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  DA EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA A INCLUSÃO: A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS EDUCACIONAIS NÃO SEGREGADORES

Cássia Valéria Colhone
Elenir Santana Santana
Karen Toledo Solha
Ana Carolina de Souza
Carolina Cunha Barros
Cláudia Lima Duarte Cornélio
Elisabete Fernandes Pêra
Fábio Baptista Mazzini
Luciana C. Murari
Maria Cláudia Ferreira Corrêa
Maria Goreth de Lima Teixeira
Marina Santos Marchi
Maria de Lourdes Garcia
Roberta Sprocatti de Camargo
CEESD – CENTRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL SÍNDROME DE DOWN

Introdução
A inclusão social e escolar apresenta-se como uma das principais metas deste novo milênio. Amparada por força de lei, a idéia de uma sociedade e escola abertas à diversidade tem sido a tônica dos discursos atuais, a partir da constatação de que as necessidades contemporâneas pedem pela solidariedade, respeito às diferenças e mais sensibilidade aos problemas mundiais. Nesse sentido, é importante refletir sobre a função da educação, sobretudo quanto às concepções que têm determinado as práticas educacionais e escolares. Mais do que uma exigência legal, entendemos que a inclusão escolar deva ser parte de uma nova forma de viver e conviver e de um amplo projeto político e social. Mas, de que inclusão falamos?
Estar inserido nos diferentes grupos sociais é essencial à vida de toda pessoa, com algum tipo de deficiência ou não. É na convivência com os pares que as necessidades e potencialidades humanas se apresentam e as dificuldades são superadas. Porém, embora a educação de pessoas com deficiência tenha os mesmos objetivos da educação dos demais educandos, muito ainda precisa ser realizado para que a inclusão social e escolar se concretize. A solicitação de melhores condições de ensino, recursos materiais adequados e formação adequada dos professores, diz respeito à educação escolar de todos, mas a inclusão do educando com deficiência demanda rever concepções e práticas e a provisão de auxílios e apoio educacional necessários à sua escolarização, no que representa contribuição significativa os atendimentos, projetos e programas dos centros de educação especial, como o CEESD. Nossa proposta de inclusão foi construída a partir de uma história que, envolvendo educandos, familiares, profissionais, escolas e outros grupos, substituiu uma estrutura de escola especial em prol da educação inclusiva de seus educandos. Com a missão de atender pessoas com síndrome de Down e famílias, o CEESD tem o compromisso de ampliar a concepção da inclusão oferecendo, por meio de diferentes linguagens, atendimentos diversificados e interdisciplinares, momentos de capacitação, trabalho com famílias e com as escolas regulares. É nessa perspectiva, baseada no princípio da não segregação e no respeito às diferenças, que se constrói e se fortalece a inclusão social e escolar que defendemos.

