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  HISTÓRIA EM QUADRINHOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA: UMA EXPERIÊNCIA DE LEITURA, ESCRITA E INTERPRETAÇÃO

André Luis dos Santos Menezes - Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e de Matemática - (CEFET/RJ). alsmenezes@hotmail.com, alsmenezes@aol.com

Tereza Fachada Levy Cardoso (D.H) Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e de Matemática, CEFET/RJ, tereza@levycardoso.com.br

Introdução

Na educação básica tem-se notado que os conceitos de matemática estão se resumindo basicamente em resoluções algébricas e aplicação de métodos de resoluções, com utilização de fórmulas, caracterizando uma aprendizagem mecânica e sem significado concreto e contextualizado.

Vale ressaltar que, para Hartwig (2002) toda aprendizagem depende de conhecimentos anteriores, e é importante que as novas informações sejam incorporadas ao conhecimento já existente. Quando isto ocorre, forma-se uma rede de conhecimentos, em que a linguagem matemática surge como importante instrumento na compreensão da ciência. Assim é que para Ausubel: “aprendizagem significativa é um processo pelo qual uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo caso contrário ocorre a aprendizagem mecânica em que a nova informação é armazenada de maneira arbitrária” (Apud Moreira e Masini, 1982:7-9).

O modo de organização dos alunos nas aulas, na realização de tarefas, influencia as produções lingüísticas dos diversos interlocutores, principalmente dos alunos. Estudos realizados no âmbito da Educação Matemática (Menezes, 1996; Nunes, 1996) sublinham os benefícios que podem advir, em termos da comunicação entre os alunos, quando realizam tarefas matemáticas adequadas de uma forma cooperativa. O professor, como principal responsável pela organização do discurso da aula, tem aí um outro papel, colocando questões, proporcionando situações que favoreçam a ligação da Matemática à realidade, estimulando a discussão e a partilha de idéias. Considerando a estreita dependência entre os processos de estruturação do pensamento e da linguagem, há que se promover atividades que estimulem e impliquem a comunicação oral e escrita, levando o aluno a verbalizar os seus raciocínios, explicando, discutindo, confrontando processos e resultados" (Ministério da Educação, 1991, p. 16).

Desenvolveu-se um “estudo de caso” em uma turma de 5ªsérie da Escola Municipal Pará, do Rio de Janeiro, com alunos na faixa de 10 a 12 anos, enfocando a relação direta da linguagem e do letramento na aprendizagem matemática. Através da produção de textos, imagens e do enfoque interdisciplinar, mostrou-se a estreita dependência entre os processos de estruturação do pensamento e da linguagem, promovendo atividades que estimulem e impliquem a comunicação oral e escrita, levando o aluno a verbalizar os seus raciocínios, explicando, discutindo, confrontando processos e resultados estimulando a discussão e a partilha de idéias e a interdisciplinaridade. Utilizou-se a produção de histórias em quadrinhos com conteúdos e conceitos matemáticos.

As histórias em quadrinhos no ensino

As histórias em quadrinhos aumentam a motivação dos estudantes para o conteúdo das aulas, aguçando sua curiosidade e desafiando seu senso crítico. A forte identificação dos estudantes com os ícones da cultura de massa – entre os quais se destacam vários personagens dos quadrinhos – é também um elemento que reforça a utilização das histórias em quadrinhos no processo didático.

Palavras e imagens, juntos, ensinam de forma mais eficiente – a interação do texto com a imagem existente nas histórias em quadrinhos, amplia a compreensão de conceitos de uma forma que qualquer um dos códigos, isoladamente, teria dificuldades para atingir. Na medida em que essa interação texto/imagem ocorre nos quadrinhos com uma dinâmica própria e complementar, representa muito mais do que o simples acréscimo de uma linguagem a outra como acontece, por exemplo, nos livros ilustrados. Mas a criação de um novo nível de comunicação amplia a possibilidade de compreensão do conteúdo programático por parte dos alunos.

Cada gênero, mesmo o mais comum (como o de super-heróis, por exemplo) ou cada história em quadrinhos oferece um variado leque de informações passíveis de serem discutidas em sala de aula, dependendo apenas do interesse do professor e dos alunos. Elas podem ser utilizadas tanto como reforço a pontos específicos do programa como para propiciar exemplos de aplicação dos conceitos teóricos desenvolvidos em aula. Histórias de ficção científica, por exemplo, possibilitam as mais variadas informações no campo da física, tecnologia, engenharia, arquitetura, química etc., que são muito mais facilmente assimiláveis quando na linguagem das histórias em quadrinhos. Mais ainda, essas informações são absorvidas na própria linguagem dos estudantes, muitas vezes dispensando demoradas e tediosas explicações por parte dos professores.

