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DA
EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA A INCLUSÃO: A CONSTRUÇÃO
DE ESPAÇOS EDUCACIONAIS NÃO SEGREGADORES
Cássia Valéria Colhone
Elenir Santana Santana
Karen Toledo Solha
Ana Carolina de Souza
Carolina Cunha Barros
Cláudia Lima Duarte Cornélio
Elisabete Fernandes Pêra
Fábio Baptista Mazzini
Luciana C. Murari
Maria Cláudia Ferreira Corrêa
Maria Goreth de Lima Teixeira
Marina Santos Marchi
Maria de Lourdes Garcia
Roberta Sprocatti de Camargo
CEESD – CENTRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL SÍNDROME
DE DOWN
Introdução
A inclusão social e escolar apresenta-se como uma das principais
metas deste novo milênio. Amparada por força de lei, a idéia
de uma sociedade e escola abertas à diversidade tem sido a tônica
dos discursos atuais, a partir da constatação de que as
necessidades contemporâneas pedem pela solidariedade, respeito às
diferenças e mais sensibilidade aos problemas mundiais. Nesse sentido,
é importante refletir sobre a função da educação,
sobretudo quanto às concepções que têm determinado
as práticas educacionais e escolares. Mais do que uma exigência
legal, entendemos que a inclusão escolar deva ser parte de uma
nova forma de viver e conviver e de um amplo projeto político e
social. Mas, de que inclusão falamos?
Estar inserido nos diferentes grupos sociais é essencial à
vida de toda pessoa, com algum tipo de deficiência ou não.
É na convivência com os pares que as necessidades e potencialidades
humanas se apresentam e as dificuldades são superadas. Porém,
embora a educação de pessoas com deficiência tenha
os mesmos objetivos da educação dos demais educandos, muito
ainda precisa ser realizado para que a inclusão social e escolar
se concretize. A solicitação de melhores condições
de ensino, recursos materiais adequados e formação adequada
dos professores, diz respeito à educação escolar
de todos, mas a inclusão do educando com deficiência demanda
rever concepções e práticas e a provisão de
auxílios e apoio educacional necessários à sua escolarização,
no que representa contribuição significativa os atendimentos,
projetos e programas dos centros de educação especial, como
o CEESD. Nossa proposta de inclusão foi construída a partir
de uma história que, envolvendo educandos, familiares, profissionais,
escolas e outros grupos, substituiu uma estrutura de escola especial em
prol da educação inclusiva de seus educandos. Com a missão
de atender pessoas com síndrome de Down e famílias, o CEESD
tem o compromisso de ampliar a concepção da inclusão
oferecendo, por meio de diferentes linguagens, atendimentos diversificados
e interdisciplinares, momentos de capacitação, trabalho
com famílias e com as escolas regulares. É nessa perspectiva,
baseada no princípio da não segregação e no
respeito às diferenças, que se constrói e se fortalece
a inclusão social e escolar que defendemos.
1. Uma história, muitas histórias: o processo
da educação das pessoas com deficiência no Brasil
e o CEESD
O CEESD - CENTRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL SÍNDROME DE
DOWN – vem construindo uma história inscrita no processo
de construção da educação e da educação
especial no Brasil.
Nesse processo, até as primeiras décadas do século
XX também a educação das pessoas com deficiência
não era vista pelo poder público com importância,
restando à iniciativa privada organizar e oferecer a esses indivíduos
os primeiros atendimentos em escolas. A primeira APAE - Associação
de Pais e Amigos dos Excepcionais, foi criada em dezembro de 1954, no
Rio de Janeiro, e assim como outros centros de educação
especial - a Sociedade Pestallozi, por exemplo - teve grande influência
no desenvolvimento da educação especial no Brasil. Entidades
com essas características foram, em sua maioria, criadas por pais
de pessoas com deficiência, o que historicamente foi de suma importância
para as mudanças ocorridas no atendimento educacional desses indivíduos.
