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WWW.FUNDAMENTOSDALINGUAGEM.UERJ/BATE_PAPO

Angela Sobreira dos Santos Cêa - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
Cláudio Antônio Rodrigues - UERJ
Daniele Câmara da Silva - UERJ
Demétrius Dias da Silva - UERJ
Glayce de Souza Costa - UERJ
José Xavier Filho - - UERJ
Luciana Alves da Silva - UERJ

“O mundo encurta, o tempo se dilui; o ontem vira o agora, o amanhã já está sendo feito, tudo muito rápido”.
Paulo Freire

Os objetivos iniciais desse trabalho foram:
1. Apresentar a linguagem virtual como uma novidade lingüística;
2. Demonstrar a linguagem utilizada nas salas de bate-papo e quem a utiliza;
3. Apontar a praticidade e dinamicidade e a criatividade da linguagem usada neste ambiente.

A linguagem é um leque vivo e dinâmico de modos de expressão. Segundo Pierre Levi (1993, p.16), Os produtores da técnica moderna, longe de se adequarem a um uso instrumental e calculável são importantes fontes de imaginário, entidades que participam plenamente da instituição de mundos percebidos. E, construindo sua originalidade, a Internet ensejou aos seus usuários a criação de uma forma singular de expressão: as formas reduzidas das salas de bate-papo. Segundo o mesmo Pierre Levi (1993, p.19) não é a primeira vez que a aparição de novas tecnologias intelectuais é acompanhada por uma modificação das normas do saber, sendo essa variante lingüística uma forma de comunicação recente, faz-se necessário um estudo mais aprofundado sobre o tema.
A linguagem escrita no atual contexto tem passado por gradativas mudanças, levando em consideração o avanço tecnológico que a sociedade contemporânea tem vivido. A partir do incremento das novas tecnologias, é possível verificar a existência de uma nova “variante lingüística”: a linguagem virtual, ou cibernética.
Profissionais como lingüistas, professores, e até médicos e psiquiatras estão desenvolvendo estudos a fim de verificar se essa linguagem irá ou não influenciar no modo de falar e escrever das pessoas (principalmente adolescentes) diminuindo assim a capacidade de expressão.
A questão da utilização da linguagem virtual deve ser analisada mais profundamente. A discussão principal gira em torno da possível mudança nas formas falada e escrita da língua portuguesa. Porém, devemos refletir sobre os usuários e não-usuários dessa mídia, assim como suas formas de falar e escrever.
De acordo com pesquisas realizadas pelo ibope (publicada em 25/05/2004), o percentual de brasileiros que têm acesso à internet chega a 28%. Outra informação importante é que 45% dos jovens brasileiros, entre 15 e 19 anos, utiliza a internet mesmo que de vez em quando.
Essas informações dão margens a alguns questionamentos importantes, são eles:
- Os outros 72% da população que não tem acesso a internet utilizam a língua portuguesa em sua forma culta?
- Qual é o verdadeiro perfil do usuário?
- Será que todos os usuários da rede utilizam as formas abreviadas de escrita fora do ambiente virtual?

São essas questões, e muitas outras, que tentaremos responder ao longo do nosso trabalho.

AS NOVAS COMUNICAÇÕES MEDIADAS PELO COMPUTADOR

A principal questão levantada pelos críticos da linguagem virtual é a utilização (de forma errada) da “norma padrão” da língua. Se esse for o problema, questionamos sobre a população que não tem acesso a internet, melhor, os que não têm acesso à linguagem alguma.
Os dados ainda são alarmantes. No ano de 2002, de acordo com pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 11,8% da população era de analfabetos, isso quer dizer que 14,6 milhões de pessoas sequer sabiam ler e escrever. Dos considerados analfabetos, 32,1 milhões eram analfabetos funcionais (possuíam menos de quatro anos de estudos completos), e 65,7% dos estudantes com 14 anos de idade não estavam freqüentando a escola. (http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/13042004sintese2003html.shtm)
Entendamos o que é língua, de acordo com Marinésio Gonçalves, professor de língua portuguesa e literatura brasileira:

