareceres e atas. Mediante o
acompanhamento das atividades do GT, percebemos a superação
de algumas dificuldades iniciais e a suspeita de algumas perspectivas
positivas. Os materiais produzidos pelo GT foram analisados a fim de verificar
os limites e as possibilidades da ação tutorial como forma
de acompanhamento e co-responsabilidade da unidade escolar pelo estágio
curricular.
INTRODUÇÃO
No cenário da educação nacional,
vivemos hoje um período de adaptação não só
em relação aos novos currículos como também
à carga horária dos cursos de Formação Inicial
de Professores da Educação Básica que, em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena,
deve ser efetivada, conforme RESOLUÇÂO CNE/CP 2, de 19 de
FEVEREIRO DE 2002, mediante a integralização de, no mínimo,
2800 (duas mil e oitocentas) horas, sendo destas 400(quatrocentas) horas
de Estágio Curricular (EC).
O aumento da carga horária de EC sem dúvida é positivo
na medida em que amplia o contato do futuro professor com seu futuro campo
de trabalho. No entanto, além de gerar controvérsias no
interior das instituições formadoras especialmente da parte
dos que atuam com os conhecimentos específicos de cada área
que negligenciam a importância do EC, tem promovido problemas de
ordem operacional. São mudanças que vão desde o aumento
das parcerias com as Escolas de Educação Básica (EEB)
no sentido de atender à demanda de vagas para o EC, conforme o
número de alunos dos cursos de Licenciatura, até a definição
formal do funcionamento desse processo.
No que diz respeito à relação Universidade-Escola,
infelizmente é possível afirmar que não temos forte
tradição de ações estabilizadas e realizadas
de forma conjunta e coordenada no campo da formação de professores.
Segundo TERRAZAN (2003)
Tradicionalmente, a formação de professores, sobretudo para
o Ensino Médio, é vista como de exclusiva responsabilidade
das IES, que atuam como agências formadoras, sendo que as escolas
costumam esperar que os docentes destas IES, supervisores de estágio,
“visitem” os estagiários em sala de aula, procedente
às correções necessárias para o bom andamento
de suas aulas. À escola e ao professor titular da turma de estágio
cabe apenas entregar ao estagiário a lista de regras básicas
a serem seguidas e esperar pelo seu bom desempenho. Com isso, a escola
formalmente se “desobriga” em relação à
formação daqueles que serão seus prováveis
futuros profissionais. (p.78)
Assim, no que diz respeito ao compartilhamento das responsabilidades
de funcionamento e acompanhamento do EC, temos estudado a possibilidade
de práticas tutoriais a partir da organização de
Grupos de Trabalho (GT) formados por professores da educação
básica que recebem estagiários, professores do ensino superior
responsáveis pelo estágio e alunos de cursos de Licenciatura
em EC que possam proporcionar um espaço para vivenciar uma experiência
de acompanhamento compartilhado entre Agência Formadora e Unidade
Escolar para o desenvolvimento do Estágio Curricular. O que acreditamos
ser um caminho possível para que o Estágio possa proporcionar
aos futuros professores as dimensões concretas de seu futuro campo
profissional, incluindo, principalmente, a realidade do campo escolar.
Essa proposta, na verdade, tem sido desenvolvida em uma das ações
do projeto “Condicionantes para Tutoria Escolar no Estágio
Curricular Supervisionado: Articulando Formação Inicial
e Continuada de Professores” (COTESC), cujo foco é estudar
as atuais formas de interação Universidade-Escola buscando
obter informações que, uma vez analisadas, possam subsidiar
a proposição de parâmetros para a criação
de mecanismos flexíveis, porém estáveis para a realização
dos Estágios Curriculares na Formação Inicial de
Professores, de forma mais adequada e consistente com os resultados das
pesquisas, dos estudos e das normativas legais no campo da Educação,
do Ensino e da Formação de Professores.
PRESSUPOSTOS
O vocábulo tutor vem do latim tutore, indivíduo
legalmente encarregado de tutelar alguém. Protetor, defensor. Indivíduo
designado como professor de outros alunos, em formas alternativas de ensino.
Assim, quando nos referimos à ação tutorial, ao tutor
propriamente dito, estamos, na verdade, conferindo ao professor regente
de classe o papel de protetor, mas, sobretudo de guia, de alguém
que, baseado em sua própria experiência docente, possa amparar
o estagiário em sua primeira experiência profissional.