Os governos federal e estadual somente assumiram a educação
das pessoas com deficiência após campanhas especialmente
voltadas para este fim. Em 1960, sob forte influência de movimentos
liderados pela Sociedade Pestalozzi e pelas APAES, foi instituída
a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação
de Deficientes Mentais – CADEME . O direito à educação
do educando com deficiência em instituições de ensino
regular, em caráter da ainda chamada “integração”,
surgiu com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
nº 4024/61. O artigo 88 deste documento legal afirma que sua educação
deveria, dentro do possível, adequar-se ao sistema geral de Educação.
A chamada “integração” era então definida
como a matrícula desses alunos em salas e/ou escolas especiais,
agrupados segundo sua deficiência, e separados dos demais, para
que, segundo essa concepção, fosse garantida sua educação.
Em 1994, a "Declaração de Salamanca" determinou,
entre outros aspectos, a necessidade de uma educação inclusiva.
Essa declaração foi resultado do encontro de representantes
governamentais de vários países, organizações
internacionais e organismos não-governamentais, com o objetivo
de promover campanha de educação para todos, reconhecendo
a necessidade e a urgência de ser o ensino oferecido a todas as
crianças, jovens e adultos com deficiência no sistema regular
de ensino. Também podemos ressaltar a “Declaração
de Caracas” (2002 ), que obrigou a validade dos direitos de igualdade
também para os portadores de necessidades especiais. No Japão,
a “Declaração de Saporo” (2002 ) foi fruto de
manifestos públicos com a participação de mais de
cem países.
Em 26 de maio de 1999, na Guatemala, foi aprovado pelo Conselho Permanente
para a Educação das Pessoas Portadoras de Deficiência,
a Convenção Interamericana para a Eliminação
de Todos as Formas da Discriminação Contra as Pessoas Portadores
de Deficiência. Essa Convenção sancionava qualquer
tipo de discriminação almejando, desta forma, uma plena
inclusão social, por meio do respeito às diferenças.
Em conseqüência, o Presidente da República Fernando
Henrique Cardoso promulgou, em 8 de outubro de 2001, aquela Convenção
no Brasil.
A Lei n° 9.394/96 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional atual, apresenta no capítulo V, artigo 58, os elementos
norteadores da educação das pessoas com deficiência:
Entende-se por educação especial, para os
efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores
de necessidades especiais".
§ 1º - Haverá, quando necessário, serviços
de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades
da clientela de educação especial.
§ 2º - O atendimento educacional será feito em classes,
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função
das condições específicas dos alunos, não
for possível a sua integração nas classes comuns
de ensino regular (LDB, 1996, art. 58).
Na “prática” porém, para que
qualquer lei se efetive, é necessário a conscientização
e a mudança de postura da sociedade e da comunidade educacional.
O estabelecimento de parcerias entre o poder público, as escolas
e os centros de educação especial para a qualificação
dos profissionais envolvidos e melhoria das condições de
produção das práticas educacionais e escolares ainda
são necessários para o atendimento da realidade política
e educacional do país.
Nesse contexto, o CEESD tem o objetivo de oferecer oportunidades às
pessoas com a síndrome de Down e de contribuir nos processos de
inclusão escolar. Como instituição filantrópica,
se mantém essencialmente de doações, responsáveis
por 75% da receita da instituição. A maioria das famílias
atendidas é de baixa renda, de Campinas e região. Somente
20% delas têm condições de contribuir com a instituição.
Fundado em Campinas, no ano de 1981, por uma associação
de pais e amigos, como a maioria das instituições do Brasil,
o objetivo primeiro era criar um lugar que pudesse “acolher”
os seus filhos de uma forma menos preconceituosa. Na época, a então
APAM (Associação de pais e amigos de Mongolóides)
não tinha a intenção de encaminhar as pessoas atendidas
para o ensino regular, e eles foram permanecendo na associação,
mesmo não sendo uma escola. Julgar como preconceituosa a intenção
dos pais nos parece algo muito simples, porque na época, poucos
se aventuravam a buscar a escolarização para seus filhos.