Entre tantas outras definições possíveis, a língua é entendida como um sistema convencional de signos que permite uma atividade interacional entre sujeitos, e que tem na ortografia um conjunto de regras que define a sua representação escrita, no caso em questão, dentro da chamada norma-padrão. A ortografia não é um elemento natural da língua, mas artificialmente construído e no caso da língua portuguesa falada no Brasil, definido em Lei. O uso das abreviaturas foi debatido em vários momentos como um ataque à língua, quando, na verdade (se é algum ataque) atinge especificamente às regras ortográficas. (http://www.tvebrasil.com.br/observatorio/arquivo/principal_050405.asp)

Então, não podemos afirmar que será a utilização da linguagem cibernética que ira “empobrecer” a língua, tão pouco acabar com ela. Até mesmo porque, a língua simplesmente não se reduz à escrita. Segundo Bakhtin, (1979:109), a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicológico de sua produção. Mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. Assim, o que ocorre nos bate-papos virtuais é uma dinamização das formas de escrita, que facilita a comunicação entre pessoas em tempo praticamente “real”.
Oralidade

A escrita na Internet nos remete a uma análise da oralidade, na medida em que a linguagem empregada nas salas de bate-papo é expressa freqüentemente da forma como se fala, assumindo o papel de comunicação informal, onde as regras gramaticais perdem o lugar para os modos mais informais de escrita.
Essa “oralidade” que marca a escrita na internet pode ser observada claramente por quem tem acesso à internet, possui e-mail ou utiliza outras ferramentas que possibilitam a comunicação instantânea. Essas pessoas, provavelmente, já se depararam com “palavras” do tipo vc (você), tb (também), naum (não), entre outras.
Esse tipo de linguagem, usada nas salas de bate-papo, parece ter como objetivo facilitar a vida dos usuários, promovendo maior praticidade e dinamicidade na comunicação. Desta forma, é muito comum que palavras e até mesmo expressões inteiras, sejam abreviadas ou substituídas por ícones (ex: emoticons _ neologismo inglês_ “emotions” (emoções) com “icons” (ícones). Através disso, é possível “conversar” em tempo real com maior velocidade. Conforme exposto abaixo.
- E ai como vc tah?
- : ( {triste}
Por isso, é natural que o usuário não utilize a norma culta da língua, até porque seria impossível a transcrição da fala em texto sem que se abreviasse nem utilizasse sinais que representem palavras ou expressões inteiras.
Duas explicações para a utilização das formas abreviadas de escrita são:
- a internet (e mais precisamente as salas de bate-papo) é um meio de comunicação que reúne pessoas de várias localidades, tanto do Brasil quanto do mundo. A linguagem utilizada nesses ambientes é reconhecida pelos usuários independentemente do lugar onde eles possam estar.
- o acesso à internet só é viável (para quem não é economicamente privilegiado) se feito em dias e horários que os pulso são únicos (sábados à tarde e domingos e feriados nacionais durante todo dia).
Além de ser prática e dinâmica, não podemos negar que essa linguagem também é bastante criativa, pois a partir de pontuações e outros ícones é possível inventar novas formas de expressar sentimentos e de promover a comunicação virtual. Um exemplo disso é o uso de CAIXA ALTA (podendo ser substituída por repetidos pontos de exclamação), utilizada para chamar a atenção ou para expressar revolta em relação ao seu interlocutor.

