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  RELATO DE EXPERIÊNCIA: A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER PROFESSORA

Ligia Maria de Oliveira Regino – Grupo FORMAR – Ciência FE – UNICAMP Projeto do Grupo de Formação CONPPEC
Jorge Megid Neto e
Maria Inês de Freitas P. S. Rosa: Coordenadores

Com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96 fazendo parte de nossas vidas profissionais, independentemente das críticas de que é passível, surgem maiores possibilidades de aperfeiçoamento dentro das Universidades, dentre as quais a criação deste grupo, o CONPPEC.
Com momentos de encontros, desencontros, de desânimo e certezas que começamos uma odisséia à procura do nosso espaço como profissionais, mulheres, mães, enfim, à procura de nós mesmas.
Tivemos algumas tarefas simultâneas solicitadas pelo nosso professor orientador, não só na busca de aperfeiçoamento no ensino de Ciências este grupo encontrou espaço, mas também para pensar como nos constituímos professoras, ficando claro o quanto nossa vida pessoal esta ligada à profissional.
Juntamente com a reflexão sobre nossos planejamentos escolares, registramos o nosso dia a dia pessoal e profissional ao longo de uma semana, passando a refletir sob essa perspectiva.
Novos questionamentos surgiram. Como se constitui um professor? Como um professor se forma ao longo do tempo? Quais as determinações desse professor, tanto do ponto de vista pedagógico como também fora da escola? Que aspectos/elementos determinam a pessoa, constituindo o ser humano como profissional?
Percebemos o quão estamos sozinhas em nossas salas de aula, que a teimosia, à vontade, o profissionalismo e o carinho pelo que fazemos é imenso. São nossos alunos que nos preenchem inúmeras vezes o vazio pela falta de estrutura e, por eles, superamos nossos limites.
Um outro ponto comum é a necessidade de estarmos na busca de acrescer conhecimento, refletindo sobre a nossa prática nas turbulências do dia a dia da sala de aula, enfim, renovar.
Chegar até aí foi-nos muito difícil. Introduzir uma ou mais situações novas, onde os conflitos aumentam, quebrando condutas, desmistificando conceitos já organizados, onde somos mulheres, mães, esposas, divididas muitas vezes em abraçar a família ou dar-nos o direito da nossa satisfação profissional.
O grupo participou da disciplina FE 190 - Pesquisa e Metodologia em Educação em Ciências do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da Unicamp, como proposta de ampliação de conhecimento dos integrantes em relação a metodologias de pesquisa científica, coerência de procedimentos metodológicos adotados em trabalhos científicos, análise de documentos deste caráter, além de discussões mais gerais sobre os objetivos, finalidades e compromisso social da pesquisa acadêmica.
Esse estudo ofereceu mais uma oportunidade de conhecimento e também aprendizagem para a realização de futuros trabalhos que necessitem de rigor científico. Foi uma grandiosa oportunidade de aprofundamento de nosso conhecimento na área acadêmica.
Não há como negar diante de todo esse processo a contribuição destes encontros como referencial reflexivo, proporcionando parâmetros de auto-avaliação, contribuindo para nossa formação na área de Ciências Naturais, como também nos instrumentalizando para a realização de um trabalho de melhor qualidade com nossos alunos.
Torna-se notória a necessidade da articulação universidade - escola no propósito da reflexão sobre o processo educativo e na busca contínua pelo seu aprimoramento.
Após cinco anos de trabalho cada um dos integrantes do grupo seguiu um caminho. O crescimento é inevitável. Hoje me sinto um pouco mais forte, mas sozinha. E com certeza posso afirmar que somente a união da teoria (professor universitário) e a prática (professor da educação básica e média) todos os profissionais da educação, sem distinção, poderiam crescer.
A minha conclusão é que se faz necessário estar sempre refletindo a educação e a sua prática, mas isso se torna impossível quando se esbarra na “... dupla coerção política que a Modernidade inventou e que nos aprisiona: de um lado, a individualização crescente; de outro lado e simultaneamente, a totalidade e a saturação das coerções impostas pelo poder”.( Veiga-Neto, 2003).
É necessário que nós professores da educação básica e média tenhamos oportunidade de conhecer e utilizar as produções acadêmicas como também sermos vistos como produtores de conhecimento. Indagar como nos constituímos como sujeitos de conhecimento, como sujeito de ação sobre os outros e como sujeito de ação moral sobre nós mesmos. Esses são os três eixos em que a obra de Foucault se ordena. Para isso é necessário estar dentro da universidade abrindo novos espaços de liberdade para assim sermos donos da nossa história. Meu relato de experiência conta um pouco dessa trajetória, que é interrompida não sei se por opção ou por acaso.

A Insustentável leveza do ser, professora.

“Quando volto para a escola carrego
livros e cadernos, a aula preparada,
as provas corrigidas... Carrego também
os filhos que ficam e os problemas da
casa que deixo para trás”. (Arroyo, 2002)”.