No ano de 1991 a APAM propôs a alteração de seu nome
por entendê-lo como pejorativo e, a partir daí, inicia-se
um processo de reflexão também sobre a função
da instituição que, em 1993, passa a chamar-se CEESD - Centro
de Educação Especial Síndrome de Down. Porém,
mesmo assim, continuamos a nos referir à instituição
como APAM e só com a eleição de uma nova diretoria,
em 1996, o nome CEESD definitivamente foi instituído, bem como
foram surgindo propostas educacionais integradoras e, pouco a pouco, outras
mais inclusivas.
Assim, o já então CEESD, passa a questionar o processo educacional
oferecido aos seus educandos e em meados de fevereiro de 1996 uma reunião
foi agendada por alguns profissionais da instituição com
a nova diretoria solicitando mudanças na proposta pedagógica,
pois o direito à escolarização formal deveria começar.
As mudanças se referiram ao encaminhamento de alguns educandos
do CEESD para o ensino regular. A diretoria se espantou e questionou afirmando
que as escolas e sociedade não estavam “preparadas”
para receber a pessoa com síndrome de Down, e o pequeno grupo de
profissionais argumentou que a imobilização diante dessa
realidade significava negar o direito à cidadania, porque todas
as pessoas já nascem livres e caberia àquela equipe começar
a dar suporte aos educandos e familiares no processo de integração,
concepção presente na época.
Não foi fácil, mas acreditamos que era possível e
no ano de 1998 começamos a encaminhar nossos educandos para o ensino
regular. Foi tarde? Talvez, mas reconhecer que é preciso começar
uma luta, já nos torna mais capazes de enfrentá-la. Esta
luta, foi abrindo novas concepções educacionais, fomos reconstruindo
nossos saberes, o que gerou a formação de um grupo de estudos
sobre alfabetização durante todo aquele ano. Desde então,
a formação profissional passou a ser essencial em nosso
cotidiano. O acesso de nossos educandos as escolas regulares foi, aos
poucos, se concretizando, e tomando lugar de destaque em nossas reflexões
e em nossa prática educacional, fazendo com que repensássemos
todo o nosso fazer pedagógico e terapêutico, constituindo-se,
para tanto, uma equipe interdisciplinar composta, atualmente, de trinta
e três profissionais, incluindo pedagogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos,
psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, monitores,
professores de educação física, arte, música
e dança, oferecendo atendimentos às pessoas com Síndrome
de Down - desde o nascimento até a idade adulta.
Como já era esperado, o número de educandos encaminhados
para o ensino regular foi aumentando a cada ano, como demonstra o quadro
abaixo:
Ano |
Número de usuários matriculados no CEESD |
Número de usuários que participam do projeto Inclusão
Escolar |
Número de usuários matriculados na Educação Infantil |
Número de usuários matriculados no Ensino Fundamental |
Número de usuários matriculados na EJA |
1998 |
60 |
08 |
02 |
06 |
-- |
1999 |
62 |
08 |
03 |
05 |
01 |
2000 |
63 |
08 |
03 |
05 |
01 |
2001 |
65 |
15 |
07 |
08 |
-- |
2002 |
67 |
19 |
09 |
10 |
-- |
2003 |
80 |
41 |
21 |
19 |
01 |
2004 |
90 |
48 |
20 |
25 |
03 |
2005 |
96 |
64 |
27 |
26 |
02 |
Atualmente,
o CEESD oferece os programas: estimulação precoce, inclusão
escolar e oficinas de habilidades específicas, e todos têm
educandos que estão no ensino regular da rede publica e em escolas
privadas.
1.1. Programa
Estimulação Precoce
O Programa
de Estimulação Precoce do CEESD é destinado à
crianças com síndrome de Down de zero a três anos
de idade. Sua criação deu-se à necessidade de atendimentos
especializados para crianças dessa faixa etária e à
falta de vagas nas demais instituições de Campinas e região.