Internet versus Interações

Os jovens, em sua maioria, sempre foram criticados por pais e professores por não se interessarem pela leitura e nem pela escrita. No entanto, com o advento da internet muita coisa mudou, pois os jovens que não gostavam de escrever adquiriram este hábito até mesmo para poderem se comunicar com a "galera" pelas salas de bate-papo, e os que já gostavam passaram a ter uma forma diferente de expressão. Defendem ainda a idéia de que a linguagem utilizada na internet, além de ser útil no ambiente virtual também serve em outros meios, como por exemplo, quando o professor dita alguma coisa e eles têm que escrever rápido. Por outro, lado alguns jovens afirmam que se não tiverem consciência podem acabar se acostumando demasiadamente com essa linguagem.
Embora a febre da internet tenha se espalhado no mundo jovem, não são todos que se deixam contagiar. Alguns jovens até já tiveram contato com a internet, chegaram a entrar em salas de bate-papo, no entanto não foi suficiente para exercer o fascínio que exerce na maioria dos jovens e nem mesmo para incentivar na escrita.
Será que o fato dos jovens escreverem mais significa que eles estão escrevendo melhor? Quanto a isso há divergência de opiniões, vejamos:
Por um lado, alguns professores, como por exemplo, Maria Helena de Moura Neves (do programa de pós-graduação em lingüística e língua portuguesa da Unesp em Araraquara - SP), acreditam que inicialmente escrever mais significa escrever melhor, no entanto, no caso da internet não funciona da mesma forma. Pois a escrita da internet remete à oralidade, isto é, o jovem fala através da escrita, é como se ele estivesse falando com seu interlocutor.
Desse modo, muitas vezes o texto acaba se tornando fragmentado, característica típica da fala.
Por outro lado, outros, como a "psicóloga Rosa Farah, coordenadora do Núcleo de Psicologia e Informática da PUC-SP", têm opinião diferente. A mesma acredita, que embora se criem vícios de linguagem, a internet auxilia no processo de escrita. Partindo do pressuposto de que o ambiente virtual agrada e acaba suscitando a vontade de comunicação, seja para encontrar um relacionamento ou para trocar idéias. Desse modo, de um jeito ou de outro acaba por despertar a vontade de escrever. Porém, vale ressaltar que a opinião de Rosa Farah se baseia em casos empíricos.
Os usuários da internet se utilizam da linguagem de maneira diferente, fugindo dos padrões gramaticais da linguagem escrita. Utilizam-se demasiadamente de abreviaturas que fogem à norma (vc por você, tb por também), pontos de interrogação ou exclamação: "Oi...voltou pra ficar?????", "Mas amiga, vc deu boa noite e saiu direto!!!!!". Considerando os bate-papos, os usuários remetem mais a oralidade e a informalidade como uma conversa. Porém nos e-mails vai depender do interlocutor, pois se for um e-mail de trabalho geralmente tem um formato de carta, com o uso da norma culta, evitando-se abreviações.
Diante do exposto acima, devemos alertar: é preciso sabedoria para distinguir os locais adequados para o uso de qualquer tipo de linguagem, não transportando a oralidade da escrita na internet para uma redação, por exemplo. É preciso orientar o jovem para que ele saiba fazer adequações quando necessário, até mesmo para que ele não seja prejudicado.

Emoticons

Neologismo inglês que nasceu da fusão entre a expressão "emotions" (emoções) com "icons" (ícones), os "emoticons" substituem textos grandes ou expressões com onomatopéias na troca de mensagens, o que deixa a mensagem muito mais dinâmica e prática. Podemos trocar por exemplo, "hehehe" ou "hahaha" por ":-)".
Vejamos abaixo os símbolos mais usados pelos usuários da internet para expressar sentimentos e reações:

:-) Ilustra frase sarcástica ou jocosa.
;-) Piscadela. O usuário fez observação sarcástica e/ou flertou com o
interlocutor.
:-( Expressão carrancuda. O internauta não gostou da última observação
ou está deprimido.
:-| Indiferença.
:-> Muito sarcasmo.
>:-> Expressão "diabólica".
>;-> Piscadela e "diabólica" combinadas.
%-) O internauta está diante da tela do computador há pelo menos 15
horas.
::-) O internauta usa óculos.
:-7 Expressão de nojo.
:'-( Choro.
:'-) Emocionado.
:-@ Grito.
|-0 Bocejo ou ronco.
:-s A observação do interlocutor foi incoerente.
:-D Internauta ri do interlocutor.
:-x Boca fechada (no sentido de manter um segredo).
:-o Uh, oh! Problemas à vista.
:-|| Zangado.
(:-) Careca.
:-)x Com gravata borboleta.
:^) Com nariz quebrado.
.^) Perfil.
:-)~~ Mulherão.
8:-) Garotinha.
:-)8 Mulher.
|-) Chinês.
:-) 8:-) :-)8 Família.
:-t Rabugento.
:-e Desapontado.
5:-) Elvis.
:'''-( Chorando muito.
8-) Usando óculos.
:-') Resfriado.
:-# e também :-* Beijo
.-* Perfil de beijo.
:--) Pinóquio.
:-) Narigudo.
:-} Usa batom.
:-#) e também :-{) Bigode.
=:-) Punk.
:-V Gritando.
:-! e também :-i Fumante.
:-/ Indeciso.
:-? Sem saber o que falar.
:-))) Felicidade (quanto mais parêntesis, maior).
:-(#) Aparelho nos dentes.
:-((( Tristeza (quanto mais parêntesis, maior).
:-v Falando.
.-) Piscar o olho.
:-P Mostrar a língua.
[:-) Escutar walkman.
[:-)] "Quadrado" (antiquado).
:-y Sorriso forçado.
((:-)))) Muito gordo.
%-) Ressaca.
*) Bêbado.