Os quadrinhos auxiliam no desenvolvimento do hábito de leitura. A idéia pré-concebida de que as histórias em quadrinhos colaboravam para afastar as crianças e jovens da leitura de outros materiais foi refutada por diversos estudos científicos.

Os quadrinhos enriquecem o vocabulário dos estudantes e as histórias em quadrinhos são escritas em linguagem de fácil entendimento, com muitas expressões que fazem parte do cotidiano dos leitores; ao mesmo tempo, na medida em que tratam de assuntos variados, introduzem sempre palavras novas aos estudantes, cujo vocabulário vai se ampliando quase que de forma despercebida para eles.

Os quadrinhos podem ser utilizados em qualquer nível escolar e com qualquer tema – não existe qualquer barreira para o aproveitamento das histórias em quadrinhos nos anos escolares iniciais e tampouco para sua utilização em séries mais avançadas, mesmo em nível universitário.

Como utilizar os quadrinhos no ensino

Não existem regras. No caso dos quadrinhos, pode-se dizer que o único limite para seu bom aproveitamento em qualquer sala de aula é a criatividade do professor e sua capacidade de bem utilizá-los para atingir seus objetivos de ensino. Eles tanto podem ser utilizados para introduzir um tema que será depois desenvolvido por outros meios, para aprofundar um conceito já apresentado, para gerar uma discussão a respeito de um assunto, para ilustrar uma idéia, como uma forma lúdica para tratamento de um tema árido ou como contraposição ao enfoque dado por outro meio de comunicação.

Questões

Diante de uma turma de 5ª série, com 48 alunos em sala de aula, assíduos, 75% classificados pela tabela do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – Saeb - no nível crítico; o que você fazer para ensinar Matemática?

Como trabalhar o conteúdo e conceitos matemáticos da série, quando não se domina os pré-requisitos da disciplina e tão pouco leitura, escrita e interpretação?

Desenvolvimento do Trabalho

Era primeiro bimestre. Como todos os anos juntamente com o planejamento escolar nasce a construção e a desconstrução de idéias e sonhos e o professor deparou-se com uma turma que é a confirmação dos dados do quadro representativo da pesquisa do Saeb 2003.

O professor iniciou o conteúdo sobre “Sistemas de Numeração” e escolheu alguns alunos para lerem o texto do livro adotado. Alguns alunos mal conseguiram ler o que estava escrito com clareza, outros não compreendiam nem o que liam e nem o que ouviam. Era o início da constatação de um grande problema e de um grande desafio, mas também era uma oportunidade de o docente mostrar para si mesmo que o papel da transformação na educação e da mudança começava naquele momento.

Existem três situações constrangedoras para o formador, que dificultam vencer o desafio na educação:

1- Professores que querem uma receita pronta;

2- Professores que já ensinam há muito tempo e se acham “donos da verdade”;

3- Professores que não têm o domínio da disciplina.

Um dos objetivos é alcançar de maneira eficiente esses professores, mostrando-lhes que o conhecimento que precisam ter para o exercício da Matemática está além da mesma e que, na maioria das vezes, existe um verdadeiro abismo entre o conhecimento dos alunos, o conhecimento do professor e o que a disciplina propõe.

Ao começar o estudo no sistema de numeração algo importante aconteceu. O professor sentiu-se impulsionado a modificar a forma de trabalho com a turma, pois a realidade “gritava” por isso. Iniciou-se um trabalho de pesquisa em conjunto: aluno e professor na construção do conhecimento. Pesquisou-se o sistema de numeração dos gregos, romanos, egípcios e chineses. Sem perceber todos começaram a olhar a matemática não apenas como um número ou fórmula, mas perceberam que a matemática está inserida dentro de uma cultura. A partir disso, os professores de outras disciplinas também puderam desempenhar o seu papel e o trabalho interdisciplinar tomava sentido. Em Geografia os alunos começaram a estudar os mapas e a influência geográfica; em História houve uma identificação grande dos alunos pelo povo egípcio; em Francês aproveitou-se para ensinar algumas palavras relacionadas ao tema, como por exemplo pirâmide e, finalmente, Português e Matemática deram-se as mãos para resgatar o significado e o sentido do que se escreve , se ouve e se lê.