Professora de escola pública


Iniciei minha carreira com idade bem acima da maioria dos alunos que freqüentavam o curso de magistério. Por ocasião em que terminei o segundo grau dei prioridade a constituir uma família. Após sete anos as necessidades eram outras. Foi quando optei voltar aos estudos. O magistério era o mais próximo da minha realidade naquele momento. Formei-me em 1989, aos trinta e seis anos.
Muito provavelmente, como outros professores, tive muita dificuldade em dominar um vocabulário peculiar usado entre as pessoas da escola onde iniciei a minha carreira. O registro das minhas aulas não fazia parte do meu cotidiano escolar. Outra dificuldade era o planejamento, apesar de ter visto no magistério a sua importância, naquele momento, a minha prática divergia da teoria. Logo, aquele documento era mera cópia de planejamentos anteriores fornecidos pelo diretor e professores há tempo na escola. Isso me incomodava, mas diziam os professores ? não é necessário ter trabalho com um documento que ninguém vê. Por conseqüência escrevia o planejamento de um jeito e executava-o de outro. Era alterado no dia a dia a partir da percepção das dificuldades dos meus alunos.
Minha aprendizagem não se deu só no espaço formal da sala de aula, também junto aos meus pais, avós, tios e irmã. Nas viagens que fazíamos pelo interior e cidades históricas de Minas Gerais ou mesmo nas ricas informações históricas cravada por todo o Rio de Janeiro, cidade onde nasci e morei até os meus quatorze anos.
Minha família morou com os meus avós maternos, em uma casa no subúrbio do Rio de Janeiro, apesar da violência sempre presente nos morros que rodeiam o bairro, denominado Morro do Juramento. Sendo parte dele habitado e outra não, pois pertencia a CEDAG, companhia de água.
Era um hábito nosso irmos ao morro, na parte desabitada normalmente sozinhos, como uma forma de espairecer. Certo dia meu pai subindo o morro escorregou. Uma porção de terra saiu do lugar e a boca de um canhão apontou. Nesse momento meu pai foi em casa, pegou uma pá começou a cavar e achou dois canhões com o brasão português.
Indo à Biblioteca do Exército ele descobriu que o nome do morro havia sido dado pelos portugueses que travaram uma batalha com os espanhóis pela posse das terras, e foi feito ali um juramento que elas jamais pertenceriam a ninguém, seriam da coroa portuguesa.
Outro fato contado por meu pai foi a respeito uma espada encontrada em uma ilha da baia de Guanabara. A espada tinha as armas da república nela encravada porem sem a data. Mais uma vez meu pai foi à procura de informações. Ele descobriu que a ausência da data foi pelo fato que esta apenas foi definida após o ocorrido. Gravei esta data porque meu pai trouxe em outro momento um espadim que tinha a data da proclamação da república nele gravado.
Tudo isso meu pai contava após o jantar e eu aprendia fatos históricos dessa maneira. Como bom mineiro que era, nos ensinou a contar os causos tantos os históricos como aqueles de sua infância e até os de assombração.
No bairro em que eu morava, assim como todos do subúrbio do Rio de Janeiro, eram violentos. Sendo assim eu e minha irmã mais velha não íamos brincar na rua todos os dias. Era raro. Quando isso acontecia meu avô sentava-se com sua cadeira na calçada e ficava nos olhando com cuidados. O tempo era curto saíamos sempre ao cair da tarde por causa do intenso calor que fazia e o horário era rigoroso até às oito horas. Esse e outros cuidados que meus familiares tinham comigo e minha irmã fez com que minha infância fosse muito feliz.
Nesses dias chamávamos as colegas e escolhíamos a brincadeira; se só tinham meninas era de roda, se tinham meninos, era de pique e o preferido era pique bandeira e este demandava estratégias e agilidade.
As brincadeiras quando chegava da escola era sempre no quintal. Um lugar muito grande onde meu avô tinha a horta, bananeiras de todos os tipos, mangueiras, goiabeira, a da vermelha a mais gostosa, sapotizeiro, coqueiro, amoreiras fazendo uma cerca viva, um galinheiro. Os vizinhos tinham outros pés de frutas que sempre levavam para o meu avô que eram: jaca, carambola, cajá-manga, graviola, fruta do conde.
Não existiam muitos produtos industrializados; as compras de alimentos eram feitos nas vendas e feiras livres, complementada com o que meu avô plantava na horta e as frutas plantadas no quintal, as de época. A carne era de galinha e peixe por serem os mais baratos.
Nossa roupa minha mãe que fazia. Além disso, ser uma demonstração de carinho, o fato dela fazer a comida predileta, um doce ou mesmo um bolo, era uma alegria era intensa.
No mês de setembro era o mês de Cosme e Damião. No Rio de Janeiro é uma alegria para as crianças. Meu pai não permitia que saíssemos para pegar os saquinhos de doce, pois muitas crianças morriam nessa época, ele nos explicava. Como nossos vizinhos sabiam disso, dava um convite a minha mãe. Assim no dia e hora combinados, íamos pegar nossos saquinhos de doce. Enchíamos latas de biscoitos de doces era uma delícia ver e comer tudo aquilo.
