Voltar | ||
LETRAMENTO EM MULTIMÍDIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES Irani
Marchiori. Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas – METROCAMP,
Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro; Nas reformulações dos currículos das licenciaturas devem ser incluídas disciplinas que capacitem os professores em formação para a utilização de recursos tecnológicos de informação e comunicação. Utilização, essa, não somente prática, mas crítica e reflexiva no trabalho de mediação, interação e compartilhamento significativo de conhecimentos em ambientes educacionais reais e virtuais. Uma proposta curricular pautada na incorporação de TIC para ensino e aprendizagem interdisciplinar em nível superior, está em andamento no curso Normal Superior de nossa IES desde o ano 2003, ao mesmo tempo em que se desenvolve uma pesquisa longitudinal sobre os efeitos dessa formação nos alunos e professores do curso, sujeitos da investigação. Introdução As rápidas mudanças ocorridas na sociedade do conhecimento, nas últimas décadas, têm indicado a necessidade de domínio das tecnologias da informação e comunicação, para a formação e atuação no mercado de trabalho. Neste panorama, estudos e pesquisas científicas realizadas nos últimos dez anos comprovam a necessidade da formação docente para a utilização da informática como recurso e ferramenta para a otimização do ensino e da aprendizagem. Em vista disso, organizações de diferentes setores e instituições de ensino têm unido esforços para a capacitação tecnológica de professores que atuam nos vários níveis de ensino Por ocasião da introdução dos computadores nas escolas, a partir da segunda metade da década de 90, havia uma esperança de que esta tecnologia trouxesse o mesmo tipo de transformação observada no campo da ciência, da indústria e dos negócios. Em cada uma destas áreas, procedimentos claros combinados com a informática e com outros equipamentos tecnológicos proporcionaram enormes saltos em qualidade e eficiência, facilitando mensurações e cálculos, simulando situações para a experimentação eliminando erros e até perigos originados de processos repetitivos da atividade humana. No entanto, parece que esta mudança somente acrescentou mais uma camada de complexidade à prática educativa. Os professores, a maioria com despreparo e orientações precárias, excesso de trabalho e dificuldades pessoais decorrentes, entre outros fatores, do desprestígio profissional e baixa remuneração, mostram-se, ainda hoje, muitas vezes confusos e estressados tendo que apreender e administrar mais este conjunto de inovações. As relações dos seres humanos com as máquinas têm sido, ao longo dos tempos, muitas vezes percebida como algo fora da capacidade da maioria das pessoas que não tiveram oportunidade de desenvolver habilidades, tanto para manejá-las como para compreender as premissas básicas de seu funcionamento. Em função disso, muitas ainda mostram-se preconceituosas e até mesmo temerosas ao terem de manusear equipamentos, o que pode levar algumas pessoas a sentirem-se incapazes de compreender, analisar e criticar os rumos que tomam as conquistas e as modificações tecnológicas, assim como as concepções e pesquisas que as fundamentam. É, provavelmente, devido a isso que se percebem certas incertezas e desconfianças quanto aos objetivos e à utilização de equipamentos tecnológicos, principalmente eletrônicos, por parte de profissionais da área da educação que, em decorrência à sua inexperiência pessoal, preferem não manipulá-los em classe ou incorporá-los às suas aulas. No sentido inverso, existem educadores que remetem à mera introdução de novas tecnologias no ensino, principalmente de computadores, a esperança de que os alunos saiam da escola bem preparados para o competitivo mercado de trabalho que os aguardam. Desta forma também incorrem no risco de introduzir a tecnologia somente pela tecnologia para dar ares de modernidade a um sistema educacional que talvez carregue consigo, em sua essência, uma predisposição ao fracasso, adquirida ao longo de gerações. No Brasil, com a introdução de milhares de computadores nas escolas e outros equipamentos eletrônicos no cotidiano social, todos se vêem frente à necessidade de compreendê-los e utilizá-los adequadamente. Não se trata, portanto, somente da alfabetização digital. Assim como no caso da escrita (Soares, 2003) o conceito de alfabetização e letramento digital não pode estar dissociado pois são processos