1. Uma história, muitas histórias: o processo da educação das pessoas com deficiência no Brasil e o CEESD
O CEESD - CENTRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL SÍNDROME DE DOWN – vem construindo uma história inscrita no processo de construção da educação e da educação especial no Brasil.
Nesse processo, até as primeiras décadas do século XX também a educação das pessoas com deficiência não era vista pelo poder público com importância, restando à iniciativa privada organizar e oferecer a esses indivíduos os primeiros atendimentos em escolas. A primeira APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, foi criada em dezembro de 1954, no Rio de Janeiro, e assim como outros centros de educação especial - a Sociedade Pestallozi, por exemplo - teve grande influência no desenvolvimento da educação especial no Brasil. Entidades com essas características foram, em sua maioria, criadas por pais de pessoas com deficiência, o que historicamente foi de suma importância para as mudanças ocorridas no atendimento educacional desses indivíduos.
Os governos federal e estadual somente assumiram a educação das pessoas com deficiência após campanhas especialmente voltadas para este fim. Em 1960, sob forte influência de movimentos liderados pela Sociedade Pestalozzi e pelas APAES, foi instituída a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais – CADEME . O direito à educação do educando com deficiência em instituições de ensino regular, em caráter da ainda chamada “integração”, surgiu com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4024/61. O artigo 88 deste documento legal afirma que sua educação deveria, dentro do possível, adequar-se ao sistema geral de Educação. A chamada “integração” era então definida como a matrícula desses alunos em salas e/ou escolas especiais, agrupados segundo sua deficiência, e separados dos demais, para que, segundo essa concepção, fosse garantida sua educação.
Em 1994, a "Declaração de Salamanca" determinou, entre outros aspectos, a necessidade de uma educação inclusiva. Essa declaração foi resultado do encontro de representantes governamentais de vários países, organizações internacionais e organismos não-governamentais, com o objetivo de promover campanha de educação para todos, reconhecendo a necessidade e a urgência de ser o ensino oferecido a todas as crianças, jovens e adultos com deficiência no sistema regular de ensino. Também podemos ressaltar a “Declaração de Caracas” (2002 ), que obrigou a validade dos direitos de igualdade também para os portadores de necessidades especiais. No Japão, a “Declaração de Saporo” (2002 ) foi fruto de manifestos públicos com a participação de mais de cem países.
Em 26 de maio de 1999, na Guatemala, foi aprovado pelo Conselho Permanente para a Educação das Pessoas Portadoras de Deficiência, a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todos as Formas da Discriminação Contra as Pessoas Portadores de Deficiência. Essa Convenção sancionava qualquer tipo de discriminação almejando, desta forma, uma plena inclusão social, por meio do respeito às diferenças. Em conseqüência, o Presidente da República Fernando Henrique Cardoso promulgou, em 8 de outubro de 2001, aquela Convenção no Brasil.
A Lei n° 9.394/96 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional atual, apresenta no capítulo V, artigo 58, os elementos norteadores da educação das pessoas com deficiência:

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais".
§ 1º - Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º - O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular (LDB, 1996, art. 58).

Na “prática” porém, para que qualquer lei se efetive, é necessário a conscientização e a mudança de postura da sociedade e da comunidade educacional. O estabelecimento de parcerias entre o poder público, as escolas e os centros de educação especial para a qualificação dos profissionais envolvidos e melhoria das condições de produção das práticas educacionais e escolares ainda são necessários para o atendimento da realidade política e educacional do país.
Nesse contexto, o CEESD tem o objetivo de oferecer oportunidades às pessoas com a síndrome de Down e de contribuir nos processos de inclusão escolar. Como instituição filantrópica, se mantém essencialmente de doações, responsáveis por 75% da receita da instituição. A maioria das famílias atendidas é de baixa renda, de Campinas e região. Somente 20% delas têm condições de contribuir com a instituição.
Fundado em Campinas, no ano de 1981, por uma associação de pais e amigos, como a maioria das instituições do Brasil, o objetivo primeiro era criar um lugar que pudesse “acolher” os seus filhos de uma forma menos preconceituosa. Na época, a então APAM (Associação de pais e amigos de Mongolóides) não tinha a intenção de encaminhar as pessoas atendidas para o ensino regular, e eles foram permanecendo na associação, mesmo não sendo uma escola. Julgar como preconceituosa a intenção dos pais nos parece algo muito simples, porque na época, poucos se aventuravam a buscar a escolarização para seus filhos.
No ano de 1991 a APAM propôs a alteração de seu nome por entendê-lo como pejorativo e, a partir daí, inicia-se um processo de reflexão também sobre a função da instituição que, em 1993, passa a chamar-se CEESD - Centro de Educação Especial Síndrome de Down. Porém, mesmo assim, continuamos a nos referir à instituição como APAM e só com a eleição de uma nova diretoria, em 1996, o nome CEESD definitivamente foi instituído, bem como foram surgindo propostas educacionais integradoras e, pouco a pouco, outras mais inclusivas.
Assim, o já então CEESD, passa a questionar o processo educacional oferecido aos seus educandos e em meados de fevereiro de 1996 uma reunião foi agendada por alguns profissionais da instituição com a nova diretoria solicitando mudanças na proposta pedagógica, pois o direito à escolarização formal deveria começar. As mudanças se referiram ao encaminhamento de alguns educandos do CEESD para o ensino regular. A diretoria se espantou e questionou afirmando que as escolas e sociedade não estavam “preparadas” para receber a pessoa com síndrome de Down, e o pequeno grupo de profissionais argumentou que a imobilização diante dessa realidade significava negar o direito à cidadania, porque todas as pessoas já nascem livres e caberia àquela equipe começar a dar suporte aos educandos e familiares no processo de integração, concepção presente na época.
Não foi fácil, mas acreditamos que era possível e no ano de 1998 começamos a encaminhar nossos educandos para o ensino regular. Foi tarde? Talvez, mas reconhecer que é preciso começar uma luta, já nos torna mais capazes de enfrentá-la. Esta luta, foi abrindo novas concepções educacionais, fomos reconstruindo nossos saberes, o que gerou a formação de um grupo de estudos sobre alfabetização durante todo aquele ano. Desde então, a formação profissional passou a ser essencial em nosso cotidiano. O acesso de nossos educandos as escolas regulares foi, aos poucos, se concretizando, e tomando lugar de destaque em nossas reflexões e em nossa prática educacional, fazendo com que repensássemos todo o nosso fazer pedagógico e terapêutico, constituindo-se, para tanto, uma equipe interdisciplinar composta, atualmente, de trinta e três profissionais, incluindo pedagogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, monitores, professores de educação física, arte, música e dança, oferecendo atendimentos às pessoas com Síndrome de Down - desde o nascimento até a idade adulta.
Como já era esperado, o número de educandos encaminhados para o ensino regular foi aumentando a cada ano, como demonstra o quadro abaixo:

Ano

Número de usuários matriculados no CEESD

Número de usuários que participam do projeto Inclusão Escolar

Número de usuários matriculados na Educação Infantil

Número de usuários matriculados no Ensino Fundamental

Número de usuários matriculados na EJA

1998

60

08

02

06

--

1999

62

08

03

05

01

2000

63

08

03

05

01

2001

65

15

07

08

--

2002

67

19

09

10

--

2003

80

41

21

19

01

2004

90

48

20

25

03

2005

96

64

27

26

02

Atualmente, o CEESD oferece os programas: estimulação precoce, inclusão escolar e oficinas de habilidades específicas, e todos têm educandos que estão no ensino regular da rede publica e em escolas privadas.

1.1. Programa Estimulação Precoce

O Programa de Estimulação Precoce do CEESD é destinado à crianças com síndrome de Down de zero a três anos de idade. Sua criação deu-se à necessidade de atendimentos especializados para crianças dessa faixa etária e à falta de vagas nas demais instituições de Campinas e região.
Inicialmente os educandos recebiam atendimentos de fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia familiar e do serviço social,atualmente o programa conta também com os atendimentos de terapia ocupacional e pedagogia, este último iniciado em 2003 visando à inclusão escolar.
O objetivo geral do programa é, por meio da atuação de equipe interdisciplinar, oferecer às crianças vivencias e atividades que possibilitem o desenvolvimento de suas potencialidades nas áreas motora, cognitiva, emocional, de fala e linguagem, atividades de vida diária e de sociabilidade, além de orientações e informações aos pais, possibilitando ao educando melhores condições de inclusão familiar, social e escolar.
Buscando a efetivação da proposta, os atendimentos são individuais e semanais, com a participação da família, quando solicitada pelos profissionais. Na área de pedagogia, a participação das famílias é condição para a realização dos atendimentos.
Além dos atendimentos à criança, a equipe realiza avaliações e encaminhamentos necessários ao seu desenvolvimento como: levantamento de fatores familiares que podem interferir no aspecto sócio-emocional da criança; encaminhamento para exames complementares em neuropediatria, oftalmologia, otorrinolaringologia, cardiologia e outras especialidades, quando necessário; visitas, orientações, palestras para escolas, creches e demais entidades.
Além dessas, são ações do programa a realização de reuniões semanais da equipe interdisciplinar com a presença da coordenação e direção, com o objetivo de discutir, encaminhar e socializar as informações a respeito de cada educando e de sua família, bem como de reuniões de pais com o objetivo de promover trocas de experiências, orientações e informações sobre o desenvolvimento de cada educando.
Dentre os desafios deste programa, podemos destacar a aceitação e desmistificação da síndrome de Down pela família, freqüência nos atendimentos e falta de estrutura da rede de saúde e educação.Vale ressaltar que os sucessos obtidos neste programa são significativos e relevantes quanto ao desenvolvimento global destas crianças tornando–as mais atuantes na sociedade. Observa–se, ainda, uma família mais vinculada com seu filho e com a instituição.