Ao ouvirem as histórias sobre os povos no sistema de numeração e contagem os alunos foram motivados a construir e relatar as histórias que ouviram e começaram construindo o seu próprio sistema de numeração. Elaboraram regras, utilizaram símbolos e criaram os algarismos. A professora de português em suas aulas observava o modo expressão dos alunos e como eles escreviam, e muitas vezes percebeu-se que nem tudo o que escreviam era realmente o queriam dizer A organização das idéias, a expressão oral e escrita foi a grande batalha a ser vencida. A seguir, passamos para a construção das histórias em quadrinhos, onde os alunos trabalhavam com régua, esquadro e compasso. Foi um momento bastante proveitoso para desenvolver nos alunos habilidades e noções de medida e espaço, além de ampliar o seu lado criativo e artístico. Nas histórias os alunos deveriam trabalhar os conceitos matemáticos, numa narrativa criada por eles mesmos. E mais uma vez estava presente a professora de língua portuguesa, acompanhando todo o texto formulado e dando o auxílio necessário para a construção do discurso: direto e indireto. Muitas histórias foram refeitas e um fato curioso era o empenho dos alunos terem as suas histórias bem redigidas e com o conteúdo matemático passado de modo correto. Era notório o desenvolvimento dos alunos na interpretação, escrita e na aprendizagem do conteúdo proposto. As aulas das outras disciplinas também estavam interligadas com a proposta e foi ponto fundamental no êxito obtido. As aulas tornaram-se prazerosas e com significado para os alunos. Vale ressaltar que a intervenção do professor tinha a intenção de promover a autonomia e a autoconfiança dos alunos, em vez de apenas servir de instrumento de correção.

Comparando com o Saeb

Para uma avaliação mais consistente da experiência relatada, considerou-se importante estabelecer uma relação com as pesquisas do Saeb. Criado em 1990, é um instrumento relevante para subsidiar e induzir políticas orientadas para a melhoria da qualidade da educação brasileira. Aplicado a cada dois anos para uma amostra de alunos da 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio, avalia a qualidade, a eqüidade e a eficiência do ensino e da aprendizagem.

Observando-se o Saeb aplicado em 2003, realizado na última semana de outubro, onde através de testes e questionários os alunos foram avaliados em Língua Portuguesa e Matemática, para analisar o seu desempenho e os fatores a ele associados. Em Língua Portuguesa, a ênfase dada foi na investigação das habilidades de leitura, que abrangem a capacidade do estudante para localizar informações explícitas e implícitas em um texto, de fazer inferências, identificar o tema, identificar a tese e relações de causa e conseqüência, entre outras, sempre em textos de gêneros diversos e em níveis de complexidade diferenciados, conforme a série avaliada. Em Matemática as habilidades compreendem a capacidade do estudante para resolver problemas, utilizando-se dos conceitos e das operações da linguagem matemática em suas diversas dimensões, tais como aritmética, geometria, grandezas e medidas e noções de estatística, em graus de dificuldades pertinentes a cada série.

Desempenhos – Língua Portuguesa e Matemática -

Com o objetivo de compreender a realidade educacional no ensino básico, observou-se uma análise comparativa nos dados da tabela abaixo, sobre o desempenho em Língua Portuguesa e Matemática na nossa região sudeste.

Médias de desempenho – BR, Região Sudeste (2001 e 2003) 4ª série EF – Língua Portuguesa e Matemática – Região Sudeste

 

LP   -  MAT

LP   - MAT

Diferença

 

2001- 2001

2003- 2003

2001-2003

Sudeste

178,8– 189,8

181,7- 190,3

2,9 - 0,5

Depois de três períodos de avaliação mostrando quedas consecutivas, o desempenho em leitura dos estudantes da 4ª série do ensino fundamental apresenta uma pequena inversão na tendência. É a primeira vez, desde 1995 quando o teste passou a ser comparável e aplicado a cada dois anos, que a média de desempenho fica acima da pontuação obtida no teste anterior.

A média de desempenho no Saeb 2003, comparado ao de 2001, evidencia mudanças positivas e significativas, a partir de testes estatísticos rigorosos, para o Brasil, de 165,1para 169,4 (4,3),

A escala de desempenho do Saeb em Leitura é descrita de 0 a 375 pontos. Um patamar de mais de 200 pontos de proficiência, para a 4ª série nesse foco, pode ser considerado próximo ao adequado, pois nesse ponto os alunos consolidaram habilidades de leitura e caminham para um desenvolvimento que lhes possibilitarão seguir em seus estudos com bom aproveitamento. Fato este que não ocorre em nenhum dos estados da região sudeste.