interdependentes. Isto é, a habilidade para utilizar-se de recursos tecnológicos desenvolve-se no contexto das práticas educativas dentro e fora da escola, em seus diferentes níveis. Wallace e Louden (1994) incluem como fatores fortemente determinantes à pratica de ensino do professor sua experiência de vida, sua prática e seu senso de auto-valor. Como fatores favoráveis à prática da docência, Hart e Murphy (1990) observaram que a maioria dos professores recém formados apresentam maior índice de motivação e empenho para novas propostas educacionais, reagindo positivamente aos incentivos e desafios profissionais de seus superiores, em relação aos que estão em final de carreira. Cientes de seus problemas, uma das alternativas mais utilizadas pelos professores para preencherem suas deficiências especificas parece ser a freqüência a cursos de extensão e aperfeiçoamento. Porém, uma solução, além da urgente reformulação dos programas e currículos, seria também uma maior reflexão sobre como melhorar qualitativa e quantitativamente os cursos de formação de docentes, em todos os níveis de ensino, tem sido defendida pelas autoras há mais de uma década (Marchiori, 1996). Um dos projetos desenvolvidos para a implantação de salas de aula ricas em tecnologia mas centradas nos alunos, Apple Classrooms of Tomorrow - ACOT, (Dwyer, 1994), propiciou mecanismos intrínsecos para que os professores pudessem cultivar a reflexão a longo prazo, solicitando que fizessem gravações em fitas de áudio, relatórios semanais sobre os principais acontecimentos e evoluções, manter observadores visitantes durante suas aulas, enviar telecomunicações para outras escolas, e principalmente trabalhar estreitamente com pesquisadores ligados às universidades, para análise de suas experiências em sala de aula. Considerando-se que a mudança de concepções ocorre de maneira evolutiva, a abordagem gradual é a mais adequada. No caso do trabalho com computadores em sala de aula, o primeiro estágio é o da implementação, onde as preocupações giram em torno do próprio equipamento. Nesta fase o suporte e treinamento técnico tem uma importante função, reduzindo o estresse e aumentando a confiança. Conforme os professores vão aprendendo os princípios básicos de funcionamento do equipamento, precisam ser imersos em um ambiente que construa elos entre a tecnologia, a instrução e a aprendizagem, garantindo acesso suficiente à tecnologia não só para seus alunos mas também para si. Há uma maior probabilidade de serem bem sucedidos se participarem deste processo voluntariamente e como membros de uma equipe com o mesmo propósito, organizando-se o tempo para que as equipes possam reunir-se rotineiramente. O tempo é um fator de apoio crucial para o avanço no processo evolutivo, pois neste ínterim os professores devem ter muitas e variadas oportunidades para observarem seus pares, " confrontarem suas ações, examinarem seus motivos e refletirem criticamente sobre as conseqüências de suas escolhas, decisões e ações. Eles precisam de oportunidades de um diálogo contínuo sobre suas experiências e de um desenvolvimento contínuo de suas habilidades de imaginar e descobrir experiências de aprendizagem mais eficazes para seus alunos. " (Sandholtz, Ringstaff e Dwyer, 1997, pág.61). O estágio final, particularmente de grande importância, é quando os professores devem escrever sobre suas experiências e divulga-las, seja através de publicações editoriais, informativos de circulação interna, ou da Internet para que possam partilhar seus novos conhecimento com outros profissionais. Entretanto, os autores acima citados fazem advertências importantes quanto à estratégia de se mudar as crenças dos professores como uma condição para a mudança instrucional. Citam primeiramente que podem ocorrer frustrações por estarem ligadas a momentos e pessoas significativos, afetando o comportamento caso a meta e os esforços para a mudança de concepções não seja um fenômeno organizacional, sistêmico ou cultural. "Em suma, as crenças dos professores só podem ser modificadas quando estes estiverem em meio às dificuldades da mudança - arriscando-se e enfrentando as incertezas. A mudança instrucional só pode avançar com uma mudança correspondente nas crenças dos professores. " (Dwyer, 1994)) A necessidade de maiores investimentos na formação tecnológica dos alunos vem sendo discutida por especialistas no mundo todo e muitos projetos governamentais estão em curso. A responsabilidade da Universidade