1.2. Programa Inclusão Escolar
Acreditando que podemos e devemos contribuir para que a inclusão, defendida em instâncias sociais e educacionais mais amplas, seja efetiva também em nossa comunidade, o CEESD percebeu a necessidade de investir em um novo paradigma de pensamento e de ação, no sentido de incluir no ensino regular todos os educandos com Síndrome de Down. O programa iniciou-se em 1998 e podemos constatar o número crescente de educandos atendidos até o momento atual (2005).
O Programa Inclusão Escolar tem como objetivo: contribuir para a permanência do educando com Síndrome de Down no ensino regular, desenvolvendo estratégias que favoreçam o seu pleno desenvolvimento, conscientizando, orientando e acompanhando as famílias e estabelecendo parcerias com as escolas regulares (públicas e privadas) dos educandos no processo de inclusão escolar. Nesse sentido, algumas reflexões são necessárias:
Para a escola e os professores, habituados a uma determinada organização e estruturação administrativa e pedagógica, muitas vezes parece difícil pensar na inclusão do educando com deficiência.Até mesmo para a família pode ser complicado enfrentar essa situação, uma vez que as barreiras são visíveis e difíceis de serem ultrapassadas, pois ainda hoje há um descrédito quanto a importância da inclusão escolar.
Para correção ou melhoria de tal situação, objetivando amenizar as dificuldades e romper as barreiras pré-existentes, seja no ambiente escolar, na vida familiar, ou na sociedade como um todo, faz-se necessário que sejam eliminados os mecanismos e procedimentos que dificultam a inclusão de todos na escola. É preciso que se esclareça que, em tal perspectiva, defendemos o atendimento, em escolas regulares de qualidade, às necessidades de todos os educandos, com e sem deficiências. Porém, a inclusão escolar do educando com deficiência ainda tem sido concebida como um processo peculiar e, por essa razão, tem se tornado alvo de controvérsias. Observa-se que, muitas vezes, nos discursos oficiais e pedagógicos, a luta por uma educação de qualidade para todos tem sido desfeita na discussão da inclusão escolar como “algo diferente”, tarefa de alguns poucos “especialistas” e “compreendedores”, o que tem contribuído para ampliar as resistências.
O entendimento, já exposto, de que todo educando com deficiência deva estar no ensino regular desde o início da escolarização (para os educandos do CEESD orientamos a buscar o ensino regular a partir dos quatro meses de idade, sendo que para a inserção no Programa de Inclusão Escolar sua obrigatoriedade é a partir dos três anos de idade), reflete o princípio que defendemos - da inclusão e da não-segregação.
Assim, contribuindo com essa realização, o Programa Inclusão Escolar do CEESD promove atendimentos em grupo e/ou individuais de fisioterapia, fonoaudiologia, pedagogia, psicologia (para o educando e também à família) e terapia ocupacional, determinados de acordo com as necessidades dos educandos, com freqüência de duas vezes por semana, no horário oposto da escola, em dias alternados, e com duração de quarenta e cinco minutos cada.
Além dos atendimentos, são realizadas reuniões semanais com a equipe de profissionais para discussão sobre o desenvolvimento dos educandos e encaminhamentos necessários e também são realizadas visitas às escolas pelas pedagogas e/ou outros profissionais em casos específicos. As visitas visam a promover parcerias entre as instituições, possibilitar reflexões conjuntas e encaminhamentos das propostas relacionadas aos progressos, dificuldades e dúvidas sobre o desenvolvimento escolar do educando, assim como difundir informações e orientações e oportunizando a queda de mitos, preconceitos relacionados a pessoa com Síndrome de Down. São realizados também encontros periódicos entre os profissionais do CEESD e do ensino regular, assim como com as famílias dos educandos e comunidade, através de congressos, debates, palestras e cursos, em parceria com o SECAP – Setor de Capacitação Profissional do CEESD.
Em relação às famílias, são realizados varias atividades a fim de promover o fortalecimento do vínculo entre profissionais, educandos e familiares, através de: passeios, atividades de lazer, grupos de famílias (com temas livres e/ou referente a inclusão escolar e social) atendimentos terapêuticos, reuniões trimestrais com os pais ou responsável para reflexões, orientações, sugestões, etc.
Apesar de todo o trabalho desenvolvido ainda encontramos dificuldades em efetivar concretamente a inclusão dos educandos com síndrome de Down em função de nem sempre conseguirmos estabelecer parcerias com algumas escolas do ensino regular e a compreensão das famílias acerca da aprendizagem escolar de seus filhos.