Inicialmente os educandos recebiam atendimentos de fisioterapia, fonoaudiologia,
psicologia familiar e do serviço social,atualmente o programa conta
também com os atendimentos de terapia ocupacional e pedagogia,
este último iniciado em 2003 visando à inclusão escolar.
O objetivo geral do programa é, por meio da atuação
de equipe interdisciplinar, oferecer às crianças vivencias
e atividades que possibilitem o desenvolvimento de suas potencialidades
nas áreas motora, cognitiva, emocional, de fala e linguagem, atividades
de vida diária e de sociabilidade, além de orientações
e informações aos pais, possibilitando ao educando melhores
condições de inclusão familiar, social e escolar.
Buscando a efetivação da proposta, os atendimentos são
individuais e semanais, com a participação da família,
quando solicitada pelos profissionais. Na área de pedagogia, a
participação das famílias é condição
para a realização dos atendimentos.
Além dos atendimentos à criança, a equipe realiza
avaliações e encaminhamentos necessários ao seu desenvolvimento
como: levantamento de fatores familiares que podem interferir no aspecto
sócio-emocional da criança; encaminhamento para exames complementares
em neuropediatria, oftalmologia, otorrinolaringologia, cardiologia e outras
especialidades, quando necessário; visitas, orientações,
palestras para escolas, creches e demais entidades.
Além dessas, são ações do programa a realização
de reuniões semanais da equipe interdisciplinar com a presença
da coordenação e direção, com o objetivo de
discutir, encaminhar e socializar as informações a respeito
de cada educando e de sua família, bem como de reuniões
de pais com o objetivo de promover trocas de experiências, orientações
e informações sobre o desenvolvimento de cada educando.
Dentre os desafios deste programa, podemos destacar a aceitação
e desmistificação da síndrome de Down pela família,
freqüência nos atendimentos e falta de estrutura da rede de
saúde e educação.Vale ressaltar que os sucessos obtidos
neste programa são significativos e relevantes quanto ao desenvolvimento
global destas crianças tornando–as mais atuantes na sociedade.
Observa–se, ainda, uma família mais vinculada com seu filho
e com a instituição.
1.2. Programa
Inclusão Escolar
Acreditando que podemos e devemos contribuir para que a inclusão,
defendida em instâncias sociais e educacionais mais amplas, seja
efetiva também em nossa comunidade, o CEESD percebeu a necessidade
de investir em um novo paradigma de pensamento e de ação,
no sentido de incluir no ensino regular todos os educandos com Síndrome
de Down. O programa iniciou-se em 1998 e podemos constatar o número
crescente de educandos atendidos até o momento atual (2005).
O Programa Inclusão Escolar tem como objetivo: contribuir para
a permanência do educando com Síndrome de Down no ensino
regular, desenvolvendo estratégias que favoreçam o seu pleno
desenvolvimento, conscientizando, orientando e acompanhando as famílias
e estabelecendo parcerias com as escolas regulares (públicas e
privadas) dos educandos no processo de inclusão escolar. Nesse
sentido, algumas reflexões são necessárias:
Para a escola e os professores, habituados a uma determinada organização
e estruturação administrativa e pedagógica, muitas
vezes parece difícil pensar na inclusão do educando com
deficiência.Até mesmo para a família pode ser complicado
enfrentar essa situação, uma vez que as barreiras são
visíveis e difíceis de serem ultrapassadas, pois ainda hoje
há um descrédito quanto a importância da inclusão
escolar.
