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  O DISCURSO DO RAP: RUPTURAS E PERMANÊNCIAS

Geyza R. O. N. Vidon - Universidade Vale do Rio Verde - UNINCOR

“O ingresso dos fatos estéticos no domínio da análise semiótica vem exigindo da teoria uma progressiva revisão conceitual. As oposições exclusivas, os esquemas canônicos de geração e transformação do discurso e todos os dispositivos gramaticais, muitas vezes suficientes para a descrição das manifestações lingüísticas, revelam-se pouco adequados ou mesmo inoperantes quando os ‘sentidos’ e as ‘emoções’ em jogo são provenientes de um filme, de uma peça teatral ou de uma canção popular. Há que se encontrar meios de abordar também as sensações contínuas, as relações participativas e as energias envolvidas em todos os fatos produzidos e interpretados pelo homem.”

(Luiz Tatit – Musicando a semiótica)

1- INTRODUÇÃO

A contemporaneidade tem, já há algum tempo, despertado um interesse teórico pelo discurso e pela cultura de grupos marginalizados. Muitas vezes, esses grupos rompem com os padrões lingüístico-discursivos estabelecidos por uma elite cultural. O movimento Rap parece se configurar como um desses grupos, cuja forma cultural vai de encontro aos padrões considerados canônicos. Mais do que isso, os rappers demonstram uma consciência muito grande, não só em relação à classe a que pertencem, mas também à importância da palavra, da linguagem, do discurso, enfim. Esta parece ser uma questão valiosa. A palavra negada outrora é retomada, ganha força e intenção na voz dos mano e das mina firmeza.

(...) quando se afina o olhar, mesmo no relativo silêncio da escrita acadêmica, pode-se flagrar os indícios dos passos e ecos das vozes quase inaudíveis de outras gentes. E entre estas estão as do povo negro. Chegando mais perto, pode-se perceber mesmo que tal presença é ruidosa. (Azevedo e Silva IN: Andrade, 1999: 66)

Este trabalho pretende adentrar neste espaço, que é rico em diversos aspectos, fazendo uma análise, em caráter preliminar, de como essa palavra é retomada, como ela ganha força e quais as intenções, explicitadas ou não, do movimento. Algumas questões servem de ponto de partida para a análise pretendida: Quais as influências recebidas pelo movimento? O que aproxima e o que distancia o movimento de outros já existentes? O que se pode ler-ver-ouvir nas entrelinhas do Rap? Para responder a essas perguntas, está sendo constituído um corpus inicial de trabalho composto de algumas músicas de grupos paulistas de Rap. A intenção é dialogar com esse corpus através de teóricos como Benjamin (apud. Gagnebin, 1999), Foucault (1996 [1970]) e Bakhtin (1992 [1929]). No presente trabalho, porém, será apenas possível esboçar superficialmente algumas intuições, a respeito do corpus em questão, que podem vir a ser trabalhadas como hipóteses.

2- ORIGENS DO MOVIMENTO

Segundo Hernandes (s/d), o Rap – abreviatura de Rhythm and Poetry - nasceu na Jamaica nos anos 50, tendo chegado ao Brasil através do break, por volta de 1983. Na verdade, o Rap faz parte de um movimento maior, a cultura hip-hop, e vem se desenvolvendo desde os primeiros discos surgidos em 1986. Atualmente a maioria das suas letras constituem um discurso social de protesto, com temas relacionados à vida da periferia, à violência sofrida pela população pobre e, sobretudo, negra (cf. Oliveira, 1999).

Conforme Regina Mariaca, em matéria publicada na revista Planeta Hip-Hop, nº1/2005, o termo hip-hop foi estabelecido por volta de 1968, pelo negro Afrika Bambaataa, inspirado na forma de dançar mais popular da época: saltar (hop), movimentando os quadris (Hip).

A exemplo de grandes líderes negros como Martin Luther King e Malcom X, bem como de grupos que lutavam pelos direitos humanos, como os Panteras Negras, representantes da sociedade marginalizada nova-iorquina no final da década de 60 se organizaram para fazer valer suas propostas de inclusão social, surgindo assim o hip-hop, que fazia as pessoas do gueto dançarem músicas de sua própria autoria intituladas ‘raps’. Estas músicas eram (e continuam sendo) compostas de letras de alto teor político-social e de base musical dançante seguidas de rimas faladas.