1.3. Programa Oficinas para desenvolvimento de habilidades específicas BENEDITO VIEIRA
Esse Progama é dividido em duas modalidades de Oficinas que funcionam em períodos opostos.

1-3.1Oficinas Espaços Educacionais
Durante um grande período o trabalho do CEESD foi direcionado à aquisição dos conceitos básicos como a fala e a linguagem, coordenação motora global e fina, atividades de vida diária (AVD), orientação espaço temporal e a aquisição da leitura e escrita. . Após alguns anos vivenciando esta experiência, observamos que o rendimento de alguns educandos não estava satisfatório.
Em 1998, preocupados com a sistematização das questões relacionadas à alfabetização, formou-se um grupo de estudos propiciando espaço para reflexões, discussões referentes ao processo de alfabetização
Concomitantemente com as propostas de reflexões do CEESD o município de Campinas, já discutia a prática inclusiva no ensino regular. Tendo em vista que a alfabetização deveria ser de responsabilidade do ensino regular, a instituição preocupou-se em buscar novos caminhos para o desenvolvimento dos seus educandos.
Em 2003 direcionamos o trabalho de alfabetização enfatizando temas da atualidade com o objetivo de estimular situações educacionais e sociais que promovessem a construção da cidadania da pessoa com síndrome de Down. efetivando a sua inclusão na sociedade. Nos encontros com os pais, orientávamos as famílias e responsável a matricular seus filhos na EJA (educação de jovens e adultos) a fim de proporcionar a inclusão escolar e social.
Em maio de 2005, uma proposta pedagógica mais dinâmica e integrada foi revista por um grupo de profissionais ( formado por pedagogas, psicóloga e fonoaudióloga), buscando a adequação de atividades que realmente tivessem significados para os seus educandos.. Atualmente as salas de alfabetização passaram a chamar Oficinas Espaços Educacionais.
Complementando e enriquecendo o projeto pedagógico, a instituição estabeleceu parcerias com o CDI (Comitê para a Democratização da Informática) do município de Campinas, inaugurando em novembro de 2004 uma EIC ( Escola de Informática para a Cidadania) em suas instalações.
Também oferecemos dentro da proposta, o Laboratório Expressivo, que tem como responsável uma profissional da área de arte educação. Seu objetivo é estimular de forma coletiva e individualizada o interesse, a iniciativa e a criatividade, através de diferentes vivências em linguagens artísticas.
Além dessas atividades, a educação esportiva integrada, realizada pelo profissional de educação física, tem como objetivo levar o educando à prática das atividades físicas e recreativas, visando a melhora funcional corporal, estimulando e desenvolvendo as suas potencialidades e a relação com o meio.
Pensando na importância da comunicação para a inclusão social e visando aumentar a funcionalidade da comunicação oral dos educandos e auxiliando na organização do pensamento e na estruturação sintática do discurso, a fonoaudiologia desenvolve projeto utilizando como recurso a elaboração oral e coletiva de pequenos textos sobre os conteúdos trabalhados, possibilitando maior conhecimento do aparelho fonatório e, assim, melhorando a fala enquanto mecanismo motor.
A psicologia também desempenha papel importante nas Oficinas Espaços Educacionais, abordando as dificuldades sócio-emocionais que interferem na qualidade do trabalho.