O estado brasileiro que obteve maior pontuação em Língua Portuguesa foi o Distrito Federal com 193,0 pontos.

Em Matemática, na 4ª série, em nível de Brasil, não houve modificações, considerando os intervalos de confiança calculados pelo procedimento estatístico mais rigoroso, apesar de a média ter passado de 176,3, em 2001, para 177,1, em 2003. Nesse patamar de rendimento, os alunos demonstram habilidades ainda bem elementares para quem está concluindo a primeira etapa do ensino fundamental, como leitura de horas e minutos apenas em relógio digital e multiplicação com número de um algarismo.

A escala em Matemática é mensurada de 0 a 425 pontos. Uma média satisfatória para este nível de escolarização seria de pelo menos 200 pontos. Fato este que não ocorre em nenhum de nossos estados. O estado que obteve maior pontuação foi o Distrito Federal com 199,8 pontos, aproximando-se bastante da média satisfatória esperada.

4ª série do Ensino Fundamental – Língua Portuguesa e Matemática Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências Língua Portuguesa – 4ª Série EF - Brasil – Saeb 2001 e 2003

Língua Portuguesa:

Estágio                  2001               2003

Muito Crítico       22,2                   18,7

Crítico                 36,8                  36,7

Intermediário       36,2                    39,7

Adequado              4,9                    4,8

Total                 100,00              100,00

Legenda: construção de competências e desenvolvimento de habilidades de leitura de textos de gêneros variados em cada um dos estágios (resumo). LP – 4ª série

Muito Crítico -Não desenvolveram habilidades de leitura mínimas condizentes com quatro anos de escolarização. Não foram alfabetizados adequadamente. Não conseguem responder os itens da prova.

Crítico -Não são leitores competentes, lêem de forma ainda pouco condizente com a série, construíram o entendimento de frases simples. São leitores ainda no nível primário, decodificam apenas a superfície de narrativas simples e curtas, localizando informações explícitas, dentre outras habilidades.

Intermediário -Começando a desenvolver as habilidades de leitura, mas próximas do nível exigido para a série. Inferem informações explícitas em textos mais longos; identificam a finalidade de um texto informativo; reconhecem o tema de um texto e a idéia principal e reconhecem os elementos que constroem uma narrativa, tais como o conflito gerador, os personagens e o desfecho do conflito; entre outras habilidades.

Adequado -São leitores com nível de compreensão de textos adequados à série. São leitores com habilidades consolidadas. Estabelecem a relação de causa e conseqüência em textos narrativos mais longos; reconhecem o efeito de sentido decorrentes do uso da pontuação; distinguem efeitos de humor mais sutis; identificam a finalidade de um texto com base em pistas textuais mais elaboradas, depreendem relação de causa e conseqüência implícitas no texto, além de outras habilidades.

Em 2001, 59% dos estudantes da 4ª série do ensino fundamental estavam nos níveis muito crítico e critico. Esse percentual, em 2003, caiu para 55%.Se essa diferença obedecer a uma progressão aritmética, só teremos resolvido este problema no ensino de Língua Portuguesa no ano de 2031.

Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências Matemática – 4ª Série EF – Brasil - Saeb 2001 e 2003

Matemática:

Estágio                2001              2003

 Muito Crítico     12,5              11,5

 Crítico                 39,8             40,1

Intermediário        40,9             41,9

Adequado               6,8               6,4

Total                   100,00          100,00

Legenda: Construção de competências e desenvolvimento de habilidades na resolução de problemas em cada um dos estágios (resumo). MAT. – 4a série

Muito Crítico -Não conseguem transpor para uma linguagem matemática específica, comandos operacionais elementares compatíveis com a série. (Não identificam uma operação de soma ou subtração envolvida no problema ou não sabem o significado geométrico de figuras simples).

Crítico - Desenvolvem algumas habilidades elementares de interpretação de problemas aquém das exigidas para o ciclo. São capazes de reconhecer partes de um todo em representações geográficas e calcular áreas de figuras desenhadas em malhas quadriculadas contando o número de lados; resolvem problemas do cotidiano envolvendo pequenas quantias em dinheiro.

Intermediário- Desenvolvem algumas habilidades de interpretação de problemas, aproximando-se do esperado para a 4a série. Entre outras habilidades, resolvem problemas do cotidiano envolvendo adição de números racionais com o mesmo número de casas decimais, calculam o resultado de uma adição e subtração envolvendo números de até 3 algarismos, inclusive com recurso e reserva, de uma multiplicação com um algarismo.