Para correção ou melhoria de tal situação,
objetivando amenizar as dificuldades e romper as barreiras pré-existentes,
seja no ambiente escolar, na vida familiar, ou na sociedade como um todo,
faz-se necessário que sejam eliminados os mecanismos e procedimentos
que dificultam a inclusão de todos na escola. É preciso
que se esclareça que, em tal perspectiva, defendemos o atendimento,
em escolas regulares de qualidade, às necessidades de todos os
educandos, com e sem deficiências. Porém, a inclusão
escolar do educando com deficiência ainda tem sido concebida como
um processo peculiar e, por essa razão, tem se tornado alvo de
controvérsias. Observa-se que, muitas vezes, nos discursos oficiais
e pedagógicos, a luta por uma educação de qualidade
para todos tem sido desfeita na discussão da inclusão escolar
como “algo diferente”, tarefa de alguns poucos “especialistas”
e “compreendedores”, o que tem contribuído para ampliar
as resistências.
O entendimento, já exposto, de que todo educando com deficiência
deva estar no ensino regular desde o início da escolarização
(para os educandos do CEESD orientamos a buscar o ensino regular a partir
dos quatro meses de idade, sendo que para a inserção no
Programa de Inclusão Escolar sua obrigatoriedade é a partir
dos três anos de idade), reflete o princípio que defendemos
- da inclusão e da não-segregação.
Assim, contribuindo com essa realização, o Programa Inclusão
Escolar do CEESD promove atendimentos em grupo e/ou individuais de fisioterapia,
fonoaudiologia, pedagogia, psicologia (para o educando e também
à família) e terapia ocupacional, determinados de acordo
com as necessidades dos educandos, com freqüência de duas vezes
por semana, no horário oposto da escola, em dias alternados, e
com duração de quarenta e cinco minutos cada.
Além dos atendimentos, são realizadas reuniões semanais
com a equipe de profissionais para discussão sobre o desenvolvimento
dos educandos e encaminhamentos necessários e também são
realizadas visitas às escolas pelas pedagogas e/ou outros profissionais
em casos específicos. As visitas visam a promover parcerias entre
as instituições, possibilitar reflexões conjuntas
e encaminhamentos das propostas relacionadas aos progressos, dificuldades
e dúvidas sobre o desenvolvimento escolar do educando, assim como
difundir informações e orientações e oportunizando
a queda de mitos, preconceitos relacionados a pessoa com Síndrome
de Down. São realizados também encontros periódicos
entre os profissionais do CEESD e do ensino regular, assim como com as
famílias dos educandos e comunidade, através de congressos,
debates, palestras e cursos, em parceria com o SECAP – Setor de
Capacitação Profissional do CEESD.
Em relação às famílias, são realizados
varias atividades a fim de promover o fortalecimento do vínculo
entre profissionais, educandos e familiares, através de: passeios,
atividades de lazer, grupos de famílias (com temas livres e/ou
referente a inclusão escolar e social) atendimentos terapêuticos,
reuniões trimestrais com os pais ou responsável para reflexões,
orientações, sugestões, etc.
Apesar de todo o trabalho desenvolvido ainda encontramos dificuldades
em efetivar concretamente a inclusão dos educandos com síndrome
de Down em função de nem sempre conseguirmos estabelecer
parcerias com algumas escolas do ensino regular e a compreensão
das famílias acerca da aprendizagem escolar de seus filhos.
1.3. Programa
Oficinas para desenvolvimento de habilidades específicas BENEDITO
VIEIRA
Esse Progama é dividido em duas modalidades de Oficinas que funcionam
em períodos opostos.
1-3.1Oficinas
Espaços Educacionais
Durante um grande período o trabalho do CEESD foi direcionado à
aquisição dos conceitos básicos como a fala e a linguagem,
coordenação motora global e fina, atividades de vida diária
(AVD), orientação espaço temporal e a aquisição
da leitura e escrita. . Após alguns anos vivenciando esta experiência,
observamos que o rendimento de alguns educandos não estava satisfatório.
Em 1998, preocupados com a sistematização das questões
relacionadas à alfabetização, formou-se um grupo
de estudos propiciando espaço para reflexões, discussões
referentes ao processo de alfabetização
Concomitantemente com as propostas de reflexões do CEESD o município
de Campinas, já discutia a prática inclusiva no ensino regular.