Reunindo música (rap, DJ, MC), dança (Street dance/break) e artes plásticas (Grafite), artistas que representavam essa sociedade marginalizada criaram o movimento hip-hop ou a cultura hip-hop. Conforme Mariaca (2005), o Break representa o corpo através da dança, o MC (Mestre de Cerimônia) é a consciência, o cérebro do hip-hop, o DJ (Disc Jockey) é a essência, a alma, a raiz e o Grafite (desenhos, pinturas em murais) é expressão da arte, o meio de comunicação.

Segundo Andrade (1999:86), “a origem do hip hop (...) sempre teve em sua proposta inicial a Paz. Ele foi criado e continua com o mesmo propósito: canalizar energias que poderiam estar voltadas à criminalidade centralizando-as na produção artística.” O break, segundo ela, originalmente foi criado para que o dançarino tentasse reproduzir através de sua dança o corpo debilitado dos soldados que voltavam da Guerra do Vietnã. Deste modo, os jovens acreditavam poder protestar contra a guerra e exigir a paz.

O MC é o mestre de cerimônia. É através dele que as letras de rap alcançam os nossos ouvidos.

O DJ(disc jockey) é o responsável pelas mixagens, ou seja, ele é a pessoa que comanda o som.

O grafite (pintura) surgiu a princípio como forma de demarcação de territórios dos guetos nova-iorquinos, posteriormente, essas fronteiras foram rompidas e essa arte passou a fazer parte de espaços não demarcados por um gueto específico.

No grafite a intenção era e ainda é a de protestar através de seus desenhos o repúdio pelas mais diversas formas de opressão

O rap talvez seja o elemento mais forte do movimento hip hop, tanto nacional quanto internacionalmente; é através dele que o movimento realmente ganha voz e expressão.

No Brasil, essa cultura chegou mesmo no início da década de 80 através das equipes de bailes, das revistas e dos discos vendidos até hoje na rua e na galeria 24 de Maio, centro de São Paulo. (id. ibid.)

O movimento hip-hop e o rap, mais especificamente, atingem hoje as várias regiões do Brasil, como mostra a letra da música Julgamento, interpretada pelo grupo Face da Morte, de São Paulo. Neste trabalho, entretanto, a fim de delimitarmos um corpus de análise específico, serão analisadas duas letras de raps paulistas. Uma das músicas – Pacto, do grupo Expressão Ativa - foi selecionada a partir da coletânea de cds Espaço Rap, lançada periodicamente pela rádio 105 FM, especializada no gênero. A outra - Vida Louca I, dos Racionais MC’s – foi escolhida do cd Nada como um dia após o outro, lançado por esse grupo em 2002. Tanto Pacto quanto Vida Louca I são músicas que estão entre as mais tocadas dentro da programação da 105 FM. O grupo Racionais MC’s é, sem dúvida, a grande referência do rap paulista, bem como o maior expoente nacional do gênero na atualidade. Edy Rock, Ice Blue, KLJ e Mano Brown, membros do grupo, foram criados em Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, uma das regiões mais violentas da Capital. Ao contrário dos Racionais, o grupo Expressão Ativa parece estar buscando ainda seu espaço, com um estilo que parece se distanciar do estilo dos Racionais. No entanto, é possível perceber em ambos características semelhantes, como a forma de diálogo direto, representando (mimeticamente) contextos explícitos de fala e o uso recorrente de Deus como interlocutor maior, a quem parece no fundo se dirigir a própria fala do rapper. Sobre esses dois aspectos é que pretendo me deter especificamente nesse trabalho.

3- O ESTILO INTERLOCUTIVO DO RAP

Em geral, as letras de rap são narrativas de cunho exemplar baseadas no cotidiano de uma comunidade que vive à margem da sociedade. Nessas narrativas, em geral, narradores e personagens interagem com objetivos específicos. A forma dessa interação, no entanto, não são ações que se desenvolvem ao longo de um tempo, mas interlocuções a respeito de certos temas, como drogas, caso de Pacto, e inveja, caso de Vida Louca I. [ver as letras, na íntegra, em anexo].