Ambiente Virtual X Ambiente Real

A questão da utilização da linguagem virtual fora desse ambiente é discutida por profissionais de diversas áreas. A discussão é se essa linguagem irá incorporar-se no cotidiano das pessoas (principalmente adolescentes) fora desse ambiente. Mais ainda, se as crianças e adolescentes estão sendo influenciadas, em virtude da linguagem cibernética, e aprendendo a ler e escrever errado.
Para o jornalista e redator Alberto Dines,

(...) a tremenda penetração da internet entre os jovens está transformando a linguagem abreviada dos chats e blogs numa espécie de código que nada tem a ver com a gramática, ortografia, e às vezes subverte a própria semântica. Em um país que lê tão pouco, escreve menos ainda, e quase não se entende, é bom pensar em voltar para a escola. (www.tvebrasil.com.br/observatorio/arquivo/principal_050329.asp)

A polêmica está lançada. Será que a utilização da linguagem da internet é capaz de proporcionar distúrbios na linguagem? Vários adolescentes estão recebendo o diagnóstico (por parte de psiquiatras) de “dislexia discursiva”. Observem o discurso:
O jovem, que até então não apresentava nenhum problema na escola, começa a ter uma avaliação catastrófica dos professores. Perde a capacidade de entender o que lê fora do ambiente da rede. Sem entender, não tem condições de julgar, e sem posição crítica fica incapacitado de reflexões profundas sobre a realidade que o cerca. Os pais imaginam que o filho está mentalmente perturbado ou tomando drogas, mas ele apenas renunciou a seu potencial expressivo para adotar a linguagem estereotipada da internet. Adolescentes viraram suas vítimas preferenciais. (revistaepoca.globo.com/ Epoca/0,6993,EPT384160-1664,00.html)

Sobre esse assunto vale ressaltar que a maioria das reclamações referentes ao uso das formas abreviadas da escrita incide sobre os adolescentes. Os adultos que freqüentam o ambiente virtual não têm o costume de “trocar” a linguagem. Luiza Torelly, de 17 anos, comenta sobre o uso exagerado da internet: “Uso internet desde os 12 anos. Às vezes fico confusa com palavras ridículas e me sinto meio analfabeta”. Porém não deixou de usar a linguagem quando está on-line: “não dá para escrever certinho. Incomoda. Parece velho”.
Outro depoimento é o da estudante Tamyres Oliveira, 15, que relata sua dificuldade na escrita: “Como estou muito acostumada com a linguagem usada na internet redijo uma redação normalmente, no entanto, quando faço a revisão vejo que abreviei muitas palavras e fico em dúvida em como escrever algumas”, e isso seria resultado do seu “vício” pela internet.
Será que o motivo pelo qual os adolescentes utilizam a linguagem cibernética dentro da sala de aula (por exemplo) não seria o de chamar a atenção dos pais e professores? Será que esses problemas não são naturais dessa fase da vida? Será que mesmo utilizando essa linguagem os adolescentes não estariam desenvolvendo a sintaxe e a formulação de idéias completas? Essas questões só poderão ser respondidas com um estudo mais aprofundado sobre adolescência.
Por outro lado, existem profissionais que vêem benefícios com a linguagem da internet. Para a psicóloga Rosa Farah, a comunicação escrita é estimulada nos bate-papos. O ambiente virtual deve ser explorado uma vez que tem o “poder” de prender o jovem.
O lingüista inglês David Crystal, que escreveu o livro A Linguagem e a Internet, defende a tese de que os jargões das salas de bate-papo podem estimular o auto-conhecimento, além de outras formas de literatura.
Mas, de acordo com o coordenador do vestibular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Otávio Langlois, a linguagem não está sendo utilizada nas provas de admissão para a universidade. (Você fala a minha língua? Ediane Merola – Jornal O Globo, 05/04/2005). Podemos ver assim que os estudantes sabem quando podem (e quando não podem) utilizar a linguagem virtual.
“Na Internet o usuário escreve como fala, esta é uma característica própria do meio. Não acredito que essa linguagem vá passar para a vida real, onde existe uma barreira natural das pessoas que não entendem nem falam esse jargão”, comenta o professor Sergio Nogueira Duarte (mestre em língua portuguesa pela PUC-RJ) autor de diversas colunas em jornais e revistas. (http://www.gilmar-homepage.hpg.ig.com.br)
Para ele, o principal é o meio por onde se processa a conversação, até porque as pessoas não ficam preocupadas o tempo inteiro em seguir a norma padrão da língua em uma conversa informal, como o bate-papo. O que ele quer dizer é que as pessoas utilizam várias linguagens, dependendo do ambiente onde estão. Ao falar ao telefone, se fala de um jeito, ao escrever um telegrama se escreve de outro, ao fazer anotações em seminários, palestras mais uma forma de escrita é utilizada.
Em um ponto todos concordam: é responsabilidade do professor orientar sobre a utilização das diversas formas de expressão da língua. Explicar a importância da aprendizagem da língua padrão, inclusive em relação ao mercado de trabalho que cobra o uso “correto” da língua.
Para o professor Lúcio Manga, a internet deve ser utilizada como uma ferramenta do professor que deve auxiliar o aluno, mostrando-o o melhor jeito de se comunicar tanto na sala de aula como nas salas de bate-papo. “Os e-mails produzidos pelos alunos têm que ser levados para a sala de aula. Um bom exercício é ensinar o estudante a expressar aquela idéia em um outro contexto. A internet traz muitos benefícios e temos que usá-la para atingir o aluno”, comenta o professor.