Tendo em vista que a alfabetização deveria ser de responsabilidade
do ensino regular, a instituição preocupou-se em buscar
novos caminhos para o desenvolvimento dos seus educandos.
Em 2003 direcionamos o trabalho de alfabetização enfatizando
temas da atualidade com o objetivo de estimular situações
educacionais e sociais que promovessem a construção da cidadania
da pessoa com síndrome de Down. efetivando a sua inclusão
na sociedade. Nos encontros com os pais, orientávamos as famílias
e responsável a matricular seus filhos na EJA (educação
de jovens e adultos) a fim de proporcionar a inclusão escolar e
social.
Em maio de 2005, uma proposta pedagógica mais dinâmica e
integrada foi revista por um grupo de profissionais ( formado por pedagogas,
psicóloga e fonoaudióloga), buscando a adequação
de atividades que realmente tivessem significados para os seus educandos..
Atualmente as salas de alfabetização passaram a chamar Oficinas
Espaços Educacionais.
Complementando e enriquecendo o projeto pedagógico, a instituição
estabeleceu parcerias com o CDI (Comitê para a Democratização
da Informática) do município de Campinas, inaugurando em
novembro de 2004 uma EIC ( Escola de Informática para a Cidadania)
em suas instalações.
Também oferecemos dentro da proposta, o Laboratório Expressivo,
que tem como responsável uma profissional da área de arte
educação. Seu objetivo é estimular de forma coletiva
e individualizada o interesse, a iniciativa e a criatividade, através
de diferentes vivências em linguagens artísticas.
Além dessas atividades, a educação esportiva integrada,
realizada pelo profissional de educação física, tem
como objetivo levar o educando à prática das atividades
físicas e recreativas, visando a melhora funcional corporal, estimulando
e desenvolvendo as suas potencialidades e a relação com
o meio.
Pensando na importância da comunicação para a inclusão
social e visando aumentar a funcionalidade da comunicação
oral dos educandos e auxiliando na organização do pensamento
e na estruturação sintática do discurso, a fonoaudiologia
desenvolve projeto utilizando como recurso a elaboração
oral e coletiva de pequenos textos sobre os conteúdos trabalhados,
possibilitando maior conhecimento do aparelho fonatório e, assim,
melhorando a fala enquanto mecanismo motor.
A psicologia também desempenha papel importante nas Oficinas Espaços
Educacionais, abordando as dificuldades sócio-emocionais que interferem
na qualidade do trabalho.
1.3.2. Oficinas
de mosaico, reciclagem, cartonagem e pintura em artesanato
Essas oficinas, que funcionam no período da tarde, são destinadas
à pessoas com mais de dezesseis anos onde se trabalham diferentes
linguagens. O objetivo principal é possibilitar aos educandos o
aprendizado e a execução de todas as etapas do trabalho
a serem desenvolvidos em cada oficina, que consiste de uma ordem seqüencial
a ser respeitada, visando sua independência e autonomia para aquisição
destas habilidades. Pretende-se também motivar a criatividade,
aumentar a concentração, melhorar a tolerância frente
a esta tarefa que exige cumprimento de etapas, desenvolver a responsabilidade
e postura diante do trabalho e estimular a sociabilidade e a cooperação
entre os colegas.
As oficinas também contam com outras atividades que vem complementar
o trabalho desenvolvido e que acontecem de quarta e sexta-feira são
elas: música e teatro, educação física global,
terapia ocupacional e um grupo de orientação sexual. È
objetivo desse trabalho:
Música: a função da música no trabalho pedagógico
é facilitar o processo de educação e ensino e produzir
“ferramentas” para expressão pessoal e interesse artístico.
Teatro: dentro de sua simplicidade estrutural, o teatro em essência
é uma atividade rica dos sentimentos humanos, é a vida do
“outro” mostrado em cena e o praticante deve se adequar para
representar e dar credibilidade ao seu ato.