Constituir-me professora passa, ainda hoje, por essas e outros momentos da minha infância só que a cada dia, a cada mês e a cada ano acrescento mais conhecimento e experiência a minha vida profissional.
Hoje, mesmo com todos os anos de exercício de docência ainda tenho momentos de medo e ansiedade. Como por exemplo: o significado do primeiro dia de aula para uma criança; falar aos responsáveis nas reuniões de pais sobre a dificuldade de uma criança em comportar-se no ambiente escolar sem que isso desencadeie espancamento; tomar uma decisão rápida com os alunos ou mesmo num momento em que tenha que ser mais enérgica.
Temo que meus alunos passem por experiências que marquem negativamente suas vidas assim como senti na minha infância a força do desconhecimento do processo ensino aprendizagem, onde fui vítima dos modismos na educação. Época, onde a psicologia podia explicar o aluno com dificuldade no aprendizado. Lembro-me nitidamente que após um teste de psicologia, foi dito na minha frente que eu tinha idade mental abaixo do normal, só porque eu não gostava da escola.
Também tenho muito presente como a força política interfere na educação. Um momento de medo e angústia, não só para minha família, foi no ano de 1964, no Rio de Janeiro, quando eu tinha 10 anos e vivenciei o golpe militar. A minha irmã era uma das estudantes com uma participação muito presente na UNE, saía em passeatas, nos jornais e na televisão. Meu pai era oficial do exército; na época precisou se expor para soltar minha irmã que estava presa dentro da Escola Nacional de Belas Artes, hoje Museu de Belas Artes, debaixo de bombas de gás lacrimogêneo. Naquele dia muitas moças e rapazes desapareceram e eu vi meu pai chorar.
A partir dessa época fomos proibidos de expor idéias, descontentamentos, falar sobre o golpe militar que foi durante anos comemorado erradamente em 31 de março de 1964. Eu me lembro nitidamente, deveria ser por volta de nove ou dez horas, a televisão anunciou que o presidente João Goulart tinha sido deposto. Minha mãe ficou muito agitada, com medo pelo que pudesse acontecer com o meu pai. Ela sabia do seu envolvimento com algum movimento de esquerda. Meu pai naquele momento estava no quartel, antigo Primeiro Exército, perto da Central do Brasil. Foram momentos difíceis para todos. Sentia muito medo, tinha a sensação que a qualquer momento alguém levaria minha família para os locais de tortura e eu não os veria mais, nunca mais.
Assisti ao longo de décadas as transformações capitalistas ocorridas, que não melhoraram em nada as condições de vida de grande parcela da população brasileira, ao contrário, agravaram-se. Uma vergonhosa estatística é o quadro cada vez maior de fome, miséria e morte do povo brasileiro. E escondido no Estado autoritário sob um falso ufanismo do “Brasil potência”, do “Celeiro do mundo”, “Ame-o ou deixe-o”. Agravando ainda mais a corrupção, a impunidade, o desrespeito ao trabalhador, a valorização da malandragem, o “levar vantagem em tudo”, do sofrimento e privações da classe trabalhadora, hoje nem mesmo com trabalho. (Malhem,1992)
Esse é um resgate de minha história onde assisti e vivenciei as relações de poder e de opressão no período militar e que hoje se manifestam de uma outra forma. Percebo a cada ano que passa uma sociedade com atitude cada vez mais agressiva, desconfiada, com medo, angustiada, vazia. Tendo a pessoa sua liberdade usurpada. Isso me sensibiliza e percebo um outro tipo de opressão vivida hoje, mais camuflada, tendo a mesma ou maior intensidade de alienação de mais uma geração. Francisco Catão, em seu livro “Pedagogia Ética”, expõe sobre o descompasso social vivido por uma falta de ética.
Assisto a cada ano que passa um grau cada vez maior de violência. No ano de 1999, assisti crianças com apenas oito anos de vida falarem dentro da sala de aula como é o esquema para compra de cola e maconha no bairro onde moravam. No ano seguinte, na mesma escola, peguei uma classe de crianças com doze anos extremamente agressivas umas com as outras. Quase todo dia o diretor e eu separávamos brigas. Em uma dessas ocasiões custou o armário da classe com uma briga de meninas, roubo de materiais e a vassoura da classe quebrada na cabeça de uma menina por ela ter sorrido talvez com ironia. No momento em que o aluno responsável foi retirado da classe agrediu o diretor fisicamente. E por fim, certo dia em minha ausência aconteceu à invasão da sala por quatro rapazes à mão armada, por causa de um roubo de relógio com ameaças ao professor que me substituía.