Além disso, estamos também nos referindo à possibilidade
de a tutoria
? Proporcionar ao estagiário uma formação
integral, facilitando-lhe seu autoconhecimento, sua adaptação
e a tomada de decisões refletida;
? Ajudar o estagiário a superar as dificuldades
relacionadas com os hábitos, com as metodologias de estudo e com
a gestão das atividades escolares;
? Sanar dúvidas, partilhar angústias e inseguranças
do estagiário e, além disso, sugerir encaminhamentos metodológicos.
No que diz respeito às normativas legais relativas
ao Estágio, estamos levando em consideração não
só o PARECER CNE/CP 27/2001, item 3.6. alínea c, como também
a RESOLUÇÂO CNE/CP 1, de 18 de FEVEREIRO DE 2002
PARECER CNE/CP 27/2001, item 3.6. alínea c
“No estágio curricular supervisionado a ser
feito nas escolas de educação básica. O estágio
obrigatório definido por lei deve ser vivenciado durante o curso
de formação e com tempo suficiente para abordar as diferentes
dimensões da atuação profissional. Deve, de acordo
com o projeto pedagógico próprio, se desenvolver a partir
do início da segunda metade do curso, reservando-se um período
final para a docência compartilhada, sob a supervisão da
escola de formação, preferencialmente na condição
de assistente de professores experientes. Para tanto, é preciso
que exista um projeto de estágio planejado e avaliado conjuntamente
pela escola de formação inicial e as escolas campos de estágio,
com objetivos e tarefas claras e que as duas instituições
assumam responsabilidades e se auxiliem mutuamente, o que pressupõe
relações formais entre instituições de ensino
e unidades dos sistemas de ensino. Esses “tempos na escola”
devem ser diferentes segundo os objetivos de cada momento da formação.
Sendo assim, o estágio não pode ficar sob a responsabilidade
de um único professor da escola de formação, mas
envolve necessariamente uma atuação coletiva de formadores”.
(grifo nosso)
RESOLUÇÃO CNE/CP 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2002
Art 7º A organização institucional
da formação de professores, a serviço do desenvolvimento
de competências, levará em conta que:
IV. as instituições de formação
trabalharão em interação sistemática com as
escolas de educação básica, desenvolvendo projetos
de formação compartilhados;
Art 13º Em tempo e espaço curricular específico,
a coordenação da dimensão prática transcenderá
o estágio e terá como finalidade promover a articulação
das diferentes práticas, numa perspectiva interdisciplinar:
§ 3 O estágio obrigatório a ser realizado
em escola de educação básica, e respeitado o regime
de colaboração entre os sistemas de ensino, deve ter início
na segunda metade do curso e ser avaliado conjuntamente pela escola formadora
e a escola campo de estágio;
Nesse sentido, o que propomos, através da formação
dos GT, é um acompanhamento declarado do professor titular da turma,
auxiliando o estagiário nas suas tarefas docentes, compartilhando
a responsabilidade de avaliação do EC com as IES e, sobretudo,
contribuindo com a Formação Inicial.
Além disso, acreditamos que a ação tutorial é
indispensável ao processo de formação dos professores
iniciantes, na medida em que se constitui como um elo entre a Universidade
e a Escola, como uma forma de superar as lacunas existentes entre o mundo
acadêmico e o profissional bem como a desconexão entre o
discurso acadêmico e profissional, como afirma GARCIA (1999).
FUNCIONAMENTO DOS GRUPOS DE TRABALHO
Para a investigação do trabalho desenvolvido
no GT, definimos que os participantes deveriam ter encontros periódicos,
na própria escola onde está ocorrendo o Estágio,
realizados quinzenalmente entre os tutores e os estagiários e mensalmente
com o grupo todo. Além disso, deveriam elaborar os seguintes instrumentos
de coleta de informações:
I. Planejamentos das atividades a serem desenvolvidas ao longo das aulas
do estagiário.
II. Diário da prática pedagógica feito pelo aluno
em estágio, que tem por objetivo relatar e interpretar todos os
acontecimentos ocorridos na sala de aula.
III. Parecer mensal elaborado pelo aluno em estágio,
no qual conste a sua percepção sobre o trabalho de tutoria
ou um levantamento dos pontos positivos e negativos da ação
tutorial.
IV. Parecer mensal elaborado pelo tutor no qual constem
as mesmas informações do parecer do estagiário.