Educação física global: tem como objetivo melhorar
a qualidade de vida do educando, buscando adequação de padrões
posturais através de atividades corporais.
Terapia ocupacional: neste grupo é trabalhado todo tipo de necessidade
do educando como por exemplo, coordenação motora fina (manuseio
da tesoura, recorte, uso correto de pinças, pincéis), AVDs
(atividade de vida diária), principalmente cuidados pessoais e
habilidade com o vestuário (botões, laços, nós
e zíperes), AVPs (atividade de vida prática).
Orientação Sexual: tem como principal objetivo orientar,
discutir e fornecer informações sobre a sexualidade, o que
contribui para a formação de uma auto-imagem positiva. Ao
promover a orientação sexual, o CEESD oferece aos jovens
possibilidades de pensarem em seus valores pessoais e sociais, de partilharem
suas preocupações e emoções e de respeitarem
o outro e a si mesmo, possibilitando a vivência da sexualidade de
forma prazerosa, adequada e responsável.
1.4. Projetos
do CEESD
Além dos programas já apresentados, o CEESD oferece projetos
como: SECAP, Espaço Cultural e Lúdico e Grupo de Famílias,
que complementam as ações dos programas. Dentre estes projetos,
destacamos:
1.4.1. Projeto
Trabalhando com Famílias
Este projeto proporciona atendimentos as famílias considerando
a importância dos pais como elemento facilitador da inclusão
social e escolar de seus filhos .
Ao chegar ao CEESD as famílias são atendidas primeiramente
pelo serviço social e psicologia onde é feita a entrevista
social e anamnese.
O serviço social visa melhorar através de ações
preventivas, educativas, participativas e transformadoras o compromisso
dos pais com a instituição refletindo assim na qualidade
de participação nos atendimentos do educando, a fim de desenvolver
um espaço comunitário estabelecendo um melhor vínculo
entre pais e filhos.
A família dos educandos do programa estimulação precoce
são atendidas pela psicologia semanalmente, individual ou em grupo.
Nos demais programas os atendimentos podem ocorrer individualmente e semanalmente
em grupo.
O trabalho em grupo busca melhorar o cotidiano das famílias em
relação aos seus filhos. Nesses grupos trabalha-se com temas
geradores de discussão previamente escolhido pelos participantes.
No ano de 2004, criou-se o grupo Diálogos Com a Arte, que atualmente
se chama Grupo de Artesanato que busca estimular a participação
das famílias através da vivencia de diferentes técnicas
de artesanato, proporcionando a troca de experiências revelando
e valorizando o potencial de cada participante, assim como a importância
do trabalho em grupo. Também objetiva proporcionar às mesmas
possibilidades de geração de renda.
Em 2005 criou-se o grupo de famílias para trabalhar exclusivamente
com o tema da inclusão escolar e social. Este tema movimenta questões
inquietantes no grupo familiar como por exemplo: sobre as possibilidades
de adaptação ou não do educando em determinados contextos
da vida na sociedade como é o caso da escola e mercado de trabalho.
As questões relacionadas à inclusão trazem aspectos
emocionais e comportamentais que estão freqüentemente associados
ao contexto escolar.
Neste trabalho podemos observar a dinâmica da família, suas
relações afetivas e características comportamentais,
alem de propiciar um espaço de real questionamento referente a
aprendizagem, os direitos e deveres.
Atualmente são oferecidos dois grupos que atendem em períodos
e horários diferentes para facilitar a participação
da família. Atualmente a equipe é composta por: assistente
social, pedagogas, psicólogos e arte-educadora..
1.4.2. Projeto
Espaço Cultural e Lúdico Zeca – Maria José
dos Santos Vieira.