Uma de minhas práticas de trabalho era com filmes. Com esta mesma classe, toda semana, e isso constava do meu planejamento, era reservado para filmes sendo escolhidos por mim para trabalhar com um tema específico. Certo dia trouxeram-me um filme denominado “Esporte Sangrento”. Relutei em passar, pois era um filme sobre lutas. Aqueles alunos eram tão agressivos e se o diretor ou outro professor soubessem eu teria muito que explicar. Precisei colocar algumas regras e condições para passar o filme, aceitaram. No fim voltamos para classe e sempre conversávamos sobre o que tínhamos assistido. Para minha surpresa iniciaram um paralelo entre o filme e a vida real deles na escola. Contaram-me abertamente na sala de aula o esquema de pedágio dentro da escola na hora do intervalo e como arrecadavam dinheiro para não baterem nas crianças. Na conversa deixaram escapar que usavam um menino de alguma forma, que por problemas financeiros, havia mudado para o bairro, vindo de uma comunidade de classe média, e não tinha vivência com esse tipo de comunidade. Eles se faziam de colegas do menino com a permissão da mãe que trabalhava o dia todo e achava que era companhia para seu filho.Mais tarde vim, a saber, que extorquiam dinheiro do menino.
Certo dia informalmente disse à mãe que tirasse o filho daquele ambiente o mais depressa possível e que tudo que confidenciava a ela eu não confirmaria em público de forma alguma. Não queria por em risco minha vida, pois no que se refere aos órgãos da educação, nunca ouvi falar de algum respaldo legal ao professor. Sem saber como defender sua integridade física e ou moral, dentro da escola, que a todo tempo esbarra no ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, a inércia vigora e as pessoas acabam acomodando-se e a violência vai se instaurando de uma forma assustadora.
Nos quase vinte anos em sala de aula por mais que tenha experiência, nunca conseguirei, sozinha, fazer um planejamento que atenda a essas atitudes dentro de uma escola.
No ano de 1999, com esses acontecidos, repensei minha vida profissional, juntamente com ajuda de um especialista da área da psicologia e psiquiatria. Devido a uma depressão que tive, precisei esconder o tratamento dentro da escola que trabalhava, existia muito preconceito sobre tratamentos com psiquiatras e psicólogos. Essa necessidade poderia comprometer minha carreira, pois não tinha estabilidade em nenhum lugar onde trabalhava.
Apesar das experiências negativas e dos momentos de muita angústia, encontrei pessoas que me ajudaram muito e tudo isso fez amadurecer o meu fazer docente e a superar um insustentável peso.
Hoje, utilizo o planejamento de forma a contribuir com meu trabalho, ao fazê-lo sigo algumas regras distintas estabelecidas pela instituição em que trabalho seja na rede estadual ou na rede municipal, pois a estrutura das duas é diferente. Também tenho a necessidade de conhecer o meu aluno e a sua comunidade. Desse modo posso estabelecer um conteúdo mínimo e a partir daí, dependendo do interesse, ampliar o máximo possível, assuntos a serem desenvolvidos.
Faz-se necessário conhecer o nível de comprometimento que as famílias de meus alunos têm com a escola e o quanto posso contar com elas. Para isso na primeira reunião de pais levo a eles o meu trabalho e coloco em votação se aceitam ou não as tarefas que lhes serão delegadas. Na maioria das vezes os pais presentes concordam. A parceria será confirmada no momento do retorno das ações dos pais e o resultado dos trabalhos será avaliado com eles.
Procuro conhecer o espaço físico da sala e da escola levando-os em consideração em meu planejamento. Também se faz necessário construir um clima de respeito que surge de relações justas, sérias, generosas e humildes assim surgindo um ambiente prazeroso.
A universidade teve um papel muito importante não só na minha vida acadêmica como também na reflexão da minha vida profissional. E foi no grupo de estudos, o CONPECC, que me dei conta da diversidade de afazeres ao registrar minha vida no período de uma semana. Esses registros ocorreram na penúltima semana do mês de março. Era início de ano onde o vínculo professor e aluno não está totalmente fechado. Essa atividade foi exaustiva como outra, tanto que nos três últimos dias não consegui registrar mais nada.
No ano de 2001, trabalhei com duas classes. Na parte da manhã, educação infantil crianças de dois a três anos e à tarde com crianças de seis e sete anos no ensino fundamental.
Foi exaustiva como outras, tanto que nos três últimos dias não consegui registrar mais nada. Fazendo um resgate dos registros feitos esse ano, as situações que mais me desgastavam eram momentos dentro da sala de aula onde eu não encontrava apoio da escola e me via em situações de um desgaste emocional de grandes proporções. Na classe da educação infantil, havia 25 crianças que choravam muito; era choro por quatro horas seguidas apenas eu para segurá-las no colo dando um pouco de conforto por estarem longe das famílias com uma pessoa que nunca tinham visto.
À tarde com crianças de primeira série a situação também era desgastante, pois haviam saído de uma escola pequena onde as mais velhas eram elas e estavam chagando em uma escola onde elas eram as mais novas, com adultos desconhecidos e um ambiente de regras mais rígidas.
À noite, no último ano de pedagogia, onde os trabalhos precisavam ser muito mais elaborados, pois percebia uma exigência maior do que nos anos anteriores.