“A internet reabilitou a escrita”, afirmou Bruno Dallari, professor de lingüística da Pontifícia Universidade Católica (PUC) da São Paulo. "Ela estava em desuso entre os jovens dos anos 90. Agora, voltou a ser comum. Mas as escolas, sobretudo, precisam prestar atenção ao fenômeno e estabelecer as diferenças", alertou Claudemir Belintane, professor de metodologia da língua portuguesa da Universidade de São Paulo. (http://www.midiativa.org.br/index.php/educadores/content/view/full/1861)

Perfil dos Usuários

Diante da assustadora velocidade das tecnologias, torna-se, praticamente, inviável obter consenso acerca dos números de usuários da internet. A cada segundo, milhares de novos usuários tomam conhecimento de um veículo de comunicação extremamente rápido, em todo globo. Entretanto, é da perspectiva que temos de sonhar, e também, da busca incansável de exemplos e experiências que fundamentem nossas ações que comumente nos indagamos: Quantas pessoas devem usar a internet no mundo? Até quando e como a internet crescerá? Qual deve ser a freqüência de utilização dos seus serviços? Tais indagações colaboram diretamente para traçar o perfil do usuário da internet.
Dados revelam que o homem utiliza mais o serviço de internet se comparado com o gênero oposto. Ora não é necessário grande descortino de inteligência para supor o resultado dessa pesquisa. Uma vez que, o mercado de trabalho está cada vez mais informatizado, mas diante da gradual conquista das mulheres no mercado de trabalho, esse perfil em breve poderá ser modificado.
De modo geral, entre os que acessam a internet com regularidade, estão jovens entre a faixa etária de 14 e 24 anos, em sua maioria pertencentes às classes econômicas A e B. Este fato também é facilmente explicado pela grande concentração de renda, no Brasil. Assim, o computador ainda é artigo de luxo.
Porém, um dado curioso é o crescimento de usuários da internet por parte dos universitários em comparação a estudantes de nível médio e até pós-universitários. Isso se levarmos em consideração o número relativamente baixo, diante da dimensão do país, de profissionais com nível superior.
Por fim, mas não por último, é cada vez mais constante a presença das pessoas, compreendidas entre a faixa etária de 40 a 60 anos de idade, utilizando os serviços da rede.
A nível de esclarecimento tomaremos a fala de uma estudante do ensino médio, que utiliza freqüentemente a linguagem via internet:

Meu pai acha um absurdo o jeito como escrevo. Diz que estamos matando o português, mas já ensinei minha mãe a trocar mensagens abreviando palavras. Para mim, que adoro ler, é uma questão de praticidade, não de desconhecimento, diz Fabiana. (http://www.revistaviracao.com.br/default.asp?siteAcao=mostraSecao&secaoId=109&noticiaId=363)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De um modo geral, a sistematização da leitura e da escrita, tradicionalmente, foi (e é) delegada à escola. Contudo, aquele que não se identifica com o papel da escola está fadado ao insucesso. Deste modo, o professor assume o papel de destaque intervindo no processo de transmissão de conhecimento, que pressupõe a utilização da norma padrão/culta - linguagem de maior prestígio sócio-cultural, utilizada em documentos formais.
Assim, a educação foi utilizada para manter durante muito tempo a estrutura do poder hegemônico.
Atualmente, alguns intelectuais continuam pensando que a língua e uma coisa inerte (que não se modifica nunca). Não pretendemos desconsiderar seu conhecimento científico, porém cabe-nos reproduzir uma opinião do filósofo e lingüista Evanildo Bechara: Enquanto essa grafia cifrada for usada só em ambiente de internautas, tudo bem, é mais uma modalidade gráfica de gíria. Extrapolar isso ao grande público é um assalto à integridade do idioma. (http://www.revistaviracao.com.br/default.asp?siteAcao=mostraSecao&secaoId=109& noticiaId=363)
Por outro lado, acreditamos que a comunicação mediada por computadores estabelece novas formas de escrita. Portanto a utilização desta nova linguagem, não deve (e não pode) ser considerada nem melhor, nem pior, apenas diferente. Entretanto, temos a plena consciência que todas inovações trazem em seu bojo inquietações.
Podemos concluir que o mais importante - sob o ponto de vista do usuário - nesta variante lingüística é conseguir se expressar, porém não se preocupando em utilizar a norma padrão.
Vale ressaltar que, mesmo utilizando esta linguagem, os usuários têm consciência de que não podem leva-la para outros locais que não sejam o espaço virtual.
Segundo Fernanda M. P. Freira:

A internet [...] tem permitido o exercício da linguagem de forma diferenciada. Ferramentas para produção escrita (editores de textos, de páginas web, de histórias em quadrinhos) e para comunicação à distancia (bate-papo, icq e correio eletrônico) inaugurando novas condições de produção de discursos integrando elementos originais ao que hoje denominamos leitura escrita. O hipertexto como gênero de discurso e os emoticons como recursos expressivos são bons exemplos de mudança lingüístico-discursivas decorrentes das condições virtuais de produção de enunciados. (FREIRE, 2003, p. 22)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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A linguagem na internet, <http://www.sabertudo.com.br/atualidades/atu_detalhes.php?ID=79> acesso em: 05/05/2005.

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APRENDA INGLÊS SOZINHO AGORA – Chats - <http://www.aisa.com.br/chats.html> acesso em: 04/07/2005.

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1979

CHEDIAK, Tiago - Linguagem de Internet. - <http://www.tvebrasil.com.br/observatorio/arquivo/principal_ 050505.asp> acesso em: 25/06/2005.

FRANZOIA, Ana Paula e FILHO, Antonio Gonçalves. O Português.Com. <http://Revistaepoca.Glo-bo.com/epoca/0,6993,EPT384160-
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Hélio Consonaro, O Português da internet <http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=pole-mica/docs/Portuguesinternet> acesso em: 05/07/2005.

IBOPE. 16ª Internet POP revela que percentual de brasileiro que acessam a internet chega a 28% <www.ibopeloja.com.br/prodvar.asp?codigo_produto=0002> acesso em 01/07/2005.

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Defasagem escolar atinge 84,1% das crianças de 14 anos no Nordeste <http://www.ibge.gov.Br/home/presidência/noticias/13042004sin-tese2003html.shtm> acesso em: 01/03/2005.

LÉVY, Pierre. “As Tecnologias da Inteligência. O Futuro do Pensamento na Era da Informática”. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1993.

MEROLA, Ediane. Você fala a minha língua? Megazine – O Globo – 05/04/2005

PÁDUA, Antonio de . Alguém a fim de tc? <http://www.pernambuco.com/diario/2004/04/07/info11_0.html> 01/03/2005.

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FREIRE, Fernada M. P.. A palavra (re)escrita e (re)lida via internet. In: A leitura nos oceanos a da internet. FREIRE, Fernanda M. P., ALMEIDA, Rubens Queiroz de, Amaral, Sergio Ferreira do, SILVA, Ezequiel Theodoro da (coord.) – São Paulo: Cortez, 2003.
<http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=8185&id_noticia=1636> acesso em: 05/07/2005.
Linguagem que adolescentes usam na Internet traduz filmes. <http://www.revistaviracao.com.br/default.asp?siteAcao=mostra Secao&secaoId=109&noticiaId=363> acesso em: 05/06/2005.

 
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