Entre as ações do CEESD está o ESPAÇO CULTURAL
E LÚDICO “ZECA” - MARIA JOSÉ DOS SANTOS VIEIRA-,
constituído por brinquedoteca e biblioteca. A proposta do espaço
é oferecer o acesso aos materiais teóricos e vídeo-sonoros
sobre desenvolvimento e aprendizagem, entre outros temas, e também
brinquedos diversificados que contribuem para o desenvolvimento integral
de seus educandos.
1.4.3. Projeto estagiários e voluntários:
O objetivo do projeto é acolher e orientar voluntários e
estagiários com interesse em adquirir e trocar conhecimentos e
experiências colaborando com os princípios e compromissos
estabelecidos pelo CEESD.
1.4.4. Projeto
EIC – Escola de informática para a cidadania
Com o olhar ampliado para a inclusão social e para o mundo, e percebendo
a tecnologia permeando todas as áreas de atuação,
o CEESD em parceria com o Comitê para a Democratização
da Informática (CDI) do município de Campinas, inaugurou
em novembro de 2004 uma EIC em suas instalações.
Com intuito de se trabalhar a inclusão digital com a pessoa com
Síndrome de Down, e seus familiares, instrumentalizando-os com
um recurso capaz de potencializar suas habilidades, trabalhando assim
suas dificuldades, para que essas pessoas tenham maiores e melhores condições
de obter informações, construir conhecimentos e aprendizagens,
formar consciência crítica, melhorar a auto - estima, capacitando-as
para o mercado de trabalho informal e/ou formal e geração
de renda.
Assim entendemos que a EIC – Escola de Informática para a
Cidadania – proporciona ferramenta para uma transformação,
que muito favorece o perfil da pessoa com Síndrome de Down e sua
família, possibilitando emancipação social e digital.
Esse projeto tem como público alvo os usuários do CEESD,
a partir dos quatro(4) anos de idade, dos programas de Oficinas para o
Desenvolvimento de Habilidades Específicas e Inclusão Escolar
e membros do grupo familiar do projeto Trabalhando Famílias e encaminhadas
pelo setor de Assistência Social.
1.4.5. Grupo
Conexão 21
O nome Conexão, sugere integração (unir), assim como
numa rede. O número 21 corresponde ao século que estamos,
significando novos rumos, idéias e estratégias.
O objetivo principal do grupo, que envolve familiares, pais, voluntários
e profissionais é organizar eventos, colaborar com benfeitorias
da entidade, discussões das necessidades, avaliação
.............do trabalho, captação dos sócios e mobilização
para a participação de outros pais ou responsável.
1.4.6. Setor
de Capacitação Profissional – SECAP
É um projeto desenvolvido no CEESD desde maio de 2003, atualmente
é composto por terapeuta ocupacional e arte – educadora O
objetivo geral do mesmo é o de criar um espaço de formação
continuada com discussões e trocas, reunindo pesquisas e estudos
como referência na construção e execução
de projetos e ações, internas e externas à instituição,
que favoreçam a inclusão social e educacional da pessoa
com Síndrome de Down e sua família. Ainda, estimular o potencial
do profissional interno do CEESD, bem como o seu reconhecimento profissional
pela instituição, através de investimentos em cursos
de atualização.
2. Considerações
Finais
As considerações que este texto apresentam referem-se ao
desejo de que cada vez mais educandos com deficiência que estejam
no ensino regular, sejam efetivamente atendidos em suas necessidades escolares
– um direito de todos. O movimento em favor da inclusão social
e escolar, objetiva substituir os serviços educacionais segregadores.
Os grupos sociais e escolares precisam ser entendidos como espaços
inter-relacionais, formados por multiplicidade de aspectos e pela diversidade
humana, o que deve ser considerado no planejamento de propostas educacionais
e pedagógicas.
Como centro de educação especial, o CEESD nortea-se por
essa meta e, por isso, tem buscado cotidianamente a construção
de práticas inclusivas. Muito ainda está por ser feito,
mas muito já foi realizado – é o que nos indicam os
resultados positivos verificados em nossa sociedade. |
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