Pelo menos dois sábados por mês aconteciam os encontros do CONPPEC. Sobrava pouco tempo para dividir entre o cuidado com a casa e a educação dos filhos, essa então era uma tarefa por vezes complicada. Nesta época já havia me separado e os três filhos ficaram sob minha responsabilidade. Apesar de serem educados da mesma maneira, são totalmente diferentes um do outro, mas todos dependentes e carentes como todo adolescente. Administrar todas essas tarefas foi muito difícil mais uma vez pedi ajuda a um terapeuta, como também a de meus filhos. Precisaram fazer as tarefas da casa que eu por muitas vezes não podia. Mesmo com a ajuda deles precisava fazer muita coisa para manter a higiene da casa e a nossa alimentação. A parte mais interessante é que, no início, eles reclamaram muito e, depois, mais ainda quando perceberam que as tarefas domésticas não têm fim. Estávamos sempre procurando uma solução. Durava pouco tempo até verificarmos que não dava certo, e assim passou o tempo. Minha situação financeira não permitia ter uma pessoa para ajudar.
Com todas essas tarefas eu quase não podia ter vida social. Precisei abrir mão de coisas importantes para mim, como ler um bom livro, escutar música, ir ao cinema, teatro, exposições de arte, sair da cidade à procura de lugares onde a natureza poderia se mostrar com toda sua exuberância ou mesmo encontrar com amigos para um bom papo.
Essas lembranças me reportam a um tempo de minha carreira onde pude optar em trabalhar apenas um período. Este foi um grande prazer. Fazia pesquisas, ia procurar informações que não tive na minha formação para alfabetizar uma classe de ciclo básico, que já estava no segundo ano na escola. Foi aí que senti a solidão do professor, percebi que pouco ele pode fazer. Pesando bem até que ele faz muito com o pouco que possui.
Hoje há um grande desafio, talvez o maior de todos os tempos, a sobrevivência ao caos social já instaurado. E nós profissionais da educação, tentamos de muitas maneiras procurar formas de amenizar toda uma problemática que a sociedade leva para dentro da escola, mas precisamos resistir a um processo de educação nada democrático que se vive.
O ser humano necessita optar pelo prazer e hoje quase não há muito tempo para o prazer. Para muitas pessoas não há tempo para sorrir, não há tempo para apreciar o céu quando amanhece, onde os raios de sol entram pelos eucaliptos fazendo caminhos mágicos até o infinito. Quando anoitece, principalmente no inverno, as estrelas aparecem. Procurar as Três Marias e o Cruzeiro do Sul e estrelas cadentes para fazer um pedido. Nem mais conseguimos parar para ouvir o canto do sabiá, do bem-te-vi e apreciar a chegada das andorinhas anunciando o verão. Perceber a vida fluindo da terra, acompanhar as formigas para ver o caminho que fazem. Achar a minhoca no fundo do quintal para pescar. Ver os pintainhos nascendo, a semente brotando. Colher o que plantar. Comer o fruto do pé. Como o ser humano pode definir o seu lugar? Se ele não tem mais lugar? O tempo de hoje é apenas para resolver coisas relacionadas a ganhar e a gastar e a vida com toda sua beleza passa despercebida. E nós passamos a vida triste. E pior, sem saber que é triste.
Somos seres capazes de sonhos tão lindos e pesadelos tão horríveis. Percebo que nos sentimos por vezes tão perdidos, tão isolados, tão sozinhos, mas não estamos sós. E que em toda nossa busca a única coisa que torna o vazio suportável são os outros.
Quando eu penso em prazer dentro da minha profissão, verifico que são os momentos que de alguma forma estou proporcionando a alguém a oportunidade de melhorar-se, pois na prática de partilhar encontro grande satisfação. Como também conhecer parte do extenso conhecimento acumulado pelo Homem.
Ao rever trabalhos registrados de anos anteriores, percebi tantos prazeres e muita angústia que me fizeram crescer como profissional e como pessoa.
Para não fugir à regra, como disse Joanir Gomes Azevedo no livro Formação de Professores Possibilidade do Imprevisível: “Quem, como eu, teve ou ainda tem a oportunidade de participar de encontro de professores e professoras podem perceber que é muito comum a fala serem iniciadas com a” contação “de um caso”.
Logo, iniciarei a minha fala contando um “caso de professora”. Aconteceu em uma escola do estado onde permaneci durante nove anos. Eu ainda não sabia que aquele era o meu último ano nessa escola. Depois disso comecei a mudar mais freqüentemente de escola. Foi o ano de 1998, trabalhei com uma classe de terceira série, onde pudemos sentir e partilhar as nossas vivências. Trabalhei com projetos desenvolvidos a partir das necessidades e curiosidades deles. Paulo Freire resume bem o meu cotidiano, com aquela classe: "Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade".(Freire,1996). Tentarei falar um pouco desta experiência que como todas, prazerosas ou não, é única. Neste ano, ainda não havia planejamento novo, era uma cópia de planejamentos anteriores. Mas eu ia registrando as aulas dadas, com fotos e álbuns.