V. Ata dos encontros periódicos, elaborada pelo
estagiário em conjunto com o professor responsável pela
turma
VI. Parecer mensal elaborado pelo coordenador do GT, membro
do projeto COTESC e, usualmente também professor orientador de
Estágio, no qual constem informações semelhantes
as do parecer do estagiário e do professor-tutor.
GRUPOS DE TRABALHO ORGANIZADOS PELO PROJETO
A formação dos GT, no projeto COTESC, ocorreu
numa etapa posterior à realização da análise
de documentos (Projeto Político-Pedagógico, Regimento, Planos
de Estudo, Calendário Escolar) das 18 Escolas da rede estadual
de Ensino Médio do município de Santa Maria/RS; posterior
à aplicação de questionários e entrevistas
à equipe diretiva dessas escolas e à aplicação
de questionários aos professores.
Assim, o trabalho com os GT teve seu início no 2º semestre
de 2004 com a formação de 03 (três) grupos: 02 na
Escola Manoel Ribas (Filosofia e Física) e 01 no NEEJA “Mário
Quintana” (Português). Estes 03 grupos encerraram suas atividades
em dezembro de 2004 em função do término do período
de EC dos estagiários. No 1º semestre de 2005, o trabalho
teve continuidade com a formação de mais 07 (sete) grupos:
02 na Escola Érico Veríssimo (Português), 02 na Escola
Margarida Lopes (Educação Física) e 03 na Escola
José Otão (Educação Física) conforme
demonstram as tabelas a seguir.
2º SEMESTRE DE 2004
DISCIPLINA |
PARES |
TUTOR |
ESTÁGIÁRIO |
ORIENTADOR |
ESCOLA |
FILOSOFIA |
1 |
KÁTIA |
ROBSON |
MARTA |
MANOEL RIBAS |
PORTUGUÊS |
1 |
MARIA CRISTINA |
ANDRÉIA
(GT1)
|
LIANE |
NEEJA |
FÍSICA |
1 |
SÔNIA |
JAQUELINE |
EDUARDO |
MANOEL RIBAS |
1º SEMESTRE
DE 2005
DISCIPLINA |
PARES |
TUTOR |
ESTAGIÁRIO |
ORIENTADOR |
ESCOLA |
EDUCAÇÃO FÍSICA |
5 |
ANDRÉIA |
DANIELE |
VIVIANE |
MARGARIDA LOPES |
VERIDIANE |
DENISE |
JULIANA |
JOSÉ OTÃO |
PATRÍCIA |
MARCO |
PORTUGUÊS |
2 |
ZULEICA |
RENATA
(GT2) |
LIANE |
ÉRICO VERÍSSIMO |
DANIELA
(GT3) |
No 2º
semestre de 2004 os GT funcionaram em caráter piloto, não
só em função de que precisávamos dessa experiência
inicial como também da ocorrência de problemas encontrados
ao longo da formação, já que sabemos que o EC tem
esbarrado com uma série de dificuldades. Entre eles os mais relevantes
foram a falta de esclarecimento e entendimento das EEB acerca do EC, a
escassa integração entre Escola e Universidade e o não
comprometimento das Escolas e dos professores regente das turmas onde
ocorrem os Estágios. Em função dessas circunstâncias,
a formação dos GT, na prática, foi muitas vezes inviabilizada,
pois ela previa a participação ativa do professor-regente
de classe como tutor e do aluno estagiário. Muitas vezes tivemos
que refazer a formação dos pares, o que fez com que retornássemos
ao estágio inicial dos trabalhos.
No 1º semestre de 2005, a implementação dos GT ocorreu
de forma mais tranqüila. Os problemas que surgiram giraram em torno
de conflitos de horários entre os professores responsáveis
pelas turmas e os estagiários. O que pudemos equalizar através
de alguns ajustes de horários.
RECORTE E
PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA ESTE TRABALHO
Apesar de
terem sido formados GT em outras áreas como a Física, a
Filosofia e a Educação Física, neste trabalho relataremos
o acompanhamento dos GT de Língua Portuguesa formados por alunos
do curso de Letras Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa
Maria em estágio pré-profissional no 2º semestre letivo
de 2004 (GT1) e no 1º semestre letivo de 2005 (GT2 e GT3), pela professora
orientadora do estágio e membro do projeto e pelas professoras
atuantes nas EEB que receberam os estagiários.
Além disso, apresentaremos alguns resultados evidenciados até
o momento a partir da análise dos pareceres dos estagiários,
dos tutores e da Orientadora de Estágio do Curso de Licenciatura
em Língua Portuguesa da UFSM e também membro do projeto.