em fornecer preparo crítico aos professores que atuarão desde as séries iniciais, passa pela reformulação dos currículos. Nos cursos de licenciatura devem ser incluídas disciplinas que capacitem os professores em formação para a utilização de recursos tecnológicos de informação e comunicação. Utilização, essa, não somente prática, mas crítica e reflexiva no trabalho de mediação, interação e compartilhamento significativo de conhecimentos em ambientes educacionais reais e virtuais. Uma proposta curricular pautada na incorporação de TIC para ensino e aprendizagem interdisciplinar em nível superior, está em andamento no curso Normal Superior de nossa IES desde o ano 2003, ao mesmo tempo em que se desenvolve uma pesquisa longitudinal sobre os efeitos dessa formação nos alunos e professores do curso, sujeitos da investigação. Como uma
das habilidades a serem desenvolvidas nos professores em formação
superior destaca-se A área Tecnologia aplicada à Educação do curso Normal Superior das Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas - METROCAMP, engloba 4 disciplinas que objetivam propiciar aos alunos uma formação ao mesmo tempo abrangente e profunda no campo das novas tecnologias da informação e comunicação visando à produção e sistematização de conhecimentos. Os laboratórios de informática, onde são ministradas as aulas, são usados como espaços colaborativos de construção de conhecimento e desenvolvimento de pesquisas. Notamos que a incorporação dessas novas competências vem refletindo ao longo do curso trazendo efetivas contribuições à educação dos alunos como um todo. Disciplinas da área de tecnologia e educação na grade curricular do curso de Formação de Professores 1. Introdução
à tecnologia e Educação A disciplina explora inicialmente os recursos do computador, levando o aluno a se familiarizar com a ferramenta para perceber a sua importância, seus alcances e limitações. No decorrer desses três anos de experiência notamos que a compreensão dos conceitos básicos da informática é essencial para um bom aproveitamento de seus recursos nas fases de maior elaboração dos trabalhos. Por esta razão dividimos as turmas de primeiro ano em iniciantes e intermediários de acordo com o nível de familiaridade que apresentam no uso do computador em geral. A turma de iniciantes recebe aulas sobre os conceitos básicos da Informática, aprende a utilizar ferramentas de comunicação (correio eletrônico), inicia a pesquisa na Internet e é introduzida ao programa aplicativo Word, nunca perdendo de vista o ferramental didático-pedagógico. A turma intermediária
aprofunda o uso dessas ferramentas através de pesquisa dirigida
na Internet em diferentes repositórios, principalmente bibliotecas
digitais, aprendendo a lidar com a informação de forma objetiva
e organizada. 2. Recursos
tecnológicos e Educação Além
de introduzir o programa aplicativo Power-Point, essa disciplina busca
refletir sobre o ensinar e o aprender numa sociedade de base tecnológica
onde a informação é abundante, buscando desenvolver
nos alunos a autonomia para a pesquisa. Seu foco resume-se em: Ao final do primeiro ano notamos que os alunos já usam com desenvoltura essas ferramentas da informática, ampliando sua utilidade para todas as disciplinas. 3. Comunicação,
Multimeios e Educação : Os objetivos
dessa disciplina resumem-se em: Neste primeiro semestre de 2005, os alunos que cursaram esta disciplina puderam ter uma visão das dificuldades encontradas pelas escolas estaduais de Campinas no uso das tecnologias em seus cotidianos. Através de visitas à escolas e entrevistas com diretores, coordenadores e professores, sentiram o abismo existente entre propostas, projetos e práticas. Puderam, por outro lado, verificar o valor de parcerias com a comunidade viabilizando inúmeras ações. 4. Ensino
em Ambientes Colaborativos de Aprendizagem Essa disciplina
oferece oportunidades de conhecer softwares educacionais e avaliá-los
ao longo do curso. Apresenta, também, um ambiente de educação
a distância para conhecimento, análise e avaliação
tanto como apoio a organização do curso presencial como
para compartilhamento de experiências e informações. Desenvolvimento da Pesquisa Este é
o terceiro ano de funcionamento do curso Normal Superior e teremos a conclusão
da primeira turma - atualmente 36 alunos - a se graduar em nossa Instituição. Referências Dwyer, D.
(1994). Apple Classrooms of Tomorrow: What we've learned. Educational
Leadership, 51 (5): 4-10. |
||
Voltar |