Nossa sala não tinha sido construída para ser sala de aula, mas a transformamos em uma e a mais bonita de toda a escola. Iniciamos nosso ano sem nos conhecermos muito bem, e para isso fazíamos alguma tarefas para eu saber em que ponto da aprendizagem os alunos estavam. Todo o dia era lida uma história. Certo dia li uma história que despertou muita atenção, pediam sempre para repeti-la. Foi quando sugeri fazer uma peça de teatro sobre o conto. E todos concordaram com esse trabalho. Durou duas semanas entre a construção de cenário, figurino, decidir os atores e ensaios. Nesse trabalho fomos desmistificando conceitos, preconceitos e adquirindo autoconfiança. Apresentamos a peça. Foi um sucesso. Todos riram muito, pois era uma comédia.
Uma outra atividade de classe era escutar música durante as aulas. Clássicas, populares brasileiras, rock, folclóricas, infantis. Certo dia levei um CD do Triny Lopez, artista de sucesso dos anos 60. Eles ouviram “La Bamba”. Foi um alvoroço. Todos cantaram e queriam dançar. Parei com o que estava fazendo e comecei a explicar a época daquela música, da revolução de costumes e da liberdade que o jovem teve pela imposição de suas necessidades. Ficou combinado que eu levaria um filme onde eles pudessem observar essa mudança. E então saiu mais uma apresentação do rock dos anos 50 e 60. Foi um outro sucesso e todos que estavam ali dançaram como também aprenderam um pouco conosco. Além de entendermos o contexto histórico, também víamos os lugares onde os fatos aconteceram. Utilizamos mapas, calculamos o tempo que havia passado, elaborávamos textos. Enfim realizávamos um trabalho interdisciplinar.
Após, voltamos aos conteúdos que havíamos de cumprir. Um outro hábito era de leitura na classe. Fazíamos pesquisa sobre qualquer tema escolhido por eles. Os livros eram espalhados nos grupos ou individualmente. Eu estava muito interessada em passar-lhes um pouco de conhecimento sobre as obras de arte, tinha ido ao museu do MASP, em São Paulo, na exposição de Leonardo Da Vinci. Como eu gostaria que meus alunos compartilhassem comigo daquela maravilha, as obras de um mestre da arte renascentista. Tinha muitos livros sobre os Mestres das Artes, recortes de obras famosas e outros livros que podiam me dar segurança no trabalho com arte na sala de aula. Fazia alguns anos que queria trabalhar as obras de arte e pintores famosos, mas não sentia segurança. Foi quando resolvi começar a ler os livros sobre artista para os alunos e comecei por Leonardo Da Vinci, não houve muito interesse, mas no dia seguinte li Van Gogh, e esse foi de máximo interesse, assim comecei um outro Projeto e outra vez foi intensa a satisfação para nós. Fiz todo o possível para irmos ao Masp, mas ficaria muito caro e eu não pude levá-los. O mais importante é que eles conseguiram, cada um a seu modo, captar todo o movimento das obras como também os problemas que os artistas enfrentavam para seguirem seus ideais. Também apresentei as obras do fotógrafo Sebastião Salgado. E mostrar a eles um pouco da miséria de nosso país como também proporcionar o acesso à cultura clássica universal onde geralmente uma minoria conhece.
Nesse mesmo tempo a Secretaria de Educação determinou que fizéssemos um trabalho sobre a dengue. Optei por terminar o que estávamos fazendo e depois iniciar o trabalho. Os casos estavam virando quase uma epidemia, como também a febre amarela e a malária, doenças já quase erradicadas, estavam voltando com toda força. Não podia apenas falar o que os panfletos diziam, o problema era de uma política de saúde, ecológica, social, saneamento básico e do êxodo rural. E fui pesquisar. Vi uma revista que trazia um artigo sobre a peste negra, na Europa, onde dizimou mais da metade da população desse continente. Li a revista para os alunos e fizemos comentários sobre isso.
Foi um trabalho onde os alunos entenderam também as suas condições de vida. O esgoto a céu aberto no bairro foi logo identificado como um problema a ser resolvido. Perceberam que precisavam fazer alguma coisa. Foi quando perguntei se eles conheciam o presidente da Associação de Bairro. E a resposta foi afirmativa. Convidamos formalmente o Sr. Antônio para ir à escola. E ele foi. Mais um trabalho de muito aproveitamento para nós. Choviam perguntas, queriam conhecer mais sobre o bairro, suas dificuldades e como poderiam ajudar. Visitamos a Associação, que foi transformada temporariamente em uma escola municipal com a promessa de se fazer uma creche e nada foi feito. No fim do passeio eles estavam tão felizes e cantavam refrões a respeito da nossa escola e de como estavam contentes por estudarem lá.
Nos dias de Educação Física, eles pediam para jogar. Começamos a jogar queimada, pois era um jogo que envolvia a todos. Com o objetivo de ter um campeonato entre classes de terceiras séries da escola. Assim foi feito; aconteceu o “I Campeonato de Queimada das terceiras séries”. Nossa classe foi campeã.