1.3.2. Oficinas de mosaico, reciclagem, cartonagem e pintura em artesanato
Essas oficinas, que funcionam no período da tarde, são destinadas à pessoas com mais de dezesseis anos onde se trabalham diferentes linguagens. O objetivo principal é possibilitar aos educandos o aprendizado e a execução de todas as etapas do trabalho a serem desenvolvidos em cada oficina, que consiste de uma ordem seqüencial a ser respeitada, visando sua independência e autonomia para aquisição destas habilidades. Pretende-se também motivar a criatividade, aumentar a concentração, melhorar a tolerância frente a esta tarefa que exige cumprimento de etapas, desenvolver a responsabilidade e postura diante do trabalho e estimular a sociabilidade e a cooperação entre os colegas.
As oficinas também contam com outras atividades que vem complementar o trabalho desenvolvido e que acontecem de quarta e sexta-feira são elas: música e teatro, educação física global, terapia ocupacional e um grupo de orientação sexual. È objetivo desse trabalho:
Música: a função da música no trabalho pedagógico é facilitar o processo de educação e ensino e produzir “ferramentas” para expressão pessoal e interesse artístico.
Teatro: dentro de sua simplicidade estrutural, o teatro em essência é uma atividade rica dos sentimentos humanos, é a vida do “outro” mostrado em cena e o praticante deve se adequar para representar e dar credibilidade ao seu ato.
Educação física global: tem como objetivo melhorar a qualidade de vida do educando, buscando adequação de padrões posturais através de atividades corporais.
Terapia ocupacional: neste grupo é trabalhado todo tipo de necessidade do educando como por exemplo, coordenação motora fina (manuseio da tesoura, recorte, uso correto de pinças, pincéis), AVDs (atividade de vida diária), principalmente cuidados pessoais e habilidade com o vestuário (botões, laços, nós e zíperes), AVPs (atividade de vida prática).
Orientação Sexual: tem como principal objetivo orientar, discutir e fornecer informações sobre a sexualidade, o que contribui para a formação de uma auto-imagem positiva. Ao promover a orientação sexual, o CEESD oferece aos jovens possibilidades de pensarem em seus valores pessoais e sociais, de partilharem suas preocupações e emoções e de respeitarem o outro e a si mesmo, possibilitando a vivência da sexualidade de forma prazerosa, adequada e responsável.

1.4. Projetos do CEESD
Além dos programas já apresentados, o CEESD oferece projetos como: SECAP, Espaço Cultural e Lúdico e Grupo de Famílias, que complementam as ações dos programas. Dentre estes projetos, destacamos:

1.4.1. Projeto Trabalhando com Famílias
Este projeto proporciona atendimentos as famílias considerando a importância dos pais como elemento facilitador da inclusão social e escolar de seus filhos .
Ao chegar ao CEESD as famílias são atendidas primeiramente pelo serviço social e psicologia onde é feita a entrevista social e anamnese.
O serviço social visa melhorar através de ações preventivas, educativas, participativas e transformadoras o compromisso dos pais com a instituição refletindo assim na qualidade de participação nos atendimentos do educando, a fim de desenvolver um espaço comunitário estabelecendo um melhor vínculo entre pais e filhos.
A família dos educandos do programa estimulação precoce são atendidas pela psicologia semanalmente, individual ou em grupo. Nos demais programas os atendimentos podem ocorrer individualmente e semanalmente em grupo.
O trabalho em grupo busca melhorar o cotidiano das famílias em relação aos seus filhos. Nesses grupos trabalha-se com temas geradores de discussão previamente escolhido pelos participantes.
No ano de 2004, criou-se o grupo Diálogos Com a Arte, que atualmente se chama Grupo de Artesanato que busca estimular a participação das famílias através da vivencia de diferentes técnicas de artesanato, proporcionando a troca de experiências revelando e valorizando o potencial de cada participante, assim como a importância do trabalho em grupo. Também objetiva proporcionar às mesmas possibilidades de geração de renda.
Em 2005 criou-se o grupo de famílias para trabalhar exclusivamente com o tema da inclusão escolar e social. Este tema movimenta questões inquietantes no grupo familiar como por exemplo: sobre as possibilidades de adaptação ou não do educando em determinados contextos da vida na sociedade como é o caso da escola e mercado de trabalho.
As questões relacionadas à inclusão trazem aspectos emocionais e comportamentais que estão freqüentemente associados ao contexto escolar.
Neste trabalho podemos observar a dinâmica da família, suas relações afetivas e características comportamentais, alem de propiciar um espaço de real questionamento referente a aprendizagem, os direitos e deveres.
Atualmente são oferecidos dois grupos que atendem em períodos e horários diferentes para facilitar a participação da família. Atualmente a equipe é composta por: assistente social, pedagogas, psicólogos e arte-educadora..

