Fulvia Maria Giaretta de Almeida Furquim - Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS
O livro Jardim Zoológico (1999) de Wilson Bueno
é repleto de fábulas que fazem com que o leitor se apaixone
pela forma como as palavras são encaixadas ao texto, utilizando-se
da prosa poética e fantasiosa, próprias do mundo infanto-juvenil.
No texto-fábula “os recém-nados” (p. 47) o autor
trata de um assunto que está muito presente no universo infantil:
o nascimento. Então a forma de trabalhar com tal assunto envolve
o leitor primeiramente porque este já possui certo conhecimento
a respeito do assunto proposto, pois como afirma Kleiman (1989) “há
a recomendação de que para favorecer a compreensão
é fundamental ativar o conhecimento prévio do leitor sobre
o assunto. Desse modo, recomenda-se que antes de o aluno entrar em contato
com os textos (para leitura) o professor promova situações
que tragam à memória intermediária dos alunos os
conhecimentos que já têm sobre o assunto contemplado no texto.”
Em segundo, Wilson Bueno manipula as palavras criando em seu Jardim Zoológico
animais dotados de poeticidade e características humanas. Essas
curtas fábulas dão ao leitor a sensação de
estar realmente em contato com um texto poético, como pode-se perceber
nas passagens a seguir: “Vigiam-se, mamam-se, babam-se e não
dão trégua, um minuto sequer, nos usos de sofrer a vida
como um acontecimento espantoso e ao qual chegaram frágeis, cheios
de fúria; e despreparados”; “Inadaptados, relembradores,
inquietos e quase sempre aflitos, não esquecem o que foi deles
no útero frutuoso; não pequenos monstros tocados de memória,
não esquecem, não esquecerão jamais.” (p. 47,
48).
As combinações sônicas e o ritmo melódico são
características da poesia segundo Antônio Amora (1971) e
estão presentes nos modos de colocação das palavras
de Bueno, que instiga e fascina o leitor.
O escritor em questão utiliza também a técnica da
linguagem fragmentária, esta que é típica nos textos
infantis: frases curtas, poucas palavras e muita fantasia verossímil.
Em seu outro texto, “os rememorantes” (p. 65), Wilson Bueno
trata também de uma característica inerente ao ser humano:
a memória. Bueno mostra que esses “animais” são
“dotados de uma inimaginável memória” (p. 65);
e novamente de forma poética revela: “os rememorantes se
alimentam deles (os sonhos) e só nos dão a ver sobras sonhadas,
lapsos, fragmentos, fluidos recortes e vagas esquinas de um sonho que,
sabemos, com rigorosa certeza, ter sido bem mais do que o inútil
sem nexo, por exemplo, de um olho boiando na água ou o simulacro
de asas com que ainda uma vez tentamos e não conseguimos voar.”
(p. 66).
Pode-se pensar em Wilson Bueno e em seu livro Jardim Zoológico
como uma literatura que pode ser trabalhada com crianças de 0 a
100 anos, como o próprio autor definiu sua literatura.
Referências Bibliográficas
AMORA, A. S. Teoria da Literatura. São Paulo: Ed.
Clássico-Científica, 1971.
BUENO, W. Jardim Zoológico. São Paulo: Ed. Iluminuras, 1999.
KLEIMAN, A. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas.
São Paulo: Pontes, 1989.
CADERNO DE RESUMOS
V SEMINÁRIO SOBRE LITERATURA PARA CRIANÇAS E JOVENS
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