Após as férias tive uma reunião de pais e percebi o quanto eles acreditavam no meu trabalho, também estavam felizes pelo aprendizado evidente dos filhos. Esse foi um dos critérios que usei para avaliar o nosso trabalho como também os trabalhos escritos que eles produziam, as apresentações e a desenvoltura nas discussões sobre os problemas sociais.
Um outro trabalho que estava por vir era sobre o folclore. A escola queria fazer uma exposição. E a nossa classe queria esmerar-se nos trabalhos e assim o fizemos. Teve até a participação de familiares que eram artesãos. Nossa classe fez uma apresentação sobre as músicas e brincadeiras do folclore. Para minha surpresa, mesmo as crianças que normalmente os pais não permitiam que dançassem por motivo de religião, não houve interferência, eles tinham entendido que aquelas apresentações faziam parte do aprendizado e que jamais eu as exporia a uma situação constrangedora perante a comunidade. Os pais me conheciam há pelo menos oito anos, mais uma vez estávamos satisfeitos, fizemos e demos o melhor de nós.
Agora era o mês de setembro; começava primavera e as preparações para uma estação tão bela. E assim arrumamos a nossa sala com tantas flores que ela ficou ainda mais bonita, desde o chão até o teto. Nenhuma das outras turmas que freqüentavam a sala tiveram vontade de desarrumar, fato comum e corriqueiro quando a turma do outro período destrói as coisas que da turma anterior.
Como sempre, de tempos em tempos aparecem as figurinhas de chicletes e isso era uma forma de tirar a atenção das crianças. Percebi que poderia mudar o comportamento delas utilizando aquelas figurinhas de outra maneira. Eram sobre animais em extinção. Fizemos um cartaz com os seguintes dizeres: "Não somos Green Peace, mas lutamos para preservar a natureza". Discutimos o significado daquela expressão em inglês. Eles entenderam e pediram se eu poderia ensinar outras palavras em inglês. Expliquei que não sabia muito. Assim mesmo quiseram e ensinei-lhes como se contavam os numerais e se escreviam algumas palavras e expressões. Foi uma curiosidade momentânea depois os alunos desinteressaram-se e eu não tinha como levar avante, pois não sabia muito mais.
Era a vez de conhecermos Campinas: foi um belo trabalho! Anteriormente, talvez dois meses antes, comecei minha pesquisa sobre Campinas. Aprendi muito e depois pude fazer com que os alunos gostassem de história junto comigo. Terminamos fazendo um “city tour" por Campinas, mas para minha surpresa o ônibus não poderia passar por dentro da cidade e assim não visitamos a catedral, o teatro, o lugar onde os tropeiros dormiam, o marco inicial da cidade, a casa onde nasceu Carlos Gomes hoje transformada em prédio, o cinema Ouro Verde transformado em estacionamento, o casarão dos Barões do Café, e as ruas com histórias pitorescas. Mas assim mesmo foi bom porque visitamos outros lugares interessantes.
Nossas avaliações eram muito legais. Os alunos escreviam muito sem medo de dizerem o que sentiam e queriam, mostrando o quanto tinham aprendido.
Esses trabalhos aconteceram até novembro e a classe toda participava com exceção de um aluno, que se recusou a ir à escola. Até hoje não soube bem porquê. Fui a casa dele, conversei com a sua mãe, ele tentou algumas vezes voltar para a escola, mas parecia que ali não era o seu lugar, queria esta com a sua criação de galinhas, que sua mãe não concordava. Parecia que queria encontrar o seu caminho e que não era o da escola.
Este é o relato de uma prática que me deu enorme satisfação. Outras aconteceram, das quais não foi possível estabelecer tal nível de satisfação.
Refletindo sobre essa experiência lembro das palavras de Marly Costa Patrão: "Criar condições que facilitem a formação de que tipo de homem? Para que sociedade? (...) Toda proposta de Educação é, também, uma proposta de valores, de um tipo de homem e de sociedade, requerendo umas reflexões prévias, contínuas; portanto necessitando de uma prática coerente com essa proposta. A prática educativa, na escola, deve ser reorientada no sentido de reconstrução e interiorização de um novo conceito de educação e do papel da escola" ( Patrão, 2000).
Percebo que é preciso ter tempo de procurar, pesquisar, avaliar o que foi feito e ver se deu certo, o que deu certo, porque não deu certo, se poderá ser feito outras vezes. Essa é uma dificuldade encontrada pelo professor que tem que ser refletida não só por ele, mas por todos da escola. Marly Costa é coerente em suas palavras quando se refere ao professor: "Um dos caminhos é valorizar esse indivíduo, sua cultura, ampliando sua capacidade reflexiva e criativa, nesse processo, dar-lhe voz. É importante conhecer o pensamento desse educador, o sentido atribuído por ele às suas ações. O agir de forma espontânea escapa à observação, à análise e à crítica. A presença difusa de conceitos, significados e sistemas de valores podem inibir a possibilidade de um pensamento reflexivo sobre a vida, sobre a atuação do educador no cotidiano escolar”.(Patrão, 2000).