Somando a isso, relataremos também algumas considerações
relativas a aspectos importantes (e mesmo imprescindíveis) para
a efetivação do trabalho de GT e da própria tutoria
bem como nossas perspectivas de continuidade.
INSTRUMENTOS III, IV E VI
GT |
PARECERES DOS ESTAGIÁRIOS |
GT 01 |
O Grupo de Trabalho do Neeja
Mario Quintana funcionou todas as segundas-feiras pela manhã.
Nos reuníamos, a professora C. e eu (A. M.) sempre no horário
das 08:00 às 09:30 sem a presença dos alunos. Nesses encontros
discutíamos, principalmente, sobre a melhor maneira de ensinar
aos alunos a Língua Portuguesa.
Percebi que a professora não
era receptiva a novas idéias, ela priorizava a gramática e não
aceitava outro modo de ensino que não baseado nesse compêndio
de normas e regras. Assim, entramos muitas vezes em conflito pois
eu defendia minhas idéias e ela mantinha as suas. Devido a essas
discussões, a professora chegou a dizer que os alunos da UFSM
(Letras) não saem preparados da universidade, não sabem a realidade
da educação (escola pública de periferia).
Outro fator que contribuiu para um baixo nível
de aproveitamento deste trabalho foi que a referida professora
não estava presente, não participava da aula quando os alunos
chegavam e, além disso, acredito que as outras professoras comentavam
com ela sobre o meu trabalho, assim ela avaliou o meu trabalho
segundo a observação das outras pessoas e não pelo que ela própria
observou. O GT valeu pela experiência de conhecimento de um ensino
diferenciado (de jovens e adultos) o que contribuiu para minha
formação. Também tive a oportunidade de conhecer este ambiente
de trabalho, observar o comportamento dos outros professores,
isso foi muito importante principalmente para que eu não cometa
certos “erros” comuns perpetuados por alguns participantes dessa
classe, hoje em dia tão visados. |
GT 02 |
A presença e a orientação da
professora regente da turma foi muito significativa durante o
estágio sempre procurando saber como estava a turma, os conteúdos,
o comportamento, porém a professora procurou mais escutar do que
orientar não procurando interferir no andamento das atividades.
A professora mostrou-se bastante receptivas em orientar possíveis
problemas, mas também não mostrou-se muito interessada em “aprender”
coisas novas ou novas metodologias.No geral foi uma boa orientadora,
receptiva, humana e aberta a ajudar. |
GT 03 |
O estágio sob tutoria da professora
Z. P. foi muito bom, pois pude dividir com ela as minhas dúvidas
e inseguranças acerca das atividades que desenvolvi e sobre os
problemas que encontrei em sala de aula. A professora orientadora
do estágio não tinha condições humanas de estar presente em todos
os momentos que surgiram complicações no estágio. Assim a tutoria,
por estar sempre presente na escola, conseguiu suprir as minhas
inseguranças quanto às aulas que planejava, respondia aos meus
questionamentos acerca de algumas atividades que encontrei ao
aplicar essas atividades. Isso por, com sua experiência, poder
reconhecer as ações e reações dos alunos frente às aulas dadas
e planejadas. Gostei muito dessa experiência do GT. |
GT |
PARECERES DOS TUTORES |
GT 01 |
A aluna A. exerceu docência no
Ensino Médio durante quatro meses neste Núcleo de Educação de
Jovens e Adultos. Em relação aos aspectos formais, apresentou
um bom desempenho, pois era pontual, assídua, responsável e relacionava-se
bem com os alunos desenvolvendo o conteúdo programático do Componente
Curricular – Língua Portuguesa.
Como era de se esperar, dentro
da normalidade, a estagiária Andréia apresenta limitações que
com o passar do tempo, na medida em que for exercitando a docência
serão sanadas.
Achamos válida esta experiência,
pois nos proporcionou trocas, oportunidades de mostrar parte da
realidade da Escola Pública enriquecendo, assim, o trabalho desenvolvido. |
GT 02 |
Os encontros periódicos para
o trabalho de acompanhamento do Estágio e a assistência às aulas
da estagiária R. M., além de necessárias foram plenamente satisfatórias
pois houve troca de experiências onde ambas as partes foram beneficiadas. |
GT 03 |
Embora nem todas as reuniões
tenham acontecido como se programou ou se desejasse os encontros
periódicos para o trabalho de acompanhamento do estágio foram
satisfatórios, houve trocas de experiências, deixando um saldo
positivo para as duas partes: professor/aluno.