A linguagem é intencionalmente marcada por traços da oralidade e do cotidiano da vida na periferia. Nesse sentido, para adentrar na interpretação de suas letras, é preciso conhecer as gírias, os signos, enfim, a linguagem normalmente usada nesse contexto. Para exemplificar o que acabo de dizer, observemos os trechos abaixo retirados da letra Pacto.

“Um isqueiro um cachimbo e uma pedra o menino acendeu”

“Eu também quero queimar uma guimba, cheirar uma coca...”

“Mistura farinha, maconha, pedrinha, o estômago entoja”

[a letra, na íntegra, se encontra em anexo]

Expressões como guimba, farinha, pedrinha, nesse contexto, têm sentido muito específico pois representam muito bem a identidade buscada por essas pessoas que vivem marginalizadas e despersonalizadas por uma elite social e cultural. Através dessas expressões, essas pessoas se tornam sujeitos que participam de um movimento que busca a sua própria subjetividade, a subjetividade do gueto, da sua comunidade, ou seja, subjetividade compartilhada. A voz do rap é uma voz subjetiva enquanto estilo e coletiva enquanto classe.

Poderíamos analisar o rap à luz foucaultiana, considerando o discurso condicionado aos aparelhos sociais formadores e controladores, tais como as instituições, as disciplinas, as ideologias políticas, religiosas, filosóficas etc., uma vez que observamos o seu caráter de formação e busca de identificação com um grupo que, apesar de estar à margem, social e culturalmente, tem consciência de sua situação marginal e deseja romper com as barreiras que o cercam, que o afastam da inclusão social e cultural. Porém, percebemos traços que aproximam o discurso do rap de estudos bakhtinianos e benvenistianos, segundo os quais os sujeitos não são o tempo todo assujeitados às condições sócio-históricas e posições que ocupam dentro de determinadas conjunturas. Ao contrário, o discurso do rap mostra ser um discurso de sujeitos conscientes e que usam a linguagem como meio para romper as amarras que o poder sócio-político-econômico-cultural lhes impõe.

Segundo Benveniste (1995 [1966]: 289),

“a linguagem é, pois, a possibilidade da subjetividade, pelo fato de conter sempre as formas lingüísticas apropriadas à sua expressão; e o discurso provoca a emergência da subjetividade...”

4- DISCURSO COLETIVO E DIÁLOGO INTERIOR

Os rappers parecem expressar a sua subjetividade através dessa forma mais dialogada, em discurso direto, colocando em cena, enunciativamente, como diria Ducrot (1987), personagens do universo da periferia. Esses personagens tomam a palavra e discursam sobre suas histórias, seus problemas, suas angústias. Esse discurso, no entanto, claramente, não tem origem em um só locutor, em uma só personagem dessa trama montada pelo texto. São várias vozes que estão em diálogo constante. Trata-se, assim, de um discurso coletivo.

Em Pacto podemos perceber isso muito bem. O discurso inicia com uma voz geral que logo é incorporada a outra voz mais particularizada que se dirige diretamente a um amigo:

Um isqueiro um cachimbo e uma pedra o menino acendeu

La se vai sua inocência a delinqüência agora o dominou

Amigo, eu não acreditei ao te ver assim

Você é só mais um dos muitos que morrem em vão

pensando ser ladrão com um tiro no coração

Essa relação dinâmica e dialética entre um interlocutor mais generalizado e um interlocutor mais personalizado pode ser salientada pelo uso do pronome você, na 4a linha dessa estrofe. Ao mesmo tempo em que se refere ao amigo da 3a linha, o você tem um sentido mais generalizado, indeterminado, referindo-se não a um ser específico mas a um ser indeterminado. Pragmaticamente, conforme Benveniste (id. ibid.), o você trata-se de um dêitico, isto é, elemento que recebe sua referência diretamente do contexto social e histórico ao qual está subordinado.

O tempo todo, portanto, essa letra parece representar um diálogo entre amigos. Ao mesmo tempo, também, os locutores se dirigem a um interlocutor específico e a outro mais generalizado, identificado, porém, como esse interlocutor específico, o amigo:

Volta...