CONSIDERAÇÒES FINAIS

No momento em que pensei no título desse trabalho, reportei-me ao romance de Milan Kundera; “A Insustentável leveza do Ser”. Ítalo Calvino fez um comentário especialmente preciso sobre esse romance: “O peso da vida, para Kundera, está em toda forma de opressão. O romance nos mostra como, na vida, tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba bem cedo se revelando de um peso insustentável. Apenas, talvez, a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam a condenação”.
Os personagens experimentam, cada um a sua maneira, o peso insustentável que marca a vida. Eles têm um permanente exercício de reconhecer e de tentar amenizá-la. Por opção ou por acaso cada um deles, de sua maneira, exercitam uma forma de reconhecer a opressão e amenizá-la.
Nas palavras de Calvino encontrei semelhanças na minha vida, pois percebi muita beleza. Inenarrável, pois essa não se vê. Essa é uma beleza que se sente. .Quando fiz minhas opções em muitos momentos elas se tornaram insustentáveis. Mesmo assim não desisti. Acredito ser essa uma relação de amor com tudo e todos a minha volta. E o amor exige muito de nós. Estarmos sempre à procura de respostas. E “apenas, talvez, a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam a condenação” conforme nos fala Calvino.
O Conppec é para mim o exercício de sustentar minhas escolhas profissionais que por vezes, revela-se de um peso insustentável.
Nos nossos encontros percebemos o quanto é difícil um trabalho em grupo, mas certamente sabemos o que queremos e a necessidade deste trabalho para o nosso crescimento. Mas também temos consciência que para isso é necessário compromisso e muitas vezes acumulamos muito dos nossos afazeres de casa, com filhos e marido.
Quando da produção deste texto, a trajetória da procura pelo crescimento junto ao grupo me trouxe muitas recordações. Nas reflexões obtive consciência, que a influencia das professoras que tive pesa muito sobre a professora que sou. E que nem sempre podemos escolher a profissão que queremos, mas a que é possível. Foi assim na minha vida e deu certo. Exatamente por ela ser, ao meu ver, uma das profissões mais envolventes como também pelo fato de ser uma permanente relação com pessoas e não com coisas.
Nos nossos encontros refletimos sobre nosso espaço, a escola. E as teorias que eu tinha sobre este espaço foram reforçadas. Há necessidade de enfrentar, romper e para tal refletir a escola hoje. Conhecer suas dificuldades, diversidades e a sua complexidade.
Essa complexidade é ressaltada por Aquino ao falar sobre as funções da escola: “Na sociedade urbana e industrializada, a escola tem uma função social, na medida em que compartilha com as famílias a educação das crianças; uma função política, no que diz respeito à contribuição de cidadãos; e uma função pedagógica, pois é o local para a transmissão-construção de um conjunto de conhecimentos relevantes e formas de operar intelectualmente, segundo padrões deste contexto social e cultural".
Mas na verdade a escola é um local onde acaba passando conceitos e ideologia voltados à produção de um mundo globalizado. E nós, professores, não podemos nos apegar a uma cultura imediatista com uma visão estreita do conhecimento e da ciência imposta pelo mercado. Mas somos levados a separar todo um conhecimento em partes. Sendo que alguma dessas partes será valorizada pelo que o mercado necessita.
Em outro sentido as funções da escola são mais amplas. Nas palavras de Arroyo: “Sabemos que as ciências e as tecnologias se justificam na história pelo seu papel no desenvolvimento humano. A infância e a juventude têm direitos a esses saberes pela função plena que tiveram e têm no desenvolvimento social e cultural. Como têm o mesmo direito à totalidade dos saberes e da cultura. Têm direito à memória, às artes e às múltiplas imagens, às teorias e especulações sobre o sentido de sermos humanos, sobre as relações sociais que regulam o convívio, a inclusão e a exclusão”.(ARROYO, 2000).
Esta é parte da minha vida de professora. Onde as tentativas de inovação pedagógica passam pela reflexão do pensar a minha prática de ensinar, socializar, educar e de sentir prazer ou angústia. Como também a procura da segurança individual e coletiva, à vontade de acertar, de criar com liberdade e responsabilidade. Mas seguramente sozinha será insustentável, a leveza do ser professora.

BIBLIOGRAFIA:

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BIZZO, Nélio. Ciências Fácil ou Difícil? São Paulo: Ática, 1998.

FONTANA, Roseli A. Cação. Como nos Tornamos Professoras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

LÜDCKE, Menga. O Professor e a Pesquisa. Campinas: Papirus, 2001.

SOARES, Magda, Roberto A. Follari, Regina Leite Garcia(org). Para Quem Pesquisamos; Para Quem Escrevemos. São Paulo: Cortez, 2001.

MOCHCOVITCH, Luna Galano. Gramsci e a Escola. São Paulo: Ática,
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VEIGA-NETO, Alfredo. Foucault & a Educação.Belo Horizonte: Autentica,
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NAJMANOVICH, Denise. O Sujeito Encarnado. Rio de Janeiro: D, 2001.

ROSA, Maria Inês F. P. S. A Pesquisa Educativa no Contexto da Formação Continuada de Professores de Ciências. Campinas, Tese de Doutorado - Faculdade de Educação - Unicamp. 2000.

 
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