Numa escala de 0 a 10, nota dez
para esta idéia. |
GT |
PARECERES DA ORIENTADORA |
GT 01 |
O trabalho de Tutoria no NEEJA
Mário Quintana pôde proporcionar à estagiária uma aproximação
com seu futuro campo profissional. Apesar das inúmeras discussões
que ocorreram entre elas, penso que a estagiária pôde perceber
o quão sensíveis são as relações entre Universidade-Escola.
Em nenhum momento, nem eu nem
a estagiária demonstramos superioridade em relação à professora
ou à escola, porém, muitas
vezes me pareceu que a professora procurava colocar-se numa situação
superior a nossa fazendo com que percebêssemos que não éramos
melhores do que ela.
Apesar de entender suas limitações
e seus descontentamentos com a carreira do magistério, creio que
faltou a ela um pouco de sensibilidade para trabalhar com profissionais
iniciantes (estagiários). A professora não teve paciência para
administrar as incertezas e os anseios da estagiária e, além disso,
demonstrou-se extremamente ofendida em relação às críticas da
estagiária quanto ao material didático utilizado pela escola.
Acredito, porém, que o conflito
de concepções entre a estagiária e a professora e os demais acontecimentos
que se desenvolveram ao longo dos encontros do GT não foram negativos
para o funcionamento do GT, mas reafirmaram que para que a escola
contribua efetivamente com a Formação Inicial, precisamos de situações
que discutam esses aspectos, o que me faz ver
mais uma vez a importância da Formação Continuada também
voltada e preocupada com a Formação Inicial |
GT 02 |
Muitos dos estagiários acreditam
que o Estágio só diz respeito às aulas que irão ministrar nas
escolas. Assim, o acompanhamento feito à estagiária através da
tutoria da professora Z. P. possibilitou o contato da estagiária
com seu futuro campo profissional, incluindo o dia-a-dia da escola,
as atividades extra-classe, os temores e os descontentamentos
dos professores.
Ao apresentar a proposta do GT,
a estagiária imaginou que a professora-tutora iria fazer intervenções
e participar das aulas, mas como não foi bem isso que aconteceu,
acredito que a estagiária tenha se sentido um pouco frustrada
com a tutoria.
A professora-tutora parece ter
gostado de fazer o acompanhamento, mas ainda se sentia insegura
em relação a sugestões e comentários. Em muitas situações, ao
invés de fazer comentários sobre as aulas da estagiária diretamente
à estagiária, ela os fazia a mim.
Isso possibilitou a minha compreensão
e até aceitação de que os professores que atuam nas escolas não
se sentem à vontade para interferir na Formação Inicial. Creio
que não seja nem uma questão de omissão, mas sim de despreparo
para contribuir com a Formação Inicial.
Além disso, penso que ainda é
muito forte o respeito à hierarquia, ou seja,
como a aluna era “teoricamente minha”, a professora não
fazia interferências junto à estagiária, mas sim junto a mim,
alegando que eu é que deveria falar com a estagiária. |
GT 03 |
Creio que o trabalho de acompanhamento
da Professora Z. P. não tenha sido tão bom quanto esperávamos.
Apesar de o GT oportunizar uma
aproximação do professor e da escola com o estagiário, proporcionando
uma interação entre eles, percebi que de certa forma a professora
desconstruiu um pouco do incentivo e da orientação que damos aos
estagiários.
Ao longo das orientações sempre
procuramos incentivar o aluno a refletir sobre seus atos. No meu
caso, em particular, utilizo o diário de bordo e questiono o aluno
quanto aos acontecimentos relatados por ele no sentido de buscar
respostas para os planejamentos que não puderam ser efetivados.
A professora Z. P., no entanto,
simplesmente procurou tranqüilizar a estagiária afirmando que
tudo o que ela fazia estava bom, deixando-a livre para agir da
forma que achasse melhor, já que as coisas são assim mesmo: os
alunos são indisciplinados e não aprendem muito.
Além disso, seus comentários
só diziam respeito ao comportamento da classe, sugerindo, na maioria
das vezes, que a estagiária procurasse
a vice-direção em caso de problemas com alunos e que não ficasse
preocupada com nada.