Adequado - Interpretam e sabem resolver problemas de forma competente. Apresentam as habilidades compatíveis com a série. Reconhecem e resolvem operações com números racionais, de soma, subtração, multiplicação e divisão. Além das habilidades descritas para os estágios anteriores, resolvem problemas que utilizam a multiplicação envolvendo a noção de proporcionalidade, envolvendo mais de uma operação, incluindo o sistema monetário e calculam o resultado de uma divisão por número de 2 algarismos, inclusive com resto.

Constata-se que entre 2001 e 2003 não houve mudanças significativas nos percentuais de estudantes nos estágios muito crítico e crítico. Na situação da Matemática em relação a Língua Portuguesa, pela observação feita nos dados exportados do SAEB, se analisada a questão do tempo de resolução desta situação, tendo como parâmetro os anos 2001 e 2003, pela progressão aritmética,seria um resultado de estagnação. Isso é uma constatação crítica diante de uma política educacional que constantemente anuncia cursos de capacitação de professores, congressos, seminários, teorias e mais teorias pedagógicas, mudanças constantes nos sistemas de avaliação e de ensino, na sua grande maioria importadas dos países desenvolvidos, com outra realidade educacional e efetivamente os dados mostram que os objetivos não estão sendo alcançados.

Conclusão

Um dos objetivos a serem alcançados com o trabalho desenvolvido é fazer com que o aluno use a língua, conheça o gênero discursivo, aprenda a se comportar criticamente diante dos fatos e a interagir nas disciplinas por meio da leitura, compreensão e escrita. Com isto, o aluno será capaz de desenvolver no mundo letrado a capacidade de suspeitar daquilo que se lê e descubra, perceba, o verdadeiro sentido das palavras dentro de um contexto proposto.

Os alunos que participaram deste trabalho estavam classificados de acordo com a tabela do Saeb em uma média de 65% no estágio crítico e 35 % no estágio muito crítico. Analisando-se os resultados obtidos com a produção dos alunos, quanto ao conteúdo das disciplinas e desenvolvimento da escrita, leitura e compreensão houve uma mudança bastante significativa no quadro: 10% dos alunos permanecem no nível crítico , 65% passaram para o estágio intermediário e 25% alcançaram o nível adequado.

Muito mais significativo do que dados estatísticos, é poder perceber que os alunos estão em processo de desenvolvimento constante e que a metodologia usada tem servido como base para reverter a realidade crítica dos nossos alunos.

A familiarização com a escrita científica exige um planejamento prévio para organizar idéias e atenção à clareza dos conceitos nas disciplinas. Os alunos perceberão que além da linguagem cotidiana, ou seja, a informal, há a linguagem formal. A partir desta dicotomia passarão a compreender o uso da linguagem dentro de cada contexto social, facilitando a comunicação. Este é um passo para iniciar a formalização de conceitos matemáticos, a escrita e compreensão de postulados e teoremas.

Enfim, trabalhar a linguagem, escrita e compreensão é dever de qualquer professor, independente da disciplina. A capacidade de compreender, aprender matemática e perceber a interação entre as disciplinas é direito de todos.

Referências Bibliográficas

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Carraher, T.; Carraher, D.; Schilemann, A. Na vida dez, na escola zero. São Paulo: Editora Cortez., 1987.

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Ler e Escrever: Compromisso de Todas as Áreas, Iara Conceição Bitencourt Neves e outros, 232 págs., Ed. da Universidade

Ler, Escrever e Resolver Problemas, Kátia Stocco Smole e Maria Ignez Diniz (orgs.), 204 págs., Ed. Artmed,

- Marilyn Frankenstein "Educação matemática crítica: uma aplicação da epistemologia de Paulo Freire" publicado em Educação Matemática, Maria Aparecida V. Bicudo (org.),Editora Moraes, São Paulo, s/d; pp.101-137.

-Menezes, L. (1996). Concepçºoes e práticas de professores de Matemática: Contributos para o estudo da pergunta. Lisboa: Associação de Professores de Matemática.

Moreira, Marco e Masini, Elcie. Aprendizagem Significativa - A teoria de David Ausubel. São Paulo P: Editora Moraes, 1982

Moysés, Lúcio. Aplicações de Vygotsky à educação matemática. São Paulo: Papirus, 1997

 
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