1.4.2. Projeto Espaço Cultural e Lúdico Zeca – Maria José dos Santos Vieira.
Entre as ações do CEESD está o ESPAÇO CULTURAL E LÚDICO “ZECA” - MARIA JOSÉ DOS SANTOS VIEIRA-, constituído por brinquedoteca e biblioteca. A proposta do espaço é oferecer o acesso aos materiais teóricos e vídeo-sonoros sobre desenvolvimento e aprendizagem, entre outros temas, e também brinquedos diversificados que contribuem para o desenvolvimento integral de seus educandos.


1.4.3. Projeto estagiários e voluntários:
O objetivo do projeto é acolher e orientar voluntários e estagiários com interesse em adquirir e trocar conhecimentos e experiências colaborando com os princípios e compromissos estabelecidos pelo CEESD.

1.4.4. Projeto EIC – Escola de informática para a cidadania
Com o olhar ampliado para a inclusão social e para o mundo, e percebendo a tecnologia permeando todas as áreas de atuação, o CEESD em parceria com o Comitê para a Democratização da Informática (CDI) do município de Campinas, inaugurou em novembro de 2004 uma EIC em suas instalações.
Com intuito de se trabalhar a inclusão digital com a pessoa com Síndrome de Down, e seus familiares, instrumentalizando-os com um recurso capaz de potencializar suas habilidades, trabalhando assim suas dificuldades, para que essas pessoas tenham maiores e melhores condições de obter informações, construir conhecimentos e aprendizagens, formar consciência crítica, melhorar a auto - estima, capacitando-as para o mercado de trabalho informal e/ou formal e geração de renda.
Assim entendemos que a EIC – Escola de Informática para a Cidadania – proporciona ferramenta para uma transformação, que muito favorece o perfil da pessoa com Síndrome de Down e sua família, possibilitando emancipação social e digital.
Esse projeto tem como público alvo os usuários do CEESD, a partir dos quatro(4) anos de idade, dos programas de Oficinas para o Desenvolvimento de Habilidades Específicas e Inclusão Escolar e membros do grupo familiar do projeto Trabalhando Famílias e encaminhadas pelo setor de Assistência Social.

1.4.5. Grupo Conexão 21
O nome Conexão, sugere integração (unir), assim como numa rede. O número 21 corresponde ao século que estamos, significando novos rumos, idéias e estratégias.
O objetivo principal do grupo, que envolve familiares, pais, voluntários e profissionais é organizar eventos, colaborar com benfeitorias da entidade, discussões das necessidades, avaliação .............do trabalho, captação dos sócios e mobilização para a participação de outros pais ou responsável.

1.4.6. Setor de Capacitação Profissional – SECAP
É um projeto desenvolvido no CEESD desde maio de 2003, atualmente é composto por terapeuta ocupacional e arte – educadora O objetivo geral do mesmo é o de criar um espaço de formação continuada com discussões e trocas, reunindo pesquisas e estudos como referência na construção e execução de projetos e ações, internas e externas à instituição, que favoreçam a inclusão social e educacional da pessoa com Síndrome de Down e sua família. Ainda, estimular o potencial do profissional interno do CEESD, bem como o seu reconhecimento profissional pela instituição, através de investimentos em cursos de atualização.

2. Considerações Finais
As considerações que este texto apresentam referem-se ao desejo de que cada vez mais educandos com deficiência que estejam no ensino regular, sejam efetivamente atendidos em suas necessidades escolares – um direito de todos. O movimento em favor da inclusão social e escolar, objetiva substituir os serviços educacionais segregadores.
Os grupos sociais e escolares precisam ser entendidos como espaços inter-relacionais, formados por multiplicidade de aspectos e pela diversidade humana, o que deve ser considerado no planejamento de propostas educacionais e pedagógicas.
Como centro de educação especial, o CEESD nortea-se por essa meta e, por isso, tem buscado cotidianamente a construção de práticas inclusivas. Muito ainda está por ser feito, mas muito já foi realizado – é o que nos indicam os resultados positivos verificados em nossa sociedade.

 
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