Mais uma vez pude perceber que
para que os professores regentes possam exercer a função de tutores,
precisamos de ações conjuntas entre Universidade-Escola que articulem
a Formação Inicial e a Formação Continuada de Professores de modo
que os professores regentes possam contribuir com seus futuros
colegas. |
ALGUNS RESULTADOS
EVIDENCIADOS ATÉ O MOMENTO
Quanto aos
Pareceres dos Estagiários
A experiência
de tutoria, proporcionada pelos GT, tem sido avaliada positivamente por
alguns estagiários, sobretudo pelo fato de poderem contar com os
professores regentes para sanar dúvidas, partilhar angústias
e inseguranças e também receber sugestões de encaminhamentos
para a sala de aula e para as práticas escolares como um todo.
Os estagiários também consideraram positiva a aproximação
que puderam ter, através dos GT, dos professores, do seu ambiente
de trabalho, das tarefas docentes que transcendem a sala de aula e de
suas condições de trabalho.
Para um dos estagiários, no entanto, a experiência não
foi tão satisfatória em função de alguns conflitos
de idéias gerados dentro do grupo. Estagiário e professor
apresentavam concepções diferenciadas quanto ao de Ensino
de Língua Portuguesa e não conseguiam chegar a um consenso.
Quanto aos
Pareceres do Professor Tutor
Os tutores
têm se mostrado surpresos ao constatarem a possibilidade real da
sua contribuição com a Formação Inicial dos
futuros colegas professores. Além disso, avaliaram positivamente
a experiência, principalmente pela possibilidade de estabelecer
troca de experiências, sobretudo em relação à
realidade da Escola Pública que, segundo eles, não está
presente nos cursos de Formação de Professores.
Quanto ao
Parecer do Professor Orientador
Para que
se possa consolidar a formação dos GT como forma de acompanhamento
do Estágio, é necessário o acoplamento de atividades
de Formação Continuada para os professores regentes, desde
a preparação para a tutoria até a atualização
didático-pedagógica.
Somando-se a isso, é necessário também que tenhamos
um trabalho integrado entre Agências Formadoras e Unidades Escolares
quanto a concepções diferenciadas de Ensino no sentido de
buscar uma possível equalização entre elas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para termos
um número maior de GT funcionando e também para que eles
possam se estabilizar como forma de acompanhamento e avaliação
do Estágio, é indispensável que haja maior disponibilidade
de horários por parte de todos os envolvidos, sobretudo tutor (unidade
escolar) e estagiário (agência formada).
Ao analisar as informações dos pareceres dos tutores, percebemos
que seus comentários não fornecem muitos subsídios
para nossa investigação. Assim, acreditamos ser necessária
a construção de novos instrumentos de coleta de informações
e/ou roteiros para esses que já estão sendo usados de forma
que possam orientar os registros e os possíveis pontos de reflexão
dos participantes.
Somando-se a isso, cremos que a participação mais ativa
dos professores regentes, principalmente em relação ao fornecimento
de informações que compõem os instrumentos utilizados
para a coleta de dados das atividades desenvolvidas nos GT seja indispensável
para os resultados da nossa pesquisa. O único instrumento que nos
fornece a opinião do tutor é o parecer, cujas informações
são extremamente concisas.
PERSPECTIVAS
DE CONTINUIDADE
Para o 2º
Semestre letivo de 2005, pretendemos formar GT nas áreas de Biologia,
Filosofia, Física e Língua Portuguesa. Além disso,
estamos organizando oficinas para os componentes dos GT formados até
o momento com o intuito não só de retornar os resultados
do projeto como também de discutir a importância da articulação
entre Formação Inicial e Formação Continuada
de Professores.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ARNAIZ, Pere:
(2002). Fundamentação da tutoria. In: Tutoria: com a palavra
o aluno. Porto Alegre: Artmed.
BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CP nº
27/2001. Disponível em: <http:// www.mec.gov.br/cne/pdf/028.pdf>
Acesso em: 22 mar. 2005.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução
CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002. Disponível em: http://
www.mec.gov.br/cne/pdf/cp012002.pdf> Acesso em: 04 jul. 2005.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução
CNE/CP nº 2, de 19 de fevereiro de 2002. Disponível em: <http://
www.mec.gov.br/cne/pdf/cp022002.pdf> Acesso em: 22 mar. 2005.
GARCIA, Carlos Marcelo: (1999). Formação de Professores
– Para uma mudança educativa. Porto – Portugal: Porto
Editora.
TERRAZZAN, Eduardo A.: (2003). ‘Necessidades e perspectivas para
os novos estágios curriculares na formação de professores:
primeiras aproximações’. In: Formação
docente em Ciências – Memórias e Práticas, Niterói/BR:
EdUFF, p.77 - 91.
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