E lembra da nossa infância, lembra de Deus

Um pacto sagrado que você e eu juramos só amar nosso Deus

Mais o tempo não para menino não pensa amigo que cresceu

E se esqueceu de Deus

O pacto foi quebrado eu vi o moleque bem louco

Ligado o maluco se pá

Ele já não pensa

Suas idéias já não constam

Seus amigos se afastam

Ele não sorri

Se os nóias te chamarem não vá

Resgata sua vida sai fora

Não num caminho triste

Não vá a a, não vá

Em Vida Louca I também é possível descrever a mesma forma de representação dialógica. A música se inicia com Mano Brown falando ao telefone celular com um amigo, perguntando a ele o que havia acontecido com o pai e como ele estava.

No entanto, interrompendo abruptamente esse diálogo exterior, é iniciado um diálogo interiorizado, Brown consigo mesmo, que lembra o estilo psicologizante atribuído pela crítica literária a autores como Virgínia Woolf e, entre nós, Clarice Lispector, por exemplo.

Fé em Deus que ele é justo ei irmão nunca se esqueça na guarda guerreiro levanta a cabeça truta, onde estiver seja lá como for tenha Fé, porque até no lixão nasce Flor óre por nós Pastor lembra da gente no culto dessa noite firmão segue quente adimiro os crente, da licença aqui mó função mó tabela, hô, desculpa aí eu me, sinto as vezes meio bah inseguro que nem um vira-lata sem Fé no futuro vem alguém lá quem é quem quem será meu bom, dá meu brinquedo de furar moleton porque os bico que me vê com os trutas na balada tenta ver quer saber de mim não vê nada porque, a confiança é uma mulher ingrata que te beija e te abraça, te rouba e te mata desacreditar, nem pensar só na dela se uma mosca ameaçar, me catar piso nela o bico deu mó guela hó, rico e bandidão vou em casa na missão e tromba na Cohab de camisa larga vai saber Deus que sabe qual é a maldade comigo inimigo no migué tocou a campainha plim pra tramar meu fim dois maluco armado sim um isqueiro e o estopim pronto pra chamar minha Preta pra falar que eu comi a mina dele ha, se ela tava lá vadia mentirosa nunca vi deu mó fáia espirito do mal cão, de buceta e saia talarico nunca fui e é o seguinte ando certo pelo certo como Dez e Dez é Vinte já pensou doido e se eu tô com meu filho no sofá de vacilo desarmado era aquilo sem culpa e sem chance, nem pra abrir a boca ia nessa sem saber, você vê, vida louca

Nesse ponto da música, o fluxo do pensamento do locutor é interrompido e se estabelece novamente o diálogo exteriorizado entre Brown e o amigo [Ver Letra em Anexo – PAUSA]. Vê-se, claramente, nesse instante da música, a diferença entre o fluxo externo vivido pela personagem Brown e o fluxo interno de seu pensamento. Semelhantemente a Auerbach (“A meia marron”, in: Mimeses, 1976), em sua análise de Virgínia Woolf,

“(...) Trata-se, preponderantemente, de movimentos internos, isto é, de movimentos que se realizam na consciência das personagens; e não somente de personagens que participam do processo externo, mas também de não-participantes, e até de personagens que, no momento, nem estão presentes: people, Mr. Bankes. Simultaneamente, introduzem-se ainda acontecimentos como que secundários, exteriores, de lugares e tempos totalmente diferentes – como a conversa telefônica, os trabalhos de construção – que servem de andaime para os movimentos nas consciências das terceiras pessoas.” (p. 477)

“(...) um cenário anteriormente abandonado torna a aparecer, repentinamente e com tal falta de transição, como se nunca tivesse sido abandonda, como se a longa interrupção só fosse um olhar, lançado por alguém (quem?) a partir dele na direção das profundezas do tempo.” (p. 481)

5- CONCLUSÃO: O DIÁLOGO COM DEUS

O movimento rap parece dialeticamente ser um movimento no qual se rompe, avança, transgride, discursiva e culturalmente, mas, ao mesmo tempo, resgata questões já por outros tão exploradas. Ao usar expressões tão típicas do seu meio, ele transgride e rompe com as barreiras lingüísticas (inclusive as literárias) e discursivas oficiais, institucionais (cf. Foucault (1996), Pêcheux (1969), por exemplo). No entanto, ao utilizar o discurso direto – de caráter exemplar -, ele nos remete aos narradores tradicionais (cf. Benjamin). Esses narradores têm representação empírica porque ao contar uma história fazem com que ela se aproxime do real, já que o narrador se faz presente nela e assim seu relato ganha um aspecto de relato autêntico.

Por outro lado, mesmo em grupos com estilos bem distintos como o Expressão Ativa e os Racionais MC’s, objetos de análise deste trabalho, é possível perceber em suas letras um discurso polifônico em que o narrador-personagem interage com outras vozes físicas e metafísicas. As letras sempre apresentam, além de um diálogo com um interlocutor fisiológico e psicológico, um diálogo com o divino. A figura de Deus é marcante nas músicas, como se ele fosse verdadeiramente o único capaz de entender o drama dos marginalizados, talvez a única razão pela qual os “guerreiros de fé” deveriam se unir e lutar (Vida Louca I) e/ou “o único motivo pelo qual estamos vivos” (Pacto). Nesse sentido, é comum este paralelo do físico com o metafísico. O movimento parece, assim, se colocar numa função de missionários da paz, mesmo que para alcançá-la seja necessário lutar. Daí, talvez, a explicação por estar sempre se remetendo à figura de Deus, que representa, para os Rappers, o verdadeiro juiz, o único capaz de julgar suas ações.

Parece se justificar, assim, o processo dialético entre rupturas e permanências no Rap.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Andrade, E. .Nunes (org) Rap e educação rap é educação- São Paulo: Summuns,1999.

Azevedo e Silva IN: Andrade,1999:66. Os sons que vêm das ruas

Auerbach, E. “A meia marrom”. In: Mimesis. São Paulo: Perspectiva, 1976.

Bakhtin, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992.

Benveniste, E. “Da subjetividade na língua”. In: Problemas de lingüística geral II. Campinas: Pontes, 1989.

Ducrot, O. “Teoria polifônica da enunciação”. In: O dizer e o dito. Campinas, SP: Pontes, 1987.

Foucault, M. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996.

Gagnebin, J-M. História e narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva, 1996.

Hernandes, N. "Minha palavra é um tiro" - O discurso dos Racionais MC's no CD "Sobrevivendo no inferno". (doutorando; Universidade de São Paulo; Semiótica; FAPESP) Orientadora: Diana Luz Pessoa de Barros (USP) s/d.

Mariaca, R Decifrando esse planeta hip hop .Revista planeta hip hop collection. São Paulo,2005

Oliveira, Sílvia Cristina de. Para uma análise sociossemiótica do discurso presente no texto da música rap. Tese de doutorado – FFLCH/USP, 1999.

Pêcheux, M. “Análise automática do discurso (AAD – 69)”. In: Gadet, F e Hak, T. Por uma análise automática do discurso – uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1997.

CDs:

RACIONAIS MC’S (2002) Nada como um dia após o outro dia. Gravadora Zâmbia. São Paulo.

EXPRESSÃO ATIVA (2003) Dinastia. “É nóis na fita” Produções. Jundiaí, SP

ANEXOS


PACTO – Expressão Ativa (MPXIII)


Um esqueiro um cachimbo e uma pedra o menino acendeu
La se vai sua inocência a delinqüência agora o dominou
Amigo, eu não acreditei ao te ver assim
Você é só mais um dos muitos que morrem em vão
pensando ser ladrão com um tiro no coração

Volta...
E lembra da nossa infância, lembra de Deus
Um pacto sagrado que você e eu juramos só amar nosso Deus
Mais o tempo não para menino não pensa amigo que cresceu
E se esqueceu de Deus
O pacto foi quebrado eu vi o moleque bem louco
Ligado o maluco se pá
Ele já não pensa
Suas idéias já não constam
Seus amigos se afastam
Ele não sorri
Se os nóias te chamarem não vá
Resgata sua vida sai fora
Não num caminho triste
Não vá a a, não vá

Que tal se falarmos de Deus que não deve ser esquecido
A verdade, o motivo, a razão pelo qual antes estamos vivos
Não vire não de as costas não baixe a sua cabeça
Agindo desta forma mostrará sua fraqueza

O dominado viciado escravo da droga
Entrou em embalo vacilou pensando que era moda
Talvez um dia tenha sido hoje é obsessão
O maluco viaja naquela overdose até estourar a veia
do seu coração


Procuro a solução eu quero sobreviver
Eu também quero queimar uma guiba, cheirar uma coca
Não consigo me conter
Você se lembra quando me dizia
Cuida da sua vida e vê se deixa a minha

Vida? Que vida é essa irmão? Vida de cão
Vira - lata caminha sozinho na noite aqui sem dono na escuridão
Correndo atras de pó e fugindo do cleck pá
Você assim causa dó mas não quer se tocar

Que a noite esta te acabando e sua vida só começou
Te ofereceram a morte e você abraçou
Se esqueceu do nome de Deus contrariou seus princípios
Pra você cair no abismo não foi nada difícil

Se atolou se afogou no beco sujo do vicio
Endividado até o pescoço não pagou desde o inicio
Mistura farinha, maconha, pedrinha, o estômago entoja
Seus olhos se afundam como a sua cova

Volta...

VIDA LOUCA I – RACIONAIS MC’S


Fé em Deus que ele é justo ei irmão nunca se esqueça na guarda guerreiro levanta a cabeça truta, onde estiver seja lá como for tenha Fé, porque até no lixão nasce Flor óre por nós Pastor lembra da gente no culto dessa noite firmão segue quente adimiro os crente, da liscença aqui mó função mó tabela, hô, desculpa aí eu me, sinto as vezes meio bah inseguro que nem um vira-lata sem Fé no futuro vem alguém lá quem é quem quem será meu bom, dá meu brinquedo de furar moleton porque os bico que me vê com os trutas na balada tenta ver quer saber de mim não vê nada porque, a confiança é uma mulher ingrata que te beija e te abraça, te rouba e te mata desacreditar, nem pensar só na dela se uma mosca ameaçar, me catar piso nela o bico deu mó guela hó, rico e bandidão vou em casa na missão e tromba na Cohab de camisa larga vai saber Deus que sabe qual é a maldade comigo inimigo no migué tocou a campainha plim pra tramar meu fim dois maluco armado sim um isqueiro e o estopim pronto pra chamar minha Preta pra falar que eu comi a mina dele ha, se ela tava lá vadia mentirosa nunca vi deu mó fáia espirito do mal cão, de buceta e saia talarico nunca fui e é o seguinte ando certo pelo certo como Dez e Dez é Vinte já pensou doido e se eu tô com meu filho no sofá de vacilo desarmado era aquilo sem culpa e sem chance, nem pra abrir a boca ia nessa sem saber, você vê, vida louca

[PAUSA]

Mas na rua né não até Jack, tem quem passe um pano impostor Pedi Black, passa por malandro a inveja existe, e a cada 10 Cinco é na maldade a mãe dos pecado capital é a vaidade mas, se é pra resolver, se envolver vai meu nome e eu vou, fazer o que se cadeia é pra homem malandrão eu, não, ninguém é bobo se quer guerra, terás se quer PAZ quero em dobro mas ver ver verme, é o que é rastejando no chão, sempre embaixo do pé e fala Uma Duas vez se marcar até Três na Quarta, cheque-mate, que nem no Xadrez eu sou guerreiro no RAP sempre em alta voltagem Um por Um Deus por nós tô aqui de passagem vida louca, eu não tenho dom pra vitima justiça e liberdade, a causa é legítima meu RAP faz o cantigo dos louco e dos romantico vô por um sorriso de criança aonde for pros parceiros, tenho a oferecer minha presença talvez até confusa mas leal e intensa meu melhor Marvin Gaye Sabadão na marginal o que será será, é nós vamô até o final liga eu, liga nós, onde preciso for no paraiso ou no dia do juiz e o pastor e liga eu e os irmão é o ponto que eu peço Favela, Fundão imortal nos meus